Com mais de 440 mil afastamentos por transtornos mentais registrados apenas em 2024, segundo o Ministério da Previdência Social, e 450 acidentes de trabalho fatais reportados no país entre janeiro e novembro do mesmo ano (dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação – SINAN), o Movimento Abril Verde chega com um recado urgente: saúde e segurança no trabalho deixaram de ser apenas uma questão de compliance — são hoje elementos centrais da estratégia de negócios, especialmente para médias e grandes empresas.
Criado com o objetivo de conscientizar empregadores e trabalhadores sobre a prevenção de acidentes e doenças ocupacionais, o Abril Verde ganha ainda mais força em 2025 com a atualização da Norma Regulamentadora nº 1 (NR-1), que passa a vigorar a partir de maio. A nova norma exige uma postura ativa por parte das empresas, especialmente no que se refere à gestão dos riscos psicossociais, como assédio, sobrecarga e falta de apoio organizacional.

“A saúde mental tem se tornado um tema crítico”, afirma Juliana Krebs Aguiar, fundadora da Krebs Aguiar Advocacia, professora da Ulbra e mestre em Direito da Empresa e dos Negócios. “Os afastamentos por transtornos mentais dobraram na última década. Isso evidencia a urgência de ações preventivas no ambiente corporativo, tanto pelo cuidado com todos quanto para evitar perdas produtivas e riscos jurídicos.”
A partir de agora, a inclusão obrigatória desses riscos no Programa de Gerenciamento de Riscos Ocupacionais (GRO) exige das lideranças uma reformulação completa da forma como se enxerga a segurança no trabalho. Não se trata mais apenas de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs) ou de laudos técnicos: a mudança é cultural.
“Deixa de ser uma escolha e passa a ser uma exigência regulatória”, destaca Juliana. “A nova NR-1 demanda uma abordagem proativa, incluindo campanhas de conscientização, suporte psicológico, monitoramento contínuo e treinamentos para lideranças.”
A responsabilidade é clara: o ambiente de trabalho deve ser continuamente monitorado e adaptado para proteger a integridade física e emocional dos colaboradores. Para Rodrigo Soravassi, engenheiro da Trabt Medicina e Segurança do Trabalho, isso passa por uma gestão ativa de riscos.

“Cabe ao empregador realizar o gerenciamento dos riscos ocupacionais, garantindo assim um ambiente de trabalho saudável”, afirma. “Quando ocorre um acidente, as consequências podem ser devastadoras, afetando não apenas o trabalhador, mas também sua família, comprometendo sua saúde física, emocional, financeira e social.”
O desafio não é apenas técnico. É também de liderança e cultura organizacional. Para além da legislação, a prevenção depende de uma mudança de mentalidade — e da mobilização de toda a estrutura organizacional.
“A segurança no trabalho ainda depende muito da conscientização das empresas e da pressão de sindicatos e do Ministério Público”, explica Soravassi. “Quanto mais falamos sobre segurança no trabalho, mais conseguimos evitar acidentes e doenças ocupacionais.”
A conscientização dos trabalhadores é outro fator chave para a construção de ambientes seguros. Treinamentos, comunicação clara e acesso à informação devem ser constantes — não apenas durante o Abril Verde.
“Quando os colaboradores entendem os riscos, conhecem seus direitos e sabem como agir preventivamente, tornam-se agentes ativos da segurança no trabalho”, ressalta o engenheiro. “As empresas devem investir continuamente em treinamentos, equipamentos de proteção e na criação de uma cultura organizacional voltada à prevenção.”
Para Juliana , essa transformação pode e deve ser encarada como uma vantagem competitiva:
“Implementar medidas eficazes de segurança e saúde ocupacional não só reduz riscos legais, mas também fortalece a competitividade das empresas. Ambientes de trabalho saudáveis retêm talentos e melhoram os resultados.”
Empresas que se antecipam às exigências legais e se posicionam como ambientes seguros e acolhedores ganham em reputação, produtividade e retenção. Em tempos de desafios intensos no mercado de trabalho, especialmente com novas gerações buscando mais propósito e bem-estar, a conexão entre saúde ocupacional e estratégia empresarial nunca foi tão evidente.
Abril é o mês da prevenção, mas a mensagem é válida o ano todo: segurança no trabalho não é custo — é valor agregado.