Por que se comunicar com os colaboradores se tornou tão estratégico nos últimos anos? Por que investir em campanhas e ações diferenciadas para um público que talvez não consuma diretamente o produto da empresa em que trabalha? Estas são, ainda, algumas das perguntas feitas por muitos gestores.
A comunicação interna ganhou força graças ao processo de globalização por volta dos anos 1990. Com o crescimento da economia e das organizações, vieram junto a concorrência acirrada, o aumento da produção e a necessidade de ter uma mão de obra qualificada e engajada. Com o processo de internacionalização das organizações, o mercado também assistiu de perto às fusões e aquisições, que trouxeram à tona a insegurança do público interno, e consequentemente, o impacto disso no clima organizacional.
#L# Também é necessário considerar as mudanças nos processos comunicacionais e tecnológicos nesses anos. O ser humano nunca teve acesso a tantas informações, como na era atual, como também nunca se comunicou tanto, graças às novas ferramentas, como as mídias sociais.
Conquistar a fidelidade dos colaboradores, em meio a tantas ofertas de emprego no mercado, como também em meio às instabilidades econômicas e o acesso à informação, é um dos grandes desafios a serem considerados pelas organizações, sejam elas públicas, privadas e sem fins lucrativos. Fidelidade se conquista com confiança, e a construção consolidada da reputação da marca se faz também por meio da comunicação interna (bem) planejada.
Sendo assim, seguindo as tradicionais teorias da comunicação, as organizações tornam-se emissoras constantes de informação na qual têm a função e o poder de transmitir uma mensagem para um público com perfis diversos, utilizando canais de comunicação eficientes para evitar ruídos (tais como rumores, fofocas, rádio peão, por exemplo). Daí é possível compreender melhor os objetivos da comunicação interna: trazer a transparência aos diferentes níveis da organização, como também disseminar a cultura, os valores, a missão, os planos de ações, os resultados e as metas, motivar e envolver a equipe como parte do processo.
Para Daniella Barbosa, gerente de marketing da Gocil Seguranças e Serviços, responsável pela comunicação estratégica de aproximadamente 20 mil colaboradores distribuídos em oito estados brasileiros, a comunicação interna tornou-se um elo entre o colaborador e a empresa. “Para nós, esse elo ou linha não pode ser rompida ou abalada. Por isso, é necessário cuidar [desse processo] com critério para ter esses funcionários no nosso time todos os dias. Por sermos uma empresa de serviços, o processo de envolvimento é muito mais forte. Trata-se de uma tarefa cuidadosa dentro da estratégia da organização”, explica Daniella.
Michele, da P&G: comunicação de forma horizontal |
Na visão da gerente de comunicação corporativa da Procter & Gamble Brasil, Michele Colombo, o funcionário é o alicerce de uma companhia. “Usamos a comunicação interna como uma forma de aproximá-lo do negócio da P&G Brasil, de forma a engajá-lo, enxergando a companhia como sua. Isso é essencial para a produtividade desse funcionário. Temos uma política de desenvolvimento interno de nossas lideranças, então é importante manter nosso funcionário, desde o nível inicial ou ainda estagiário, informado sobre as direções e acontecimentos da companhia”, conta Michele.
Apesar de a Procter & Gamble estar no Brasil há 25 anos, somente em 2012 a empresa começou a desenvolver ações direcionadas por aqui, pois antes vinham da matriz mundial. Há um ano e meio, a área de comunicação corporativa passou a ser responsável pela comunicação interna, desenvolvendo mais canais para comunicar informações locais e focadas na empresa.
Entre as diversas ações de comunicação da P&G, uma das que mais chamam a atenção é a reunião trimestral chamada Sessão de Comunicação, que acontece em todas as fábricas e no escritório central. Nessa reunião, o presidente ou diretor da unidade apresenta os resultados do trimestre que passou, os planos e estratégias para o trimestre seguinte e responde perguntas. “É feito o reconhecimento de funcionários com contribuições especiais ou excepcionais com o objetivo de motivar e engajar todo o restante. Acreditamos na comunicação de forma horizontal”, observa Michele.
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Público interno e presidente
Apesar das novas tecnologias e das tentativas das organizações de adotar as redes sociais, o velho método do face to face (cara a cara) tem predominado nas organizações para humanizar e trazer a menor distância entre líderes e liderados.
A empresa Masisa Brasil, que desenvolveu um modelo estruturado de comunicação interna em março de 2013, também adotou a estratégia ao implantar o projeto Mais interação. Trata-se de um encontro presencial para que a liderança divida com os demais colaboradores suas estratégias, projetos e iniciativas. A agenda do Mais interação engloba encontros com gerentes de projetos, líderes locais, diretores e presidente, no evento especial Café com a presidente. “O líder é um canal extremamente importante. Por isso, utilizamos a força dele para transmitir a mensagem. Sentimos que a mensagem face a face ainda é uma das mais eficazes na comunicação com os colaboradores”, explica a gerente de comunicação corporativa e sustentabilidade da Masisa Brasil, Yazmín Trejos.
