Acrescente participação dos produtos importados no mercado brasileiro está provocando uma verdadeira atrofia em alguns setores da indústria nacional, e já se fala no início de um processo de desindustrialização do país, dono do 11º maior parque industrial do mundo. Diante da competição estrangeira, muitas companhias têm abandonado sua atividade industrial para revender produtos importados, enquanto outras transferem sua produção para outros países em busca de maior competitividade. Apesar de solucionar o problema individual da empresa, esse tipo de saída causa uma retração da indústria, o que refletirá em prejuízo para o mercado de trabalho.
Segundo especialistas, a crise vivida pela indústria atualmente ainda não se traduz em menor número de emprego porque o forte crescimento da demanda interna tem mascarado essa realidade. Entre 2004 e 2010, a indústria criou 3,3 milhões de novos empregos, sendo 1,7 milhão de novos postos de trabalho somente na indústria de transformação, excluindo o setor extrativo e de construção. Em 2010, o saldo da indústria foi positivo em 1 milhão de novos empregos, sendo 600 mil na indústria de transformação.
Embora a geração de empregos na indústria de transformação tenha sido positiva em 2010, o Departamento de Estudos e Pesquisas Econômicas (Depecon) da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) estima que 75 mil empregos deixaram de ser gerados no setor nos primeiros nove meses de 2010 em virtude do aumento das importações.
As perspectivas para o mercado de trabalho não são animadoras porque a tendência da indústria é de declínio. Quando o país começar a crescer mais lentamente ou parar de crescer, esse efeito sobre os empregos ficará mais visível. Em novembro do ano passado, o emprego industrial amargou o quarto mês consecutivo de estagnação, segundo a Pesquisa Industrial Mensal: Emprego e Salário (Pimes), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Rudney Pereira Junior, gerente de projetos do Grupo Foco, consultoria de recursos humanos, afirma que a indústria ainda não dá sinais de queda no emprego, e aponta que vários clientes da área industrial estão iniciando novos projetos neste momento. Mesmo assim, ele acredita que os sintomas da crise da indústria podem ficar mais evidentes em cerca de dois anos, a depender da condição macroeconômica do país.
De acordo com o diretor de competitividade da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq), Mário Bernardini, a participação da indústria dentre todo o emprego de carteira assinada no país já começou a diminuir. Nos últimos cinco anos, a fatia da indústria passou de 18,5% para 17,7% no total de carteiras assinadas. Segundo ele, os setores industriais mais afetados pelas importações são os de média e alta tecnologia, como máquinas e equipamentos, material elétrico, plástico e automóveis. “Todos dobraram ou triplicaram sua taxa de importação nos últimos cinco anos”, afirma.
Na indústria de transformação, as importações representavam 10% há cinco anos, mas hoje chegam a 25%, o que gera um déficit de 100 bilhões de dólares na balança comercial do setor. Em alguns segmentos, a parcela dos importados chegou até a 60%, como é o caso das máquinas e equipamentos. De acordo com o levantamento da Abimaq, 60% desse mercado era composto por produtos nacionais e 40% de importados há cinco anos, mas hoje a conta se inverteu. No setor automotivo, as importações passaram de 8% para 22% do consumo no mesmo intervalo.
Um efeito colateral destrutivo é a substituição de fornecedores nacionais de componentes por estrangeiros. “Além de deixar de criar empregos, isso destrói o setor intermediário de fornecimento”, afirma. Com isso, além dos produtos finais importados, existe um grande volume de produtos nacionais feitos com insumos importados, o que compromete toda a cadeia fornecedora.
Importações em alta
Considerando toda a indústria de transformação, os resultados também são preocupantes. Enquanto o consumo aparente cresceu 36% nos últimos cinco anos, a produção cresceu 20%, e as importações cresceram 121%, de acordo com a entidade. “Se o Brasil não lutar pela competitividade da indústria, teremos de aprender mandarim”, diz o representante da Abimaq.
