Eugenio Mussak é professor da FIA, consultor e autor / Crédito: Divulgação |
Uma teoria popular diz que todas as respostas existem a priori, o que falta são boas perguntas. Há alguma lógica nesse pensamento. Quem já participou de uma reunião na empresa deve ter notado que aquele que faz as perguntas mais pertinentes costuma ser o condutor dela, cabendo aos demais elaborar as respostas. Essa seria a função do líder. Mais do que ter todas as respostas, fazer as perguntas certas.
Encontrar o centro geométrico de uma questão qualquer é a maneira de interpretar, entender, resolver e decidir. Só que, ainda que não pareça, fazer isso tem lá suas dificuldades. Leva tempo. Você já participou daquela brincadeira juvenil de descobrir quem é o personagem imaginado pelo outro, que fica respondendo apenas “sim” e “não”? Quem descobrir com menos perguntas ganha o jogo.
Pois há técnica para encontrar a pista, fazendo as perguntas certas na ordem certa. O ideal é começar pelas mais genéricas, tipo “É homem?” ou “Está vivo?”, antes de tentar descobrir a profissão ou a nacionalidade. Os bons jogadores dificilmente passam de meia dúzia de perguntas para acertar em cheio.
Pois na vida também é assim. Entrevistadores de candidatos a emprego, executivos em processos de negociação e, claro, advogados e promotores nos tribunais são especialistas em fazer a pergunta certa, aquela cuja resposta será definitivamente esclarecedora.
O tema da pergunta certa é muito sutil e, em geral, passa ao largo de nossa atenção, pois se trata de algo aparentemente óbvio. Mas não é. Gasta-se muita energia com interlocuções que não chegam a lugar nenhum, simplesmente porque alguém faz uma pergunta errada e ela desvia totalmente o rumo da conversa. Pense um pouco, já aconteceu com você.
Pode parecer exagero, mas existe uma organização sediada em Cambridge, EUA, que foi criada exatamente para estimular que se façam as perguntas certas nas atividades onde isso é crucial para que os bons resultados sejam alcançados, como a gestão, a educação e a política. Trata-se do Right Question Institute (Instituto da Pergunta Certa), cujo nome não podia ser mais assertivo, pois tem como missão promover o uso de estratégias simples, poderosas, baseadas em evidências, que ajudam as pessoas a aprender, decidir e realizar.
A ideia do RQI não começou num laboratório ou a partir de um estudo acadêmico. Começou com um programa de prevenção de abandono escolar, durante o qual se notou que os pais dos alunos que não se envolviam na educação de seus filhos justificavam sua ausência dizendo que “nem sabiam o que perguntar a eles”. Um dos instrumentos criados pelo RQI é o Framework for accountable decision-making (estrutura para tomada de decisão responsável) que passou a ser adotado por escolas e empresas.
É, a coisa é séria. Tão séria que os pesquisadores notaram uma correlação direta entre a capacidade das pessoas de fazerem perguntas certas e, pasme, a instalação e manutenção dos Estados democráticos. Cidadãos que não permitem que se tape o sol com a peneira, e que fazem a seus representantes no governo as perguntas que interessam, não se deixam enganar, reivindicam seus direitos e são mais colaborativos. Poderia haver maior poder para a pergunta certa?