Dizem que os opostos se atraem, mas, convenhamos, nada melhor do que estar cercado por quem entende suas dores e encara desafios semelhantes. Em tempos em que a diversidade é a chave para a inovação em qualquer empresa, é igualmente importante ter um espaço seguro onde as pessoas se sintam acolhidas e à vontade para compartilhar suas histórias. E aqui a comunicação interna não passa despercebida: com diálogo e um olhar sensível ao colaborador, ela pode potencializar a formação de comunidades, dando voz a grupos diversos que se formam com propósitos bastante claros. A ideia é promover a colaboração, fomentar discussões relevantes e gerar um espaço para trocas de experiências, tanto profissionais quanto emocionais, aprofundando os laços entre os colaboradores.
Sabe aquela sensação de quando você encontra alguém que entende exatamente o que está pensando, sem precisar dizer muita coisa? Pois é, as comunidades têm muito disso, até porque são um reflexo dessa necessidade de apoio mútuo e troca genuína. Como bem destaca Daniel Dias, diretor de RH da Ferrero para a América do Sul, elas são essenciais para criar um ambiente onde os colaboradores se sintam engajados em suas causas pessoais e, ao mesmo tempo, genuinamente alinhados aos valores da organização. Grupos assim, segundo ele, estimulam o orgulho de pertencer porque entregam respeito e valorização, uma combinação poderosa que, quando bem direcionada, pode reverberar entre as demais equipes.
Organização e estrutura
E para fazer tudo isso funcionar de verdade, o primeiro passo é identificar claramente os grupos que compõem a cultura organizacional. De acordo com Carolina Prado, diretora de Comunicação da Intel para a América Latina, é importante não só entender quais são as comunidades existentes, mas principalmente como elas funcionam. Depois disso, o time de comunicação interna pode avaliar em que fase de maturidade essas comunidades estão e agir de acordo. “A partir daí, a empresa pode intervir, não para interromper, mas para organizar e estruturar melhor”, acrescenta. Segundo ela, isso fortalece os grupos e ainda reforça os valores da empresa, criando um ambiente onde a cultura é vivida e compartilhada por todos.
Portanto, esse processo deve ser bem estruturado para dar certo. Na Intel, Carolina explica que as comunidades dentro da empresa são formadas com base em grupos de afinidade, como aqueles focados em diversidade de gênero ou LGBTQIA+. “Esses grupos não só se organizam para promover discussões importantes, mas também para realizar eventos e atividades que reforçam os valores organizacionais”, afirma. Essas comunidades, conhecidas como Intel Communities, começaram de maneira mais informal na década de 1990, mas, nos últimos anos, foram estruturadas para que tivessem mais autonomia. “O que temos feito é organizá-las melhor para que tenham ‘poderes’ para conduzir suas atividades”, explica a porta-voz.
Canais potentes
A Seguros Unimed é outro exemplo de como a comunicação interna pode não só facilitar a criação de grupos temáticos, mas impulsionar a existência das comunidades. Kátia Okumura Oliveira, assessora de Comunicação da Seguros Unimed da empresa, conta que uma reestruturação nos canais de comunicação foi feita justamente para fortalecer esse processo e torná-lo mais intuitivo. “Há dois anos, iniciamos um trabalho de revisão dos nossos canais de comunicação interna, focando na efetividade de cada um deles e no desejo de criar um ambiente propício para colaboração e trocas”, explica.
Hoje, todos os colaboradores, incluindo as lideranças, têm a liberdade de criar grupos na rede social corporativa, um espaço que permite discussões e conexões em qualquer lugar e a qualquer hora, tudo na palma da mão, via celular. Mas, como bem pontua Kátia, por mais eficiente que seja esse diálogo no ambiente virtual, nada substitui o contato humano para fortalecer os laços entre as pessoas. “Mesmo com a tecnologia facilitando as conexões, o face a face ainda é um ótimo canal de comunicação”, complementa.
Kátia destaca que as comunidades são essenciais para criar um ambiente onde a troca de ideias acontece de forma natural, impactando diretamente o clima organizacional. Nesses grupos, os colaboradores se sentem à vontade para serem quem realmente são, questionar, discordar, colaborar e sugerir. Isso estimula a participação ativa, fortalecendo a retenção de talentos e o desenvolvimento de lideranças. Com esse novo cenário, as lideranças passam a enxergar suas equipes de uma forma mais colaborativa, deixando de lado os modelos tradicionais de gestão. “O mundo mudou e as estruturas corporativas também. Precisamos acompanhar esses movimentos de transformação para evoluirmos e nos mantermos sustentáveis”, pondera a assessora de Comunicação.