No setor eletroeletrônico, o déficit da balança comercial alcançou 27,3 bilhões de dólares em 2010, registrando recorde histórico, segundo a Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee). O resultado foi 56% acima do apontado em 2009 (17,5 bilhões de dólares) e 23% superior ao de 2008 (22,1 bilhões de dólares). De acordo com o levantamento, os países do Sudeste da Ásia permaneceram como principal origem das importações de produtos do setor, representando 63,5% do total.
Em dezembro do ano passado, a Philips fechou sua fábrica de lâmpadas automotivas no Recife, com 400 funcionários. A companhia decidiu importar as lâmpadas de suas unidades em outros países, como a China. Procurada pela reportagem, a empresa confirmou o fechamento da unidade, mas afirmou que tem feito investimentos constantes no Brasil, um de seus principais mercados.
A Paletrans, empresa fabricante de transpallets manuais, equipamento hidráulico para movimentação de mercadorias em supermercados, também está sofrendo com a concorrência chinesa e poderá partir para as importações caso o cenário cambial não se altere. Segundo o presidente da companhia, Lineu Matos Camargo Penteado, várias empresas do setor desistiram de fabricar o produto no Brasil nos últimos anos devido ao avanço dos concorrentes importados. “Estamos trabalhando com prejuízo, à espera de uma melhora no câmbio, mas não afasto a possibilidade de me render ao produto chinês”, afirma.
Segundo ele, a Paletrans está lutando para evitar essa saída porque seria “um desastre” para o país. “Se houvesse um índice para calcular a balança comercial da mão de obra, os números seriam assustadores, porque estamos exportando muitos empregos”, afirma. O câmbio também atingiu em cheio as exportações da empresa, que há oito anos embarcava 30% da produção, mas hoje destina apenas 0,2% para o mercado externo. Apesar dos problemas no setor de transpallets, a companhia, sediada em Cravinhos, interior de São Paulo, não partiu para demissões devido ao avanço da sua área de empilhadeiras elétricas, que não enfrenta similares importados. A Paletrans conta com 300 colaboradores, sendo que 120 trabalham no segmento de transpallets.
O segmento de consumo também tem sofrido o impacto das importações. No setor calçadista, o avanço dos produtos chineses levou o governo a impor uma tarifa de importação de 13,83 dólares por par de calçado chinês em março do ano passado. No momento, o ministério está investigando a suspeita de que Malásia, Indonésia e Vietnã estariam enviando produtos chineses para o Brasil indiretamente. Caso a triangulação seja confirmada, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) deve estender a tarifa anti dumping para esses países.
Além da feroz concorrência chinesa, os especialistas alertam que o país também sofre com uma agressividade maior de nações desenvolvidas que ainda não tiveram uma recuperação interna depois da crise internacional, e agora buscam escoar sua produção por meio das exportações.
“Com os mercados internos ainda abalados, muitos países estão aumentando as exportações”, segundo o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Rogério César de Souza.
Outro indicador da retração da indústria é sua menor participação no Produto Interno Bruto (PIB). De acordo com o Iedi, o setor representava 27% do PIB na década de 80, mas atualmente representa 16%. Ele explica que o processo ocorreu em todo o mundo, mas não com tanta velocidade. “Nos EUA, foi um processo de mais de 70 anos”, afirma. Segundo Souza, a indústria continua a ser um importante motor nas economias, tanto nos EUA quanto em países emergentes como Coreia, China e Taiwan. A indústria impulsiona a geração de empregos no setor de serviços porque suas atividades demandam serviços associados de alimentação, segurança, saúde e transporte.
O professor de economia da PUC-SP e membro do conselho econômico da Fiesp e da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Antônio Lacerda, explica que um dos principais benefícios gerados pela indústria é a criação de valor agregado sobre as matérias-primas, uma vez que o país ganha mais exportando café solúvel do que café, por exemplo. Por essa razão, o especialista alerta para o risco do desequilíbrio das contas externas, uma vez que as compras do país tendem a ficar muito maiores do que suas vendas para o exterior.
No ano passado, o déficit da indústria de transformação atingiu o recorde de 37 bilhões de dólares, 125% acima do saldo negativo obtido em 2009, segundo cálculos da Secretaria de Desenvolvimento da Produção, do MDIC. Se forem considerados apenas os produtos manufaturados, excluindo bens com pouco grau de transformação como aço ou celulose, o déficit atingiu 70,9 bilhões de dólares em 2010.
