CONARH 2018

Um novo olhar para a maturidade (feminina)

A jornalista Márcia Neder alerta para a cortina de fumaça que se formou para as mulheres com mais de 50 anos

de Redação em 16 de agosto de 2018

Nos anos 1960, as mulheres fizeram uma verdadeira revolução e mudaram o olhar da sociedade para seus anseios, desejos e necessidades. Hoje, aos 60 anos de idade ou mais, elas se encontram em outra batalha. A jornalista Márcia
Neder, autora do livro A revolução das 7 mulheres, no qual faz um retrato da geração das mulheres com mais de 50 anos, afirma que aquelas que protagonizaram a revolução do século passado estão de volta à luta para romper novas barreiras.

Márcia Neder / Foto: Divulgação

Por três décadas, Márcia acompanhou a transformação da condição da mulher no Brasil e no mundo a partir do comando de revistas como Nova, Claudia, Elle, Women’s Health, entre outras. “Minha geração fez a transformação da emancipação das mulheres. Elas entraram no mercado de trabalho e começaram a tomar a pílula, se tornaram independentes e donas do próprio corpo. Agora, na maturidade, se deparam com um mundo velho em relação ao que se espera delas. Isso acontece também com os homens, mas é mais agudo com as mulheres”, salienta.

Um preconceito que, para ela, não faz o menor sentido em um país cuja população está envelhecendo a passos largos. “Já temos mais gente acima de 60 anos do que de 0 a 15 anos. A sociedade, a própria mídia e as empresas estão atrasadas”, enfatiza, lembrando que, diferentemente de países europeus ou do Japão, que passaram por esse
processo ao longo de gerações, no Brasil a mudança tem acontecido com uma rapidez espantosa.

Em uma pesquisa para saber o que houve com essas mulheres, Márcia constatou que elas estão sendo ignoradas. Muitas relataram que, ao chegar aos 60 anos, foram questionadas sobre quando iriam “para casa descansar”. “Há muitas mulheres no mercado de trabalho, mas, no topo, elas são desprezadas. São mulheres altamente qualificadas,
muitas vezes mais do que os homens. O ‘clube do Bolinha’ no mundo corporativo está nos conselhos. É preciso mostrar para as empresas a perda que estão tendo por jogar fora uma enorme capacidade, experiência, conhecimento”, alerta.

A boa notícia é que essas mulheres não se adaptam ao estereótipo da “velhinha”, tampouco à cultura equivocada. Ao contrário, elas estão “chutando a porta” outra vez para mudar a situação, fazendo outra revolução, esta mais silenciosa, pois não tem a linha de frente tão visível como a do século passado, mas extremamente eficiente na medida em que cria uma cultura na qual a vida não acaba aos 60 anos.

Márcia chama a atenção que, em empresas dos EUA, os planos de carreira são de longo prazo, para aproveitarem
o conhecimento das pessoas na maturidade. “Não conheço um exemplo assim no Brasil. Aqui, a diversidade nas empresas trata de raça, orientação sexual, gênero, mas não de idade. Há uma enorme barreira cultural. É preciso um choque de realidade do novo mundo em que estamos vivendo. E o RH é vital para isso”, finaliza. (Thais Gebrim)

Márcia Neder participará do 44º CONARH no dia 16 de agosto, com a conferência Qual é o tesouro de talentos escondido atrás da cortina de preconceito? Para saber mais, acesse: www.conarh.org.br

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