Terceira maior cidade do agreste pernambucano, Santa Cruz do Capibaribe é a maior produtora de confecções daquele estado e, segundo estimativas do Senai, é um dos maiores polos do segmento no Brasil. Principal ponto de escoamento e vendas de confecções de Pernambuco, que com Toritama e Caruaru formam o destacado triângulo das confecções, a cidade abriga uma das melhores empresas para trabalhar do país, a Rota do Mar.
Criada em 1996, ela fabrica roupas para o segmento de surfe e street wear. Com ações arrojadas de marketing, combinadas com a qualidade de seus produtos e preços competitivos, a empresa espera atingir o objetivo de ser a maior e melhor empresa de surf e street wear do Brasil. Para tanto, investe no relacionamento com seus colaboradores.
A missão, visão e valores da empresa são lembrados em todas as reuniões mensais de cada setor, todos os funcionários conhecem o planejamento anual, as metas a serem atingidas no ano e as que foram atingidas no ano passado. Isso reforça a responsabilidade de cada um para que possa atingir o planejado, “jogando junto” em uma equipe.
Em caso de dúvida, basta falar com o presidente da empresa, Arnaldo Xavier, ou qualquer um dos demais diretores. Essa proximidade com os principais líderes e transparência nos objetivos ajudam a fortalecer a credibilidade no ambiente e na gestão da companhia, o que torna a Rota do Mar um dos destaques deste ano na lista das melhores práticas das melhores empresas para trabalhar feita pelo Great Place to Work (GPTW) para a revista Melhor RH.
“A credibilidade não é construída da noite para o dia. Somos contrários a histórias bonitas com objetivos de mascarar a real intencionalidade. Acredito que é isso que traz confiança para todos os níveis”, afirma Ezequias de Souza, diretor de gestão de pessoas e colaborador da companhia. O resultado é um ambiente em que a equipe se sente confiante, valorizada e motivada. As práticas adotadas na Rota do Mar já estão servindo como guia para a gestão de empresas da região, uma postura reconhecidamente positiva, sobretudo pelo fato de a cidade ter sido apontada, por um estudo recente realizado pelo Sebrae-PE, como a líder regional do setor de confecção do Polo de Confecções do Agreste.
Bom ambiente de trabalho
Em sua 8ª edição, a lista apresenta 15 empresas que sobressaem por suas práticas em 23 categorias (veja quadro). E destaca, ainda, alguns pontos importantes para o RH, como conta Ruy Shiozawa, CEO do GPTW. “O segredo para a construção de um excelente ambiente de trabalho está em criar uma cultura de confiança. Da mesma forma que nas relações familiares e pessoais, a confiança garante velocidade na organização, e, com isso, menores custos, estimula o trabalho em equipe, gera orgulho pelo trabalho realizado, cria um ambiente de credibilidade, respeito e imparcialidade”, diz.
As excelentes empresas para trabalhar reforçam todo dia seu propósito e seus valores. Não por acaso, são empresas éticas e com maior compromisso social. “Nesse momento crítico que o país atravessa, de enorme crise das instituições, as melhores empresas para trabalhar nos dão fantásticos exemplos de cidadania, ética e de contribuição social. Ou seja, elas provam em sua atuação no dia a dia que a ética e a honestidade são mais vantajosas para toda a sociedade”, conta o CEO do GPTW.
Um bom exemplo de cidadania é a Alcoa, destaque em práticas para mulheres. Lá, nos últimos cinco anos, o número de mulheres aumentou 10%; nos cargos de liderança, o avanço foi de 73% no mesmo período. Para conseguir esses resultados, a companhia conta com o apoio da Alcoa Women´´´´s Network (AWNB), uma rede internacional de relacionamento para funcionárias que realiza eventos e treinamentos para qualificar e estimular esse público. “A mulher definitivamente está no mercado de trabalho, em todos os lugares e setores. Entre as melhores para trabalhar deste ano, a participação das mulheres atingiu pela primeira vez a marca de 50% dos postos de trabalho. Nas posições de liderança, a participação é um pouco menor, 41%, porém o crescimento é impressionante: em 1997, em nossa primeira pesquisa, elas representavam apenas 11% das posições de liderança”, lembra Shiozawa. Vale notar que entre as empresas não premiadas este ano esses índices caem um pouco: a participação da mulher, em geral, é de 39% e nas posições de liderança é de 34%. “A conclusão é muito clara: nas melhores, há um grande estímulo para redução de qualquer tipo de desigualdade, seja de gênero, etnia, orientação sexual.
” Outros destaques desta edição são a Acesso Digital, pela primeira vez na lista da revista Melhor RH, e o Google, nas categorias Melhor RH – empresas médias e pequenas (nacionais) e Melhor RH – empresas médias e pequenas (multinacionais), respectivamente, entre outras práticas.
Especializada em digitalização e gerenciamento eletrônico de documentos e com 116 funcionários, a Acesso Digital é um exemplo de empresa que conseguiu colocar as pessoas como prioridade na prática, e não somente no discurso. O presidente Diego Torres Martins conta que fundou a companhia em 2007 com o propósito de criar uma empresa onde ele e outras pessoas pudessem ser felizes no trabalho.
Assim, ele optou por inverter a ordem vigente: em primeiro lugar viriam as pessoas e, em segundo, viria o negócio, seguindo uma tendência vista em empresas nos EUA. “Primeiro preciso acreditar em gente, e depois essas pessoas criam o negócio”, explicou em entrevista a MELHOR, na edição 305, de abril. Dois anos mais tarde, a empresa percebeu que não deveria se preocupar apenas com a qualidade do ambiente de trabalho, mas ir além, pensando na felicidade do profissional em outras áreas da vida. E daí surgiram vários programas voltados para diferentes aspectos da vida dos profissionais. Entre eles estão os voltados para o desenvolvimento intelectual e os programas esportivos e de bem estar – estes, com destaque nesta edição.
Investimentos em pessoas
No Google, a preocupação com as pessoas é semelhante. E a razão é simples: “Acreditamos que o que torna o Google uma ótima empresa são os googlers. As pessoas são o nosso recurso mais valioso e investir nelas impulsiona resultados de negócios relevantes como inovação e retenção”, afirma Monica Santos, diretora de RH da empresa. Os investimentos em pessoas vão além de oferecer um pacote de benefícios completo, visam criar um ambiente de trabalho saudável, agradável, colaborativo e produtivo. Quem nunca viu ou ouviu alguém comentar sobre as salas de jogos, de descanso, restaurante e “minicozinhas” temáticas (apelidadas de Feira Livre, Baixo Augusta, Bixiga e Liberdade) que existem na empresa? Para que as pessoas pensem de forma criativa e ultrapassem os limites, o Google aposta em escritórios inovadores e com design divertido, explica Monica.
Além de itens como benefícios e um ambiente inovador e descontraído, outro fator chama a atenção quando o assunto é atrair e reter talentos. Trata-se de significado, de propósito. E isso as empresas listadas nesta edição conhecem e usam bem. “O que fica cada vez mais claro é que as pessoas não estão em busca de um emprego, mas sim de um significado para sua vida e seu trabalho”, conta Shiozawa. Ele lembra que as pessoas passam a maior parte de seu tempo “conectadas” ao trabalho, física ou virtualmente, e se o que elas fazem não tem sentido para elas sou não está alinhado com seus valores, esse trabalho torna-se um enorme e pesado fardo. Ou seja, para que alguém dê um “curtir” na companhia é preciso “curtir” o que faz – e as empresas devem “curtir” mais as pessoas.