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Abaixo dos 40, mas acima dos 30

Uma série de reflexões de um executivo

Em novembro, completei 36 anos, uma idade estranha, pois você não está casa dos quarenta anos, mas, com certeza, não é mais aquela pessoa de trinta anos, com uma visão ainda imatura e romântica de alguns aspectos da vida. Obviamente, idade é um número e o tempo é relativo, pois algumas pessoas passam por situações duras no começo de suas vidas que as obrigam a amadurecer mais rápido, mas esse texto não é sobre maturidade e sim sobre ciclos.

Quando comecei pensar nessa pauta e relembrar todos os aprendizados, desgostos, alegrias e arrependimentos da minha trajetória até então, percebi algo valoroso, que gostaria de compartilhar. Esse não é apenas um artigo de carreira, mas de vida também.

Dinheiro custa caro

Uma das poucas certezas que tive até o momento foi que todas as decisões baseadas somente em dinheiro foram as piores e as que me causaram mais estresse e decepção. Todos conhecemos aquele profissional que migrou sua carreira e fez uma escolha baseada apenas na via monetária e se deparou com o desafio de cultura, de se adequar ao novo ambiente e de lidar com um líder déspota, pois os tiranos são os melhores em te manipular pela via financeira.

Felicidade na curva

Sobre felicidade, um tema de muito debate e amplamente discutido, sempre achei o assunto frágil e enxergava os tais gurus da felicidade como falsos profetas. Contudo, aprendi uma lição que me pareceu valiosa: seja feliz na curva onde está. Como se a vida fosse uma curva, cheia de altos e baixos, e a felicidade uma habilidade aprendível, como bem diz Naval. Saber aproveitá-la, na variação da curva, vai te trazer conforto mental e, para isso, é preciso um certo treino, como buscar motivos para agradecer na semana, reconhecer as brigas desnecessárias para economizar energia para coisas mais relevantes e criar uma rotina que se adeque melhor a vocês.

Embaixadores serão vitais

Achar que ser bom ou competente te trará um “lugar ao sol” é um erro gigante: você precisará de embaixadores para falar por você. Esses defensores estão em todo lugar, eles não têm cargo, posição hierárquica e, mesmo assim, detém o poder de mudar sua vida. Já presenciei pessoas serem promovidas em conversas aleatórias de café ou corredores, porque alguém a endossou de maneira simples e honesta.

A melhor maneira de fazer isso é se expor a diversos tipos de experiências, trabalhar com todo tipo de gente e avaliar que impacto você está gerando nos negócios, nas pessoas e na sociedade. Acredito que esse tipo de reputação vem com tempo e, assim como vinho, dependendo de como você cuida, só fica melhor.

Leveza na adversidade

Um ponto é certo: muitas vezes as coisas vão dar errado, por mais que haja brilhantismo no planejamento. Aceitar esse fato vai te ajudar a se preparar mentalmente para os contratempos que vão aparecer. 

Eu tinha uma grande irritabilidade com os reveses dos planejamentos e gastava muita energia remoendo o que deu errado, ao invés de aceitar o fato de que provavelmente 80% das situações estão fora da minha mão e que eu preciso de gás para alocar nos 20% que estão, de fato, no campo de ação.  

Não é sobre você

Sou muito competitivo e, com esse desejo de crescer, me colocava como o centro dos meus planos e ações, buscando o holofote em grande parte das situações. Depois de algumas experiências e muito trabalho interno, percebi o quão irrelevante isso era. Importante questionarmos quantas vezes realmente paramos para escutar alguém, de forma ativa, visando o bem da outra parte. Ou em quantas batalhas duras entramos para ajudar alguém?

Questões como essas têm sido frequentes em minhas análises, de maneira ampla nos últimos anos, e têm me feito pensar no meu papel mais amplo, não somente como homem de negócios, mas no cerne de quem somos, pois eu estou executivo. Importante essa avaliação entre o Ser e Estar.

Nunca, jamais, negocie seus valores pessoais

A palavra radical tem em sua etimologia no latim Radix, que significa raiz, ou seja, radical é aquele que tem raízes. Princípios são tesouros muito pessoais e, na minha visão, são inegociáveis. Qualquer pessoa que terceiriza sua bússola moral está perdida. Seus valores serão a melhor voz interna para te ajudar nas decisões e caminhos a seguir, eles são um conjunto de experiências e princípios que você carrega de outros que vieram antes de você. 

 A boa fundação

Vivemos em um tempo de pressa e pressão, no qual parece que todos devem ser prioritariamente protagonistas, donos da sua própria história. Tenho percebido um fenômeno interessante, em que muitas pessoas têm forçado o reconhecimento, mesmo sem ter uma construção ou entrega relevante. Há um efeito maléfico naquele que acaba tendo a promoção sem o devido crescimento, pois acredito que a boa fundação vai te levar para um futuro mais sólido e próspero.

Assim como um atleta de alta performance, que passa por anos de treino, metodologias, dietas específicas e enfrenta competição para pôr em prática os aprendizados, eu acredito firmemente que a carreira de um executivo e empreendedor deveria seguir uma linha similar. Essa boa fundação trará mais domínio, paz de espírito e ferramentas que podem tirá-lo de situações difíceis ou pelo menos fazê-lo enxergar com mais clareza as cascas de banana que estarão na sua frente.

Dê valor ao que importa

Na corrida diária, percebo que acabamos por negligenciar de maneira irresponsável alguns aspetos fundamentais em nossas vidas. Tenha em mente que seus filhos não serão crianças para sempre, e aproveite os momentos ao máximo com eles e outros entes tão queridos quanto. A ambição de se tornar sócio da empresa na qual trabalha é ótima para a carreira, mas não deixe de lado ser sócio naquilo que mais importa: o seu cônjuge, sua família. Ninguém detém todo o conhecimento do mundo, mesmo sendo um expert na área; por isso, estude sempre pois a sabedoria é a maior das conquistas pessoais. Construa bons relacionamentos de longo prazo em todos os ambientes em que atuar: em casa, no trabalho, com amigos, na sociedade em geral. Evite comparar-se aos outros, pois esta é uma armadilha perigosa. Uma ferramenta eficiente para organizar o fluxo mental é praticar a meditação, que auxilia a calibrar as energias e a concentração. Mantenha sempre sua bússola moral afinada, pois percalços pelo caminho modem tirá-la do seu norte. Pratica a escuta ativa, prestando atenção no seu interlocutor e extraindo da conversa o que possa ser útil e de valor.

Por fim, de tempos em tempos, se faça a pergunta: “qual a coisa óbvia que não estou vendo?”. É sempre mais fácil observar uma situação mais detalhadamente e com maior razão quando fazemos o exercício de nos afastar e enxergar o todo.

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Rafael Catolé

VP Internacional da Natural One.