Setro de eletroeletrônico registrou déficit histórico da balança comercial |
Medidas para recuperação
Apesar do cenário sombrio, os economistas acreditam que a crise vivida pela indústria brasileira é reversível e depende de uma ação efetiva do governo. O principal tema do momento é o câmbio, que tem operado pouco acima de 1,65 real no começo deste ano, tornando as importações mais baratas e as exportações mais caras.
De acordo com Lacerda, um patamar mais adequado para o dólar seria de pelo menos 2 reais. Ele explica que o governo tem tomado algumas medidas, mas que o problema central é a alta taxa de juros brasileira, que atrai capital especulativo para o país. Com isso, a oferta de dólares aumenta e o real se valoriza. “O câmbio agrava as piores condições de competitividade que o Brasil tem em relação com outros países”, diz.
A constante alta do real ante o dólar e o alto nível da taxa de juros levaram as reservas internacionais do país a atingirem um recorde histórico em fevereiro, com 300 bilhões de dólares. A aquisição de dólares pelo Banco Central, na tentativa de impedir a valorização acelerada da moeda brasileira, contribui também para a expansão das reservas estrangeiras. Outra medida tomada pelo governo para impedir uma maior valorização da moeda foi o aumento da alíquota do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 2% para 6% nas aplicações de investidores estrangeiras em renda fixa. O governo determinou ainda que as instituições financeiras que operam com posições de câmbio vendidas (ou seja, que apostam na valorização do real) deverão recolher 60% sobre o valor que exceder 3 bilhões de dólares.
Na visão da Fiesp, essas alternativas ainda são insuficientes. “O governo tem agido timidamente na utilização dos mecanismos de defesa comercial permitidos pelos acordos comerciais da Organização Mundial do Comércio (OMC)”, afirma Paulo Francini, diretor titular do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos (Depecon) da entidade. Ele sugere o uso de barreiras tarifarias e não tarifárias, como exigências de qualidade ou especificações apropriadas, além de medidas contra a prática de dumping e comercialização triangular praticadas principalmente pela China.
O tema da desindustrialização foi levado em fevereiro ao governo pelo Grupo de Avanço da Competitividade (GAC), fundado em 2009, durante a crise financeira internacional. Além do câmbio, a tributação sobre os investimentos e projetos de infraestrutura foram as principais queixas dos empresários. Em declarações à imprensa, o governo tem se mostrado sensível ao tema.
O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, declarou publicamente que o governo está preparando medidas de desoneração do setor produtivo, inclusive da folha de pagamentos, e que poderá aumentar as alíquotas de imposto de importação de produtos cujos similares nacionais enfrentam forte concorrência de importados devido ao câmbio.
De acordo com o professor Lacerda da PUC-SP, a sinalização é animadora. Segundo ele, o ministro do Desenvolvimento do governo anterior, Miguel Jorge, defendia a adoção de medidas compensatórias, como a redução de impostos para determinados produtos, mas isso era insuficiente. “É preciso atuar em todas as frentes porque não estamos competindo entre nós mesmos, mas com a China”, diz.
Outra bandeira do empresariado é a redução da taxa de juros, que frearia a entrada de capital especulativo e estimularia os investimentos na indústria. A infraestrutura deficitária, problemas logísticos e a estrutura tributária que onera a produção também são tidos como vilões que precisam ser avaliados pelo governo neste momento.
Mesmo com tantos indicadores desfavoráveis, a indústria nacional tem a seu favor a previsão de grandes investimentos nos próximos anos, impulsionados pela exploração do pré-sal, pela Copa do Mundo, pelas Olimpíadas e pelas obras de infraestrutura previstas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Segundo o professor do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Fernando Sarti, esses eventos vão gerar uma demanda expressiva, e a indústria poderá se beneficiar.
Resta saber o quanto destas encomendas serão abocanhadas pelos fornecedores estrangeiros e quanto será aproveitado pela indústria nacional.
