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Porque as Universidades Corporativas precisam se reinventar

O objetivo das UCs precisa ser a criação de uma cultura de aprendizagem que incentive a troca

Ter uma universidade corporativa (UC) é motivo de orgulho e objeto de desejo de grande parte dos times de RH e das próprias organizações. Para profissionais da área, as empresas que organizam suas iniciativas de treinamento dessa forma mudam de status e passam a fazer parte de um grupo especial que oferece melhores oportunidades de desenvolvimento para seus colaboradores.

A pandemia demandou como nunca a capacidade de aprendizado e adaptação de todo o mundo. Nesse contexto, as UCs foram testadas. Em princípio, uma gestão centralizada e estratégica de iniciativas de treinamento poderia ser um diferencial

As experiências demonstraram, contudo, que a necessária adaptação ocorreu por outros caminhos. A autonomia, o interesse e a necessidade falaram mais alto e os grandes desenvolvimentos ocorreram a partir de iniciativas coordenadas pelas áreas ou pelos próprios indivíduos.

O aprendizado de verdade ocorreu no dia a dia, por meio de troca de experiências e conhecimentos que aconteceram na vida real.

A versão 2021 do relatório de tendências de capital humano da Deloitte apontou, de maneira inequívoca, esse caminho: “A crescente prevalência de agência e escolha do trabalhador durante a pandemia mostrou que, quando dada a chance de alinhar seus interesses e paixões com as necessidades organizacionais, os trabalhadores podem realizar seu potencial de maneiras que os líderes talvez nunca soubessem que poderiam, posicionando a organização para prosperar a longo prazo”.

A necessidade foi mais rápida do que o tempo necessário para que os treinamentos fossem definidos, desenhados e aplicados. Quando percebeu-se o tamanho do impacto, houve uma oferta de treinamento no mercado e muitas UCs passaram a atuar como curadoras do mundo de conhecimento oferecido. Mas, em pouco tempo, as pessoas não aguentavam mais ficar na frente na tela – como falei aqui.

A capacidade de sobrevivência de empresas continua dependendo das habilidades de seus colaboradores. A pesquisa anual da PwC com CEOs apontou – mais uma vez – a falta de disponibilidade de competências essenciais como uma das principais ameaças para as empresas.

Para continuarem a ser relevantes, há três ações que acredito serem fundamentais:

1- Questionar seu objetivo – se a UC continuar se considerando um grande provedor de conhecimento, ela continuará exercendo uma força contrária ao incentivo da autodireção e do aprendizado que acontece fora da sala de aula. O caminho precisa ser outro. O objetivo das UCs precisa ser a criação de uma cultura de aprendizagem que incentive a troca, garanta espaços seguros de aprendizagem e prepare líderes para atuar de uma forma menos hierárquica, também quando o assunto é desenvolvimento. O resultado para o negócio virá a partir daí.

2- Buscar novas formas de operação – os processos e ferramentas tradicionais estavam sendo questionados há algum tempo. Grande parte das vezes as UCs são máquinas produtoras de cursos: identificamos necessidades, criamos soluções, mapeamos o público, convocamos, aplicamos e partimos para a próximo. Com a pandemia, ficou claro que isso não funciona mais. A nova abordagem deve ser sistêmica, coordenando esforços, propondo rituais, reconhecendo e valorizando as ações informais que ocorrem sem a sua participação.


3- Desenvolver novas habilidades no time (e aumentá-lo) – para cumprir esse novo papel, precisamos desenvolver novas competências que pareciam muito distantes. Além do conhecimento em novas tecnologias, os profissionais da UC devem aprender temas como curadoria, economia comportamental, comunicação e antropologia cultural. Principalmente, devemos incluir na estratégia da UC colaboradores que estejam em diversas áreas e que possam disponibilizar algumas horas por mês para nos ajudar a criar a cultura de aprendizagem que queremos.

Praticamente todas as áreas das empresas estão se reinventando. Acredito que o ambiente atual é o momento perfeito para experimentarmos novos caminhos. Se acharmos que a única mudança necessária é transformar workshops presenciais em encontros online, estaremos perdendo uma ótima oportunidade de voltar a ser relevante.

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