Adotar a figura do presidente como um veículo de comunicação direta com o público interno é uma das estratégias para estreitar a relação e criar envolvimento. Além disso, elimina hierarquias, e todos passam a ter voz e importância dentro do processo.
Márcia, da Apetit: visita periódica aos funcionários |
É o que acontece na Apetit Serviços de Alimentação. Com uma gestão de pessoas a distância – afinal, seus dois mil funcionários estão distribuídos em 12 estados – a Apetit foi reconhecida pelo Great Place to Work como uma das empresas que mais se aproximam do público interno, apesar de estar inserida dentro da cultura de outras empresas (no caso, seus clientes). A presidente Márcia Manfrin se organiza para visitar periodicamente seus funcionários para passar mensagens-chaves e direcionamentos organizacionais, e ainda abriu o canal Fale com o Presidente, no qual responde pessoalmente pedidos, dúvidas, críticas e elogios. “Comunicação com resultado se dá no olho no olho, transmitindo sinceridade, transparência e respeito. Esses são os aspectos que fazem o colaborador acreditar e confiar na empresa em que está inserido. Outros meios de comunicação, tais como mural, e-mails, jornais, são importantes, mas nunca devemos esquecer o olho no olho”, avisa Márcia.
Também dentro da estratégia de criar uma maior aproximação, a Apetit promove cinco convenções anuais para o colaborador acompanhar de perto os planos, sua importância dentro do processo e o alcance das metas. “Utilizamos a comunicação interna para informar metas, conquistas, celebrações, desafios, expansão, contratações, benefícios, direitos e deveres etc. Tudo precisa estar claro”, observa a presidente.
Também na mesma linha de raciocínio da Apetit, a Mexichem Brasil foca, desde 2012, a proximidade com seus quase três mil colaboradores, utilizando a estratégia de envolvimento de funcionários, gestores e líderes na construção de um novo ciclo na companhia. A ação criada Vem com a gente! foi um momento que englobou várias ações de aproximação dos líderes, diretoria e presidência com os colaboradores. Esse é o sentido dos encontros Café e papo, que já existem há vários anos e promovem reuniões dos diretores com os colaboradores e com os líderes das unidades.
Outra importante iniciativa de aproximação são as visitas que o presidente da Mexichem Brasil tem realizado a cada uma das plantas da companhia, conversando com 100% dos colaboradores e das lideranças nos três turnos de trabalho, para compartilhar com todos o novo momento da empresa. Como um convite aos profissionais para crescerem junto com a companhia, as visitas criam espaço para que os colaboradores exponham suas dúvidas e façam perguntas, permitindo ouvir as pessoas e perceber, mais rapidamente, o que acontece com elas no dia a dia de trabalho. Todas as unidades foram visitadas em 2012, e o programa teve continuidade em 2013 e agora, em 2014.
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Agência de comunicação interna
Yazmín, da Masisa Brasil: comunicação face a face é poderosa |
Para obter um resultado efetivo de comunicação interna, alguns passos precisam ser cumpridos: investigar e estudar os hábitos do público interno, sensibilizar os diferentes níveis da organização, criar estratégias de informar por diferentes canais, envolver os colaboradores, organizar campanhas, coordenar para que todas as etapas sejam cumpridas e mensurar o retorno.
Para que o resultado seja satisfatório é importante ter uma equipe qualificada e capacitada para entender os processos e tarefas a serem cumpridas. Para isso, algumas empresas têm adotado uma equipe interna ou criado uma agência interna para atender toda a demanda e garantir que todas as ações sejam feitas.
A Masisa, por exemplo, criou o Sistema mais Masisa de comunicação, que engloba todos os canais de comunicação voltados ao público interno. Além de uma equipe formada por uma gerente, um coordenador e um especialista, com uma analista de comunicação em Ponta Grossa e uma em Montenegro, onde há duas fábricas e estão os principais públicos (300 colaboradores em cada unidade, aproximadamente). “Esse recurso nos ajuda a captar as informações personalizadas com mais rapidez e eficiência, e dar vazão em cada comunicação”, conta a gerente de comunicação Yazmín Trejos.
O mesmo caminho segue a Cia. Hering. Há aproximadamente 10 anos, foi criado um grupo chamado Agentes de comunicação – colaboradores de várias áreas que atuam voluntariamente em prol da comunicação interna. “Trabalhamos todas as informações de relevância aos colaboradores, que vão desde os comunicados internos (normas e procedimentos, informações sobre as marcas e sobre a empresa como um todo, emendas de feriado etc.) até mesmo premiações recebidas, alterações estruturais, entre outras”, explica a gerente de comunicação institucional da companhia, Amélia Malheiros.