Diálogo aberto
Com o devido apoio, as comunidades se tornam verdadeiras ferramentas estratégicas de comunicação interna, especialmente quando o objetivo é aproximar colaboradores e lideranças. Por serem formados por pessoas engajadas, que se reúnem em torno de causas ou interesses comuns, esses grupos, quando bem estruturados, podem facilitar – e muito – o diálogo em todos os níveis da empresa. “Um grupo de equidade de gênero, por exemplo, pode trazer as vozes dos colaboradores para a liderança, transformando o diálogo em uma conversa de mão dupla, e não apenas algo top-down”, comenta Carolina, da Intel.
As comunidades também promovem a colaboração entre áreas, como destaca Kátia Okumura Oliveira, da Seguros Unimed, ampliando ainda mais o alcance da comunicação interna. “As comunidades tendem a ser espaços de encontro de áreas diferentes, o que por si só já é um exercício puro de colaboração e inovação”, analisa. Entretanto, quando um colaborador estabelece conexão com alguém de outra área, os efeitos são ainda mais potentes: “ele passa a ter mais empatia e colaborar mais, criando um ambiente propício à inovação”.
O centro de tudo
Para Kátia, a comunicação interna é o ponto de encontro de 100% dos colaboradores, independentemente do perfil, sendo o eixo central das comunidades. “Por ser uma área que lida diretamente com todos os colaboradores, ela consegue não só conhecer e se relacionar com eles, mas também destacar temas relevantes para a companhia”, explica.
Essa dinâmica permite que os grupos não se limitem às suas funções e gerem impactos positivos na rotina da organização como um todo. Fortalecer as comunidades significa não apenas reforçar os valores da empresa, mas também impedir que microculturas se desenvolvam fora dos objetivos organizacionais, garantindo que todos compartilhem e vivam os mesmos princípios. “Nosso papel é fazer essas correlações e dar visibilidade aos trabalhos desenvolvidos pelas comunidades, despertando interesse e engajamento por meio de narrativas atraentes e mensagens-chave”, conclui a porta-voz da Seguros Unimed.
Desafios na construção das comunidades
Mas construir e manter comunidades engajadas não é tão simples quanto um encontro entre torcedores apaixonados pelo mesmo time possa parecer. O verdadeiro desafio, como apontam as especialistas, está em identificar essas comunidades e utilizá-las estrategicamente a favor da organização. E, embora fazer parte de um grupo seja positivo, a participação exige mais do que boas intenções ou interesse casual. “Um dos principais desafios é manter a chama dos grupos acesa. Exige participação, compromisso e dedicação”, ressalta Kátia Okumura Oliveira.
Além disso, é preciso gerenciar as expectativas e frustrações que surgem pelo caminho, já que nem todas as ideias podem ser implementadas de imediato. “Temos que ajudá-los a não desanimar com os ‘nãos’ e lembrá-los do porquê fazem parte daquele grupo”, reforça. Nesse cenário, a comunicação interna atua como um pilar estratégico, garantindo que os grupos estejam alinhados com os objetivos da empresa, zelando para que as iniciativas comunitárias estejam sempre em sintonia com a marca e as mensagens institucionais. “Há um trabalho de bastidores que precisa acontecer constantemente para que a comunidade se mantenha engajada. Orientação, acompanhamento, proximidade, transparência e estímulo são aspectos fundamentais dessa relação”, reflete Kátia.
Dobradinha com o RH
Se estamos falando de comunidades, é claro que estamos falando de pessoas. E, como não poderia ser diferente, a área de Recursos Humanos entra em cena como a maior especialista em gente. Na Ferrero, essa parceria é crucial, como bem ressalta Daniel Dias. Embora não existam comunidades formalmente estruturadas na empresa, temas sensíveis às organização são trabalhados pela comunicação interna por meio de grupos de embaixadores locais e globais, sempre com o apoio do RH. “Trabalhamos de maneira mais abrangente e optamos por não formatar nichos específicos. O objetivo é nos fortalecermos ainda mais como companhia.”
Segundo o porta-voz da Ferrero, o desafio hoje é manter a consistência, reforçando que não há espaço para intolerância ou má conduta. Na sua visão, o papel do RH vai muito além da gestão; é sobre trabalhar em conjunto com áreas estratégicas, como o Jurídico e a Liderança, para promover conhecimento, suporte e garantir um ambiente diverso, inclusivo, ético e equitativo.
