Representando 8,9% da população nacional (em torno de 18 milhões de brasileiros), o contingente de pessoas com deficiência (PCDs) no país está longe da inclusão no mercado de trabalho. Sua taxa de empregabilidade está em cerca de 26%, contra 60% entre profissionais em geral, e os salários chegam a ser 30% menores. Os dados são do último censo do IBGE, mostrando uma lacuna a ser preenchida nos processos seletivos: aumentar a representatividade desse público minorizado. Outra etapa, ainda, é tornar as empresas acessíveis em todos os níveis – arquitetônico, tecnológico, comunicacional – e construir uma cultura sólida de respeito às diferenças.
“As empresas acabam exigindo experiências em determinadas funções, conhecimento de áreas específicas e o que mais puderem exigir para as vagas, na grande maioria das vezes, menores, voltadas a pessoas com deficiência, colocando barreiras e reduzindo a participação dessas pessoas colaboradoras”, explica Renata Torres, co-fundadora da consultoria Div.A Diversidade Agora! e especialista em diversidade e inclusão.
“É o chamado capacitismo institucional, quando a empresa contrata a pessoa com deficiência e ela não tem um tratamento de equidade para com os demais”, esclarece a especialista.
Leticia Krauskopf, Gerente de Operações da consultoria Randstad Brasil, concorda, e destaca que é preciso considerar a falta de acessibilidade enfrentada pelo profissional com deficiência em sua formação técnica nos processos de recrutamento, oferecendo complementariedade em seu desenvolvimento e não barreiras para sua contratação.
“Muitas vezes os profissionais com deficiência possuem todas competências necessárias, que chamamos de soft skills, mas algumas exigências – as hard skills, acabam excluindo parte deles nos processos seletivos, principalmente os que tiveram menos oportunidades”, explica a executiva.
“Por isso, a adoção das vagas afirmativas se faz necessária diante dessa disparidade do alto índice de pessoas com deficiência fora do mercado, pois ajudam as empresas a identificar e contratar esses profissionais”, entende Letícia.
Postura ativa
Com deficiência auditiva, a recrutadora da Randstad Brasil, Silvia Beduschi, revela o que encontra em seu dia a dia de seleção de pessoas com esse marcador social: “Vejo que o maior desafio é encontrar empresas dispostas que entendam que, para garantir um ambiente mais equitativo e diverso, é necessário realizar formação e desenvolvimento dessas pessoas com deficiência, oferecendo capacitação, mentorias, criação de grupos de afinidade, preparando seus colaboradores, ambientes físicos e digitais para recebê-los.”, completa, sobre a necessidade de suprir a falta de oportunidade muitas vezes encontrada no mercado por esse público, em vez de intensificá-la.
Kaká Rodrigues, também fundadora da Div.A Diversidade Agora! e especialista em diversidade e inclusão, defende uma postura ativa das organizações nesse sentido. “Não basta a empresa cumprir a lei e contratar o que é determinado por cota, mas é preciso incluir essas pessoas colaboradoras. Não só garantir a acessibilidade, mas trazer programas de capacitação profissional específicos para pessoas com deficiência, buscar profissionais especialistas para a conscientização das equipes, combatendo o capacitismo”, relata a especialista.
Garantias brasileiras
A celebração dos avanços e o debate sobre melhorias para a qualidade de vida de pessoas com deficiência ganharam data específica, em que todos envolvidos na causa se movimentam e a agenda do tema ganha notoriedade. O Dia Nacional da Pessoa com Deficiência, em 21 de setembro, celebrado desde 1982, foi oficializado em 2005 pela Lei Nº 11.133. O mês de setembro, cunhado Setembro Verde, é o mês reservado à promoção da inclusão e estende a discussão sobre a quebra de barreiras para a plena cidadania de PCDs
Completando 32 anos, a Lei de Cotas (Lei nº 8.213/91) determina a participação de 2% a 5% de pessoas colaboradoras com deficiência em empresas com mais de 100 funcionários. Já a lei 13.146/2015 instituiu diretrizes fundamentais assegurar condições de igualdade de direitos e liberdades para pessoas com deficiência, o Estatuto da pessoa com deficiência e, com isso, promover a inclusão social e a cidadania desse público.
Rodrigues fala sobre ir além das cotas inclusivas garantidas por lei e assumir os benefícios de uma contratação diversa para todos os envolvidos: “As organizações que buscam pessoas com deficiência aumentam a diversidade dentro da empresa, garantindo uma cultura corporativa mais inclusiva, além de valorizar a igualdade e o respeito.”
“São diferentes perspectivas, habilidades e experiências que serão trocadas junto às demais pessoas dos times, criando oportunidades novas e, ao mesmo tempo, contribuindo para a sociedade, o que estimula o crescimento e o sucesso da própria empresa”, conclui a executiva.