Ao final deste ano, os primeiros jovens da geração Millennial estarão com 18 anos, de acordo com alguns estudiosos. E é exatamente neste momento que as empresas estão se perguntando: como extrair o melhor de jovens que dão a impressão de não se fixarem em nada a longo prazo?
“A média de permanência nos empregos está cada vez menor, chegando em torno de três anos em cada experiência. É um fenômeno global, não é uma jabuticaba brasileira, o que significa que um jovem que entra agora no mercado de trabalho deverá ter, em média, cerca de 17 empregos diferentes durante sua carreira. Trata-se de um número realmente alto, considerando que décadas atrás boa parte das pessoas achava comum permanecer em uma mesma empresa até a aposentadoria. O desafio dos RHs é entender o que é preciso para extrair o melhor dos jovens enquanto eles estiverem engajados na companhia”, afirma Ariana Israel, gerente-executiva da Page Talent.
Abaixo, Ariana Israel lista algumas constatações e orientações:
Hierarquias: desconforto diante de subordinação
“Os jovens estão em busca de estruturas horizontais, onde as decisões são compartilhadas e comunicadas de forma mais próxima e orientada. A influência da cultura das startups e gigantes de tecnologia nesse tópico é imensa. A ideia de subordinação é péssima para essa geração. Mesmo que tenham que trabalhar duro, está claro que eles ficam realmente motivados quando se sentem integrados e compartilhando decisões com outros integrantes da empresa. Essa nova geração quer participar de uma comunidade engajada, com visões, valores e propósitos bem definidos”, analisa Ariane Israel.
Isolamento involuntário: resultados além da tela de 6 polegadas
“Acreditar que será possível eliminar a presença de celulares durante reuniões, visitas a clientes, momentos de tensão e até durante explicações de rotina é quase um delírio. As empresas não irão vencer a disputa comportamental com os aplicativos e redes sociais. O melhor caminho é criar interações por meio dessas ferramentas. Então, vale mensagens no whats para lembrar horários, enfim, orientações simples que podem estimular os jovens a compreender melhor algumas posturas”, pondera a especialista da Page Talent.
Foco: virtude em extinção?
“Foco é uma atitude básica do mundo corporativo. Porém, para os millennials, essa característica funciona bem mesmo que acompanhada de outros itens e afazeres: fones de ouvido, celular e outras atividades simultâneas não impedem os jovens de estarem concentrados. É perda de tempo lutar contra o comportamento digital. É melhor trabalhar com pequenas metas e cobranças mais curtas e regulares para checar o desempenho. O foco não está em extinção, mas sofreu uma evolução surpreendente e até um pouco incômoda para quem não está acostumado a lidar com os novos talentos”, comenta Ariane.
Início de carreira: como segurar a onda quando a “vibe” é baixa?
“Está cada vez mais comum as empresas identificarem um baixo nível de engajamento nos jovens logo nos primeiros momentos de atividade em um novo emprego (o mesmo vale para estagiários e trainees). A razão é simples: a geração mais nova leva um pouco mais de tempo para equalizar expectativas de produção e controle diário de atividades. Isso é normal. É difícil atuar com a “vibe em alta” nas segundas e terças pela manhã. Os gestores precisam estar atentos a isso e não permitir que o desânimo, às vezes por algo muito pequeno, afaste os talentos da sua empresa”, diz Ariane.
Propósito: como equilibrar metas e sonhos na mesma linha do tempo?
“Esse é o ponto mais difícil. É muito complicado pensar até em médio prazo quando o assunto é o sonho (objetivo maior) dos jovens. O mais interessante é pensar qual a melhor estratégica para que eles deem o máximo pelo trabalho, pelos colegas e por si próprios no período em que estiverem dentro das empresas. A vocação para sonhos altos e grande apetite por realização quase imediata é algo comum dessa geração, não podemos bater de frente com isso. Mas a vida profissional ensina muitas coisas. O tempo é ainda mais relativo para os jovens. Porém, as coisas não acontecem à medida que nós desejamos, tudo tem o seu ciclo, e neste ponto, os líderes de RH e gestores que souberem explorar melhor essa condição estarão à frente no processo de atração dos Millennials”, mostra a especialista.
De onde vem tanta pressa em crescer?
“Cultura digital, acesso brutal a informações e algumas distorções de realidade que as redes sociais produzem na cabeça dos jovens, dando-lhes a impressão que amigos, personalidades, youtubers e outras pessoas estão em estado de plenitude e realização, enquanto eles fazem coisas normais e sem apelo. Isso não é verdade. Raríssimas são as pessoas que não cumprem obrigações estritas, horários rígidos, etc. etc. A angústia – que vai até um pouco além da pressa por crescer – é um sintoma da moderna sociedade de mercado. As empresas não vão frear esse ímpeto, porém, ao mesmo tempo, são o melhor ambiente para equilibrar esses desejos, pois o crescimento na carreira demanda tempo, trabalho duro, reconhecimento de colegas e capacidade de entrega e convencimento, ou seja, algo que não virá em poucas horas, como num videogame ou conteúdo de internet”, conclui Ariana Israel, gerente-executiva da Page Talent.