Trata-se do segundo maior orçamento do RH em uma empresa e uma das principais, senão a principal, causas de dor de cabeça de muitos gestores da área. Quando se fala em saúde no mundo corporativo, há sempre uma busca ávida por ações que ajudem a manter os custos com os benefícios ligados a ela em patamares aceitáveis. Para auxiliar o gestor de recursos humanos nessa tarefa, MELHOR ouviu especialistas das principais consultorias e corretoras ligadas a esse segmento – e dessas conversas apresentamos alguns conselhos para não deixar que a saúde vire um problema em sua empresa.
Saber usar o plano
O uso racional do plano de saúde é uma das principais orientações. O comportamento incorreto do funcionário na hora de acessar a rede credenciada pode gerar mais custos para a empresa. Alguns especialistas sugerem, nesse caso, campanhas explicativas sobre o assunto, bem como orientações que traduzam o impacto da má utilização da assistência médica. Um caminho é explicar o impacto da sinistralidade: vale perguntar ao funcionário o que aconteceria na renovação do seguro do carro dele se ele tivesse batido o veículo. Provavelmente, ele perderia o bônus e pagaria mais. É mais ou menos isso o que acontece no plano de saúde. Nessa comunicação, vale destacar, ainda, que os custos médicos são reajustados por uma inflação própria, elevada, e que representam, hoje, o segundo maior orçamento da empresa com pessoas (perdendo apenas para a folha de pagamento).
Mapear pessoas e problemas
Saiba quem é quem. Busque conhecer as patologias de maior impacto, traçando um perfil epidemiológico da população de sua companhia, de forma a identificar possíveis problemas decorrentes de absenteísmo e da improdutividade. As informações provenientes desse mapeamento ajudam a investir melhor na comunicação e na depuração das necessidades básicas dessas pessoas. Alguns especialistas sugerem dividir os trabalhadores em grupos verde, amarelo e vermelho.
O primeiro é composto por pessoas saudáveis e que se preocupam com a saúde. Geralmente, usam o plano de saúde de forma preventiva. No grupo amarelo estão os profissionais que apresentam algum sinal de patologia crônica em função da má qualidade de vida, sedentarismo, obesidade ou doenças hereditárias. Esse grupo, em geral, utiliza o plano com uma frequência acima da média. Finalmente, no grupo vermelho estão as pessoas que já apresentam um quadro efetivo de alguma doença, necessitando de tratamentos intensivos e de alto custo, trazendo despesas extras para a empresa e que irão impactar fortemente o nível de sinistralidade do benefício saúde, causando reajustes de preço bem acima da média.
Integrar melhor os dados
Contar com a ajuda de empresas especializadas em programas de monitoramento e gestão de saúde pode ser uma boa alternativa para quem deseja manter os custos com saúde em dia. Essas companhias contam com know-how e tecnologia para esse serviço. E por falar em tecnologia, ela pode ajudar bastante nas seguintes frentes: integrar os dados das utilizações dos planos pelos colaboradores e seus familiares; criar conectividade entre os beneficiários, prestadores de serviços e a operadora do plano de saúde; fornecer, on-line, indicadores gerenciais para acompanhamento e gestão do benefício em tempo real.
Por meio dessa integração das informações torna-se possível implantar os programas mais adequados às necessidades de cada um dos grupos de colaboradores descritos acima, tais como: atenção à obesidade, ao diabetes e a outras doenças crônicas; antitabagismo; programa nutricional; redução do sedentarismo; entre outros. Isso contribui para transformar o investimento em saúde na redução da sinistralidade, no aumento da satisfação dos colaboradores e da produtividade.
O papel de cada um
Depois de monitorar a saúde da população assistida, é importante implantar programas que consigam mudar o comportamento das pessoas e suas atitudes frente aos riscos já identificados. Para alguns especialistas, esse processo deve contemplar, de preferência, a mensuração dos resultados dessas iniciativas em relação à melhoria da saúde da população, assim como do retorno financeiro para as empresas. Além disso, estimule ações preventivas que ajudem as pessoas a assumir o controle de sua própria saúde e as encoraje a melhorar a sua qualidade de vida e invista no alinhamento das melhores condutas e práticas de preservação e promoção de saúde do colaborador, na organização e fora dela – proporcionar facilidade de acesso aos medicamentos por meio de um programa para isso e atrelar melhoras de condições de saúde a parte de bônus são alguns exemplos.
Ponto estratégico
Não bastam apenas ações que promovam a saúde e que reduzam o absenteísmo e o presenteísmo para aumentar a produtividade. Segundo os especialistas entrevistados, outras medidas são fundamentais para colocar o tema saúde como parte da estratégia organizacional:
> Substituir os conceitos de assistencialismo e clientelismo pelo ajuste de ações e condutas responsáveis que reduzam os níveis de passivo associado à aplicação do benefício e identifiquem a organização como organismo envolvido com a saúde da comunidade.
> Demonstrar o impacto dos custos do absenteísmo, do presenteísmo e, principalmente, da sinistralidade no resultado final da empresa. Mostrar, de forma numérica e objetiva, esse impacto é um passo importante para tangibilizar a importância desse benefício.
> Criar indicadores próprios que ajudem a materializar a saúde nas empresas. Esses índices devem ser precisos, por exemplo: qual é o IMC da organização? E o nível de sedentarismo?
> É possível criar um “bônus saúde”, que envolve programas de qualidade de vida atrelados à utilização do plano de saúde. Se a empresa atingir seu objetivo (metas) e o funcionário também, ele teria seu bônus.
Fontes consultadas: Fábio de Souza Abreu, presidente executivo da Axismed; Marília Ehl Barbosa, diretora superintendente da Asap; Nagib Raduan, fundador do Grupo Raduan; Paulo René Soares, presidente executivo da Abet; Raul Nechar, vice-presidente da Aon; e Ricardo Salvador Lopes, diretor da unidade de consultoria e gestão de benefícios da Propay