Os desafios para a sociedade
brasileira, para a economia mundial e, em especial para a indústria, são
muitos. No entanto, temos que nos reinventar para enfrentar essa fase que se instala
com a disseminação da pandemia da Covid-19. E a indústria 4.0 é um dos caminhos
para adentrar nesse estágio do ‘novo normal da indústria’ ainda mais
fortalecida.
Dados
apontam a quarta revolução industrial como uma oportunidade para o país. A
indústria representa hoje menos de 10% do Produto Interno Brasileiro (PIB) e o
Brasil ocupa a 69º posição no Índice Global de Inovação. Ou seja, temos um
mundo exponencial para avançar e ganhar espaços cada vez maiores.
Um primeiro e importante olhar é entender como
definir a quarta revolução industrial. Há vários conceitos considerados como
Internet das Coisas (IoT), robótica, simulação, segurança cibernética,
manufatura aditiva, realidade aumentada, machine learning, cloud,
virtualização, interfaces digitais, big data, ciência de dados, tecnologias
integradas, enfim, há um espectro de conceitos tecnológicos muito amplo.
Em minha opinião, o grande erro é ter a visão de que até
então a quarta revolução industrial era uma revolução tecnológica. Não vivemos
uma revolução tecnológica, vivemos sim uma revolução de modelo de negócios. As
tecnologias, emergentes ou não, são importantes nesse momento, ou melhor,
fundamentais. Mas não devemos pensar em tecnologia por tecnologia. E um dos
fatores que comprova isso é a ameaça chinesa que vivíamos em 2011, data
simbólica do início desse movimento, quando a Alemanha estabeleceu a indústria
4.0 como meta de suas unidades produtivas, durante a feira de Hannover daquele
ano. Mas a motivação desse objetivo nunca foi “apenas” aplicar tecnologias
emergentes e integração de toda cadeia de valor, mas, principalmente, atingir
altos níveis de excelência operacional, propiciando um maior nível de
competitividade frente à ameaça oriental.
Os líderes digitais precisam se atentar de que a tecnologia
deve ser aplicada, porém de uma forma bem estruturada para atingir os níveis
operacionais tão almejados em um determinado processo produtivo.
Nos últimos cinco anos, percebemos que com um trabalho
assertivo nas plantas industriais é possível auxiliá-las a alcançar o objetivo
da quarta revolução, aumentando o nível de excelência a partir de melhores
decisões operacionais, através de uma jornada evolutiva de maturidade
analítica: descritiva (reportar), analítica (analisar e monitorar), automática
(automatizar), preditiva (prever e predição inteligente) até chegar no nível de
prescrição (antecipar e atuar). Com isso, atingimos o nível máximo de
maturidade data-driven, atacando diretamente os KPIs de negócios impactados
pela flexibilidade, confiabilidade e eficiência operacional.
É importante estudar o processo de tomada de decisão e as
dores que impedem a transformação para esse modelo data-driven. Como criar essa
cultura e alcançar os resultados esperados? Na primeira fase, normalmente
esbarramos na qualidade de dados, gaps, lacunas, e este é o ponto nevrálgico
para atuar com uma abordagem que estimula o pensamento coletivo. Isso
traz as pessoas para o centro, com interações constantes nos processos de
criação, de forma incremental evolutiva, para, então, desenhar e implementar a
melhor tecnologia, com o melhor custo-benefício-risco. Assim, é possível trazer
uma solução tecnológica para base da pirâmide, a fim de usá-la da forma mais
adequada. E claro, explorar os dados que serão gerados na sequência.
Conseguiremos resultados para o negócio quando conseguirmos
explorar em sua totalidade a correlação dos dados vitais e transacionais
estruturados e organizados em uma camada única (data-lake), sobre a qual os
algoritmos de inteligência artificial, deep leaning, machine learning e
soft-sensor, auxiliam ou até influenciam diretamente nas decisões operacionais.
Conseguimos resultados em algumas unidades industriais
através dessa abordagem. Predições de falhas, de peso de matéria-prima, do teor
de sílica, detecção de vazamento em processos de mineração e predição de
alarmes críticos são alguns exemplos. Acreditamos nesse caminho como o “novo
normal” da indústria 4.0.