Programas de ensino que ajudam a melhorar o desenvolvimento do ESG nas organizações, e a questão da saúde mental ligado ao tema, foram temas do 3º Fórum Melhor RH ESG e Comunicação – No limite da mudança, que aconteceu dias 23 e 24 no modelo online e gratuito. Promovido pelas Plataformas Negócios da Comunicação e Melhor RH e pelo Cecom – Centro de Estudos da Comunicação,
No painel “Cocriando o futuro – O diferencial de parcerias e programas de ensino para evoluir aprendizados”, participaram Eunice Lima, diretora de Comunicação e Relações Governamentais da Novelis; e Roberta Knijnik, diretora de Marketing da Intel.
Roberta relatou que a Intel surgiu em 1968 e sempre foi forte em inovação. Entre os desafios de ESG, ressalta o S, “que é uma proposta de como conversamos com a sociedade dentro da empresa e sobre os desafios da diversidade. No Brasil somos privilegiados, temos um time executivo forte, a vice-presidente na América Latina é mulher, a presidente no Brasil também é mulher, mas não é a realidade da sociedade. Mulheres representam 44% da força de trabalho o Brasil, mas em termos de liderança somos apenas 28%, segundo o LinkedIn. Temos olhado muito para esse desafio no mercado e como podemos apoiar”. São desafios e oportunidades de negócios. “É o certo a fazer, mas também é o melhor para a organização, para os resultados. Desafios para serem transformados em oportunidades. Na questão específica do meio ambiente sabemos como a tecnologia pode potencializar isso. E usamos o poder de influencia da Intel no ecossistema de negócios e procuramos colaborar. Na nossa planta na Costa Rica, que é a planta industrial na América Latina, toda água é reciclada”.
A executiva da Intel avalia que a empresa olha os desafios de ESG hoje na sociedade e procura atender as oportunidades. “O universo de tecnologia pode potencializar o meio ambiente, onde temos um impacto importante”. A Intel utiliza seu poder de influencia no ecossistema produtivo para melhorar os processos. Por isso que em 2015 colocaram metas de ESG para 2020, com alguns pontos importantes como equidade salarial. “Atingimos essa meta 1 ano antes do previsto”, comemora Roberta. E agora estão planejando as metas para 2030. “Investimos US$ 1 bilhão em nossa cadeia de fornecedores. Não adianta nossa empresa atingir metas de sustentabilidade sozinha. O ponto é como podemos ajudar nossa cadeia de fornecedores a também atingir, para que sejam mais diversos e olhem para os impactos ambientais”. Outra meta interna é dobrar o numero de lideranças sênior de grupos subrepresentados (mulheres, LGBTQIA+, raças diversas), no mesmo período.
“Não bastam só os desafios. Temos que montar um plano de ação e implementar melhorias. Como a Novelis, a Intel também vem de um universo muito masculino, de muitos engenheiros, mas também vemos agora muitas engenheiras se formando. O desafio que vemos na ponta é uma consequência da sociedade. Nesse ponto, tem outra meta de ter até 40% de posições técnicas ocupadas por mulheres. “Essas metas nos ajuda a ver onde estamos, aonde queremos chegar e como queremos chegar. E temos chegado lá muito através de aprendizado”.
Foram utilizadas parcerias com instituições especializadas no tema para conseguir atingir o público externo e interno, a Intel. Na época da pandemia por exemplo lançaram um fundo interno de investimento para algumas iniciativas que ajudaram a sociedade nesse problema. E quando terminou a pandemia, ampliou esse fundo para outros problemas sociais. “Criamos com a entidade Amazônia Sustentável centros de tecnologia dentro da Amazônia. Uma pessoa que precisasse de uma consulta médica, nesses locais longínquos tiveram a oportunidade de usar a telemedicina. E muita gente está aproveitando essa estrutura para a educação, fazendo faculdade de EAD.
Eunice relacionou alguns desafios do ESG. “Temos agora a primeira presidente mulher na empresa e 50% dos executivos que se reportam a presidente também são mulheres. E isso dentro de uma empresa metalúrgica, que tem uma origem fortemente masculina. Foi um desafio de promover capacitação para nossa cadeia e suprimentos, que ainda é muito carente de informação. Temos grande responsabilidade por sermos grandes recicladores. A Novelis é a maior recicladora de latas de alumínios do mundo (recicla 1% das latinhas de alumínio depois de consumidas), procuramos contribuir com essa cadeia de produção levando informações para as cooperativas melhorar sua gestão, com cursos, e elaborar planos para melhoria das receitas, além trabalhar com ética e responsabilidade”. A empresa, com isso, tem um grande compromisso com a reciclagem, um dos fatores que melhoram as condições ambientais.
“Temos um grande desafio de capacitação em nossa cadeia de suprimentos, para promover o aprendizado, pois são muito carentes de informação e sentimos grande responsabilidade por sermos um dos principais recicladores. Então pensamos o que a maior recicladora do mundo pode fazer. Também levamos informação para melhorar o trabalho das cooperativas”.
Pensando em como levar conhecimento para esse público externo, a empresa utilizou duas soluções: uma capacitação presencial, com uma série de especialistas ajudando as cooperativas. “Mas só o presencial não era suficiente, e investimos em uma plataforma virtual, numa linguagem simples e acessível. Para tudo isso fizemos parceria com a Ancat, uma associação nacional de catadores, e a Fundação Dom Cabral, tanto para os cursos presenciais como os online”.
Saúde mental
Participaram do painel “Calibrando o clima – Porque saúde mental tem tudo a ver com ESG” , Paola Klee, CEO da YC – Your Career Future; Tatiana Barrocal Porto, diretora de RH na NTT DATA; e Tatiana Romero, diretora de RH na Ticket.
