Gestão

Podemos padronizar processos, mas não pessoas

de Redação em 10 de março de 2020

Por Henrique Cantagesso, diretor de operações da Bcredi

Crédito: Shutterstock

Em empresas pequenas, com times menores, é natural que todas as pessoas se conheçam. Os líderes sabem as histórias de vida de cada um, suas características e até o jeito preferido de trabalhar. Eles percebem facilmente quando alguém da equipe está feliz, tenso ou desmotivado. A convivência é tão intensa e frequente que ninguém precisa fazer esforço para criar proximidade.

Essa capacidade de conhecer o propósito e a personalidade de cada pessoa é o que chamo de liderança personalizada. Porém, na medida que o negócio cresce, manter a liderança personalizada é um desafio. É tanta gente, tantos projetos ao mesmo tempo, que as empresas começam a utilizar processos padronizados para gerenciar equipes. Os líderes se tornam menos mentores e focam mais nas entregas e na cobrança. Deixam de lidar com cada pessoa e passam a aconselhamentos que valem para todos.

Diante de desafios maiores e metas cada vez mais agressivas, é fácil se acomodar nesse formato padronizado. Ele economiza tempo. A gestão personalizada, por levar em conta necessidades e motivações individuais, requer um investimento maior de horas, algo que no curto prazo pode parecer desperdício. Mas, acredito que o esforço de continuar conhecendo as pessoas de perto, investindo energia para manter o vínculo e a confiança como acontece em empresas menores, é fundamental para construir times de sucesso no longo prazo. Um profissional que se sente acolhido trabalha mais engajado e comprometido com os resultados. Porque ele tem a certeza de que não é apenas mais um número, mas sim um elo relevante da empresa.

Sempre quando converso sobre esse assunto, a pergunta que surge é: como fazer isso?

Claro que dentro de uma empresa com milhares de pessoas é impossível conhecer, muito menos conversar com todas elas. Mas qualquer negócio é organizado em times menores, com um líder que pode fazer a diferença para aquele pequeno grupo. Por isso, o primeiro aspecto que considero fundamental para manter a liderança personalizada, apesar do crescimento, é a capacitação de gestores. Talvez seja uma habilidade que eles não tenham naturalmente ou um método de gestão pouco óbvio. Felizmente, tive, ao longo da minha carreira, exemplos de gestores que me ensinaram a liderar desse jeito, e sempre vi o valor desta prática para manter a equipe engajada. Mas isso não é a regra.

O segundo aspecto são as conversas individuais entre líderes e liderados. Elas não precisam acontecer diariamente, mas é um ritual que pode ser criado com o objetivo de conhecer a fundo cada pessoa e o seu momento na vida e na empresa. Aprofundar-se nesses detalhes pode ajudar a entender o que há por trás de cada ação e qual é a melhor abordagem para desenvolver determinado profissional. Questões pessoais, por exemplo, podem estar afetando o trabalho, e esses incômodos podem emergir durante o bate-papo. Também podem aparecer problemas de relacionamento com outro membro do time. Se esse for o caso, o líder deve mostrar interesse e ajudar a pensar em soluções. É um bom momento para conquistar a confiança dos integrantes da equipe e mostrar que as questões trazidas logo se tornam ações.

A importância dessa parceria fica evidente na pesquisa realizada pelo instituto Great Place to Work, em parceria com a revista de negócios americana Fortune, para chegar às “100 melhores empresas para se trabalhar”. A confiança na relação entre líderes e liderados compreendeu dois terços dos critérios utilizados e foi a principal característica citada para definir bons locais de trabalho.

Por fim, acredito que a liderança personalizada requer abertura e empatia do líder, que precisa estar genuinamente interessado em conhecer cada pessoa. Ele deve estar sempre disponível e ser um suporte nos momentos de instabilidade. Ter agenda para conversas que podem se estender para além do tempo planejado. Eu sinto que estou cumprindo bem meu papel como gestor quando as pessoas me procuram para pedir conselhos, seja no âmbito pessoal ou profissional.

Mas não descarte as ferramentas padronizadas que facilitam a gestão de grandes times. Muitas empresas usam a metodologia MBTI, que por meio de testes identifica e classifica a personalidade das pessoas de acordo com as suas características e preferências, e ajudam a avaliar qual o melhor trabalho para elas. O resultado é útil, mas é apenas o primeiro passo. Essa relação pode (e deve) ser aprofundada. 

O verdadeiro líder não padroniza pessoas, e é capaz de se adaptar a cada elemento e a cada configuração de time. Entende as necessidades individuais, a dinâmica do grupo e, com esse conhecimento, guia sua equipe para que cada um possa dar o seu melhor.

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