Visibilidade, respeito e valorização
Na Ferrero, os embaixadores funcionam como um canal seguro para debater as cinco principais dimensões de diversidade e inclusão: gênero, raça, etnia, pessoas com deficiência e multiculturalidade. Nesse cenário, a comunicação interna deixa de ser apenas um facilitador, assumindo um papel estratégico ao promover eventos que dão visibilidade a esses temas. Iniciativas como o PodTalks e o DiversiTalks garantem que esses assuntos estejam presentes no dia a dia dos colaboradores, e, com a frequência certa, eles passam a fazer parte da rotina da empresa, ganhando relevância e se fixando de vez na agenda corporativa. Também são realizadas reuniões que, segundo o especialista, “estimulam o senso de grupo,” gerando trocas significativas entre os colaboradores. Além disso, canais internos de comunicação, como Viva Engage e Forward, complementam a estratégia.
Daniel Dias acredita que essa abordagem traz três grandes benefícios: o primeiro é a consolidação dessas pautas dentro da companhia; o segundo, um ambiente positivo, sem espaço para intolerância; e o terceiro, o fortalecimento de uma cultura inclusiva, baseada na corresponsabilidade e transparência. “Colocar ‘pessoas no centro’ é nossa premissa, e a comunicação interna dissemina essa mensagem. Estimulamos o crescimento dos embaixadores, ampliamos a conscientização com treinamentos e criamos espaços de fala e escuta, onde os colaboradores se conscientizam sobre condutas inadequadas”, reflete o diretor.
Para Kátia, esse papel da comunicação interna também se reflete em como ela pode dar visibilidade ao trabalho desenvolvido pelas comunidades. “Estamos em um lugar central que nos permite fazer correlações entre colaboradores e assuntos importantes,” afirma.
Vantagens para todos
Nesse cenário de olho no olho e muita empatia, as comunidades ou grupos de discussão proporcionam benefícios para todos os lados, amplificando a comunicação interna e, ao mesmo tempo, conectando as pessoas de uma forma muito mais profunda. Mas, além de fortalecer o lado humano, também há ganhos bastante objetivos para os colaboradores. Carolina Prado traz um exemplo prático.
Em 2009, a comunidade de gênero da Intel levou para os Estados Unidos, onde está a maior parte do RH da empresa, a proposta de ampliar a licença-maternidade e, de quebra, reduzir impostos. “O mais interessante é que isso foi aprovado muito mais rápido do que se tivesse passado pelos processos tradicionais de RH”, destaca Carolina. Como esses grupos são bem-vistos e considerados formais dentro da empresa, acabam ganhando mais espaço e influência, o que ajuda a agilizar o processamento de demandas importantes.
Estratégia de comunicação
Do lado da comunicação interna, as comunidades também mostram ainda mais seu valor. Grupos engajados se tornam porta-vozes naturais da empresa, inclusive para o público externo, desde que se sintam ouvidos. Aqui, o segredo está em como a comunicação interna consegue integrar essas vozes ao discurso corporativo de maneira genuína.
Por estarem mais envolvidos no que acontece internamente, esses colaboradores são influenciadores internos em potencial – basta capacitá-los para que a estratégia deslanche. “Isso pode ser feito via comunicação interna, dando apoio para que a maneira como se comunicam e realizam suas atividades chegue a todos os colaboradores, não ficando restrito a um nicho”, destaca Carolina Prado. A ideia, segundo ela, não é controlar as atividades, mas unificá-las com um calendário e propósito claros. Esse modelo cria um ciclo de ganha-ganha: mais colaboradores atuando e, assim, promovendo as ações internamente.
Além disso, ela explica que na Intel Brasil, onde todos têm acesso ao computador, os canais online, como o Teams, são os mais eficazes para alcançar as pessoas, enquanto em outras áreas, como a indústria, jornais murais e comunicações offline desempenham esse papel. “As comunidades têm o objetivo de fortalecer o senso de pertencimento, fazendo com que os funcionários realmente sintam que são parte da empresa”, acrescenta Carolina. E, ao dar voz a elas, a empresa reduz a sensação de que tudo vem de cima e cria um ambiente onde as decisões parecem mais compartilhadas. “Não é só uma mensagem corporativa da liderança, é funcionário falando para funcionário”, conclui.
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