Seminário em Brasília
Os representantes da classe trabalhadora também estão preocupados com o movimento que afeta a indústria brasileira. Segundo João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força Sindical, é natural que a indústria apresente queda no emprego devido à entrada de novas tecnologias e modos de produção, mas essa tendência está sendo acentuada pelo avanço desenfreado das importações. “A indústria pode ser prejudicada no longo prazo com a facilidade de importação e com a concorrência desleal”, afirma.
Para combater a crise, ele defende a adoção de medidas de proteção pelo governo, como barreiras tarifárias. No momento, a Força, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a Fiesp estão organizando um seminário para discutir o tema da desindustrialização, que deve ocorrer em Brasília ainda no primeiro semestre deste ano. De acordo com Juruna, a importação de produtos industrializados provoca uma redução na criação de novas tecnologias nacionais, o que prejudica o país. “Ao exportar matéria-prima e importar os produtos manufaturados, estamos perdendo todo o ganho de valor agregado”, diz.
A ideia do seminário ganhou corpo no fim de dezembro do ano passado, quando o presidente da Força Sindical, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho, o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, Miguel Torres, e representantes CUT se reuniram com o presidente da Fiesp, Paulo Skaf, para traçar estratégias que impeçam a invasão de produtos importados no país. Na ocasião do encontro, Paulinho afirmou que, embora a economia esteja crescendo e o emprego elevado, “a importação está de assustar”. Para ele, se continuar assim, os trabalhadores serão os primeiros prejudicados. “Corremos o risco de virar um país onde o trabalhador servirá apenas para apertar parafusos”, declarou.
Fenômeno natural
O diretor da Change Consultoria de Organização, Luiz Augusto Costa Leite, ressalta que a questão da desindustrialização não está apenas presa às importações, mas é um fenômeno natural do desenvolvimento dos países. A lógica, segundo ele, é haver uma transição dos empregos na indústria manufatureira para a economia de serviços, inclusive comércio. “Foi assim que os EUA fizeram sua grande mudança nas décadas 80/90 sem reduzir o número de empregos”, diz.
O risco de, nessa transição, haver uma parcela de trabalhadores não absorvidos pelo mercado vai depender da saúde da economia. “Havendo um fluxo intenso de investimentos, haverá vagas. Conforme o tipo de serviço – veja os call centers, por exemplo -, os novos empregos poderão oferecer salários menores que os da indústria. A questão é equilibrar o mix dos negócios nas diversas frentes e suas intersecções: agricultura, commodities, diferentes tipos de indústria, comércio e serviços. Lembremo-nos de que, atualmente, nas economias mais avançadas, o emprego na agricultura não absorve mais que três por cento da mão de obra”, explica o consultor, que também é membro do Comitê Orientador do CONARH 2011.
Capital humano
Para ele, a desindustrialização por falta de capacidade competitiva em preços é uma grande ameaça ao emprego, mas deve ser vista dentro de seu contexto. “É possível, por exemplo, que o Brasil tenha de deixar de produzir calçados porque não compete com os chineses, mas pode estabelecer um mecanismo de trocas que nos dê dinheiro para compensar isso, além de investir pesado na indústria mais sofisticada, por exemplo, na industrialização das commodities que exportamos. Valor agregado é a palavra-chave”, diz.
Por essa razão, ele gosta de destacar que o mundo moderno é o do capital humano. E não é só na indústria sofisticada. No que se refere à qualificação de pessoal, a carga de conhecimentos exigida a um operador é muito maior, mesmo para fazer operações aparentemente simples. “Basta comparar um cortador de cana à maneira antiga com um operador de colheitadeira cheia de controles eletrônicos. Não há nada contra exportar recursos de commodities. A questão é o quanto isso beneficia o país comercialmente e em geração de empregos. Toda a tecnologia é redutora de mão de obra naquele equipamento específico. Quando o empresário substitui um equipamento, o novo produz muito mais com menos gente. Em compensação, o aumento de produtividade deve gerar resultados melhores, o que permite novos investimentos e empregos.”
E por falar em novos empregos, alguns levantamentos vêm mostrando recordes