Dorival Donadão é consultor em gestão e desenvolvimento humano / Crédito: Divulgação |
Em recente debate com profissionais de Recursos Humanos, surgiu a recorrente discussão sobre o fenômeno que recebeu o rótulo de geração Y. Esse assunto vem sendo abordado há uns três ou quatro anos. No entanto, qualquer debate sobre o tema parece mais do mesmo, opiniões requentadas, um verdadeiro disco furado, tocando uma música antiga, um rock dos anos 50.
Uma legião de debatedores defende a oxigenação dos ambientes empresariais que esses jovens ansiosos e criativos acabaram forçando. Por essa abordagem, o efeito dos Ys é altamente benéfico porque cria desconforto na burocracia modorrenta das empresas e provoca a retirada dos baby boomers e da geração X de suas zonas de conforto. Os jovens Y são verdadeiros agentes de mudança, surrupiando um papel que nós, profissionais do RH, sempre clamamos aos céus empresariais que deveria ser nosso. Mas dormimos no ponto e a bandeira da mudança trocou de porta-bandeira.
Outro segmento tem opinião diferente e classifica os Ys como impacientes e precipitados na ânsia de progressão rápida da carreira, que não temem mudar de empresa quando não são atendidos em sua velocidade de aspirações e daí por diante.
Onde está a razão? Nem lá, nem cá… Os jovens representam um fato novo no mundo corporativo, já acostumado a chamá-los de estagiários e a não ter peso na consciência em confiná-los na máquina de xerox ou em serviços operacionais de baixa relevância.
O cenário começou a mudar quando aconteceu o boom dos programas de trainees, há cerca de 25 anos, com o processo de seleção hiper-rigoroso e a classificação dos talentos que estabeleceriam um novo patamar de relações nas organizações, entre os veteranos e a mocidade. Com essa mudança rápida, as políticas, diretrizes e o modelo mental das corporações não tiveram tempo para absorver o impacto e dar respostas conciliatórias a esse movimento.
Sobram razões para a defesa da tese de que os jovens, rebeldes sem causa aparente, chacoalham os ambientes acomodados das organizações. Mas também faz sentido o “pé-atrás” com a glamourização excessiva desse movimento, colocando os Ys em um papel que nem eles próprios têm consciência e competência para desempenhar.
Algumas vezes presenciamos decisões precoces das organizações. A consequência, não raro, é uma decepção tão intensa quanto a empolgação com o brilho aparente do jovem talento. A prudência recomenda dar tempo ao tempo. Dar oportunidade de carreira à geração Y, sem esquecer que capacidade de trabalho e competência de liderar são atributos complexos que requerem uma dose razoável de experiência, o direito de ousar e errar, a maturidade que não precisa ter relação direta com a idade cronológica, mas com a prontidão dos profissionais que aprendem a lidar com as adversidades. Vamos aprender a conviver com a geração Y e tudo de bom que ela representa. Mas vamos, também, aprender a excluir os excessos e os clichês que acompanham esse movimento.