Paola fez uma ponte do impacto das questões climáticas na saúde mental dos colaboradores. E citou a ONU, que alertou globalmente um aumento de 3ºC na temperatura, muito superior ao que foi anunciado no Pacto Global do Clima. “E com isso temos pesquisas que mostram o impacto isso na produtividade e, principalmente, na saúde mental. Já temos até um termo que é a ‘ansiedade climática’, a ‘ecoansiedade’, que significa um sentimento de angústia e preocupações com as mudanças de clima. Trazendo para as comunidades mais atingidas uma ansiedade muito forte com efeito de longo prazo na saúde. Desastre naturais, aquecimento globa estão causando isso. E ainda o transtorno afetivo sazonal, em comunidades que sofrem esses problemas periodicamente, uma condição que ocorre principalmente no inverno, na ausência da exposição solar, levando à depressão, fadiga, perda de motivação”. Paola, que é gaúcha de Porto Alegre, não deixou de lembrar a tragédia recente que aconteceu no Rio Grande do Sul. E agora as queimadas que também trazem impactos negativos semelhantes.
Tatiana Romero colocou sua percepção que até há pouco tempo o clima não estava na agenda do RH. Até os acontecimentos no Sul do país, e a pandemia da Covid-19. “Pessoas foram impactadas, não apenas os colaboradores, mas gente do entorno da nossa empresa. E agora com as queimadas, o clima seco, o inverno que quase não teve em São Paulo, com 30 graus hoje na capital paulista, nesse início da primavera. E como esse tempo impacta no absenteísmo e na nossa produtividade. E o que as empresas estão fazendo para apoiar as famílias, as pessoas impactadas de alguma maneira, as emissões de CO2, de colegas que perderam as casas. Conheço empresas que não fizeram nada a respeito com seus colaboradores afetados. E isso impacta a marca empregadora. Como essa marca está trabalhando com tudo isso? Quem irá querer trabalhar numa empresa que nã se preocupou com isso depois do que aconteceu?”. A virada de chave das mudanças climáticas aconteceu com essa tragédia no Sul, pois sabemos que isso irá se repetir. É uma tragédia anunciada.
Tatiana Porto, concordou e afirmou que esses acontecimentos pegaram as empresas de surpresa, que tiveram colaboradores impactados pelas enchentes no Rio Grande do Sul, e a organização teve que pensar rápido o que fazer. Mesmo o pessoal da equipe no Sul, sofrendo os impactos quiseram saber o que poderiam fazer para ajudar outros colegas da empresa. Foi uma mobilização muito bonita, apesar da situação triste.
E fica a pergunta: “Será que depois desse episódio passamos a falar sobre o tema clima novamente?”. Tatiana arrisca um não. Temos a discussão do impacto de carbono, no impacto da saúde mental, e aqui temos uma série de ações de mental health muito boas. Mas temos agora que incorporar o tema clima, pois terá cada vez mais influência. “Surgiram os nômades climáticos. Com lugares ficando mais quente as pessoas irão ter que sair das suas residências e se mudar para outro lugar com uma condição climática mais favorável. Talvez possamos usar o termo refugiados climáticos´´. Ainda não lidamos com isso com programas . São temas novos, e as empresas ainda não trabalhavam nisso de forma estruturada, como programa de longo prazo. Até porque é algo que veio para ficar e temos que pensar o que iremos fazer com isso”.
Paola complementou que, como RH, “somos muito requisitados a apoiar planos de contingência e continuidade de negócios nessas ocasiões difíceis. Na pandemia por exemplo, fomos grandes guias nesse processo, e na hora de fazer, se o fato não esteve ligado aos valores da empresa cria uma desconexão. Tanto na pandemia como na tragédia do RS não tivemos referências anteriores para balizar o que fazer. Não precisamos ter as respostas, os valores das empresas nesses momentos podem ser construídos de forma colaborativa”. Ela ainda citou uma pesquisa da Infojobs sobre saúde mental que diz que 86% dos colaboradores mudariam de empresa para preservação de sua saúde mental.
Comentando essa questão, Tatiana Romero aproveitou para lembrar as questões de valores, que surgem nesses momentos de crise. Na tragédia do RS, ela afirma que nem cogitou levar os colaboradores regionais para um abrigo. “Pensei inicialmente em hotéis, sem consultar ninguém, pois estava dentro de nossos valores”. E aproveitou para comentar que sua empresa tem im programa bem estruturado de saúde mental, e conectando com o que aconteceu no Sul, destacou que foi criado um grupo de trabalho para cuidar dessas pessoas desabrigadas, de todas as unidades de negócios. “Criamos um 0800 para as pessoas ligarem e ai criamos ações emergenciais para as pessoas que precisavam de comida, ou de abrigo. E pesquisamos pessoas que, mesmo não sendo impactadas em suas casas, quais precisavam de apoio de saúde mental. Nesses e em outros casos procuramos identificar previamente quem necessitava de ajuda nessa área, pois nem sempre as pessoas impactadas pedem ajuda”.
A NTT Data possui programas similares, segundo Tatiana Porto e inclui as famílias dos colaboradores em momentos de dificuldades. Um grupo no WhatsApp dava dicas para as pessoas atingidas no RS. Uma Fundação da empresa também ajudou, além de campanhas internas e grupos específicos de suporte. “Temos ainda programas para atender pessoas que se sentem isoladas por atuar em home office”, complementou em sua conclusão.
Publicado originalmente em Portal da Comunicação