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Indicadores não engajam: por que o C-Level precisa repensar como mede e comunica resultados

Se você busca resultados, precisa investir não apenas em medição, mas em conversas e conexão humana

de João Roncati em 9 de maio de 2025

Hoje somos inundados por siglas: KPIs, OKRs, ROI. Dashboards coloridos e relatórios detalhados tornaram-se as bússolas que, supostamente, guiam os líderes e as empresas ao sucesso. O C-Level, pressionado por resultados tangíveis, dedica tempo e recursos consideráveis para definir, medir e apresentar esses indicadores. No entanto, uma verdade inconveniente persiste nas entrelinhas dos gráficos de desempenho: indicadores, por si sós, não engajam.

Eles podem medir, mas raramente movem corações e mentes. E é aí que reside um desafio importante(e muitas vezes subestimado) para a liderança moderna.A intenção por trás de uma métrica é nobre: clareza, foco, melhoria contínua. Contudo, a comunicação desses indicadores se tornou excessivamente técnica, distante da realidade diária de quem precisa agir sobre eles. E o problema não reside na existência da métrica, mas na sua apresentação descontextualizada.

Pesquisas apontam para uma crise de engajamento no trabalho. Dados como os do Instituto Gallup revelaram que apenas 31% dos funcionários na América Latina estavam engajados no trabalho. Uma das razões é a desconexão entre o trabalho diário e um senso de propósito maior.

Quando a comunicação da liderança se resume a “atingir o número X”, perde-se a oportunidade de conectar a tarefa ao seu significado.Pessoas não são robôs: A ciência da motivação no trabalhoA gestão baseada puramente em métricas opera sob uma premissa falha: a de que seres humanos são motivados primariamente por recompensas e punições ligadas a números. No entanto, décadas de pesquisa em psicologia e comportamento organizacional, popularizadas por autores como Daniel Pink em seu livro “Motivação 3.0”, mostram que a motivação intrínseca é muito mais poderosa para tarefas que exigem criatividade, resolução de problemas e engajamento genuíno.

Essa motivação é alimentada por três pilares:

Autonomia: O desejo de dirigir a própria vida e trabalho.

Maestria: A ânsia de melhorar em algo que importa.

Propósito: A necessidade de fazer o que fazemos a serviço de algo maior que nós mesmos.

Empresas que prosperam em engajamento entendem isso. Por exemplo, uma empresa reconhecida por seu forte ativismo ambiental conecta suas métricas de negócios diretamente à sua missão de “salvar nosso planeta natal”.

Os funcionários não trabalham apenas para vender roupas, mas para financiar causas ambientais, o que confere um propósito profundo ao seu trabalho diário, muito além dos KPIs de vendas.Como deu para perceber, o papel do C-Level transcende a mera apresentação de resultados. Trata-se de traduzir números em narrativas significativas.

Um KPI ou OKR não deve ser apenas um item em um slide, mas o ponto de partida para uma conversa relevante.Uma das gigantes da tecnologia passou por uma transformação cultural significativa, movendo-se de uma cultura interna descrita como competitiva e focada em métricas individuais para uma abordagem mais colaborativa e centrada na “mentalidade de crescimento” e no impacto no cliente.

Embora as métricas continuem importantes, a comunicação enfatiza o aprendizado, a colaboração e o propósito maior, o que reenergizou a empresa.KPIs, OKRs e dashboards são ferramentas valiosas para a gestão e a tomada de decisão.

Contudo, são apenas mapas que ajudam a navegar. O que verdadeiramente impulsiona o desempenho e o engajamento não é um gráfico, mas sim a compreensão do porquê a jornada importa e a confiança em quem guia o caminho.

Os líderes que compreendem isso passam de replicadores de números para se tornarem contadores de histórias e tradutores de propósito.

Se você busca resultados, precisa investir não apenas em medição, mas em conversas e conexão humana. Afinal, empresas são feitas de pessoas, e pessoas se movem por propósito, não apenas por percentuais.

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João Roncati

Diretor da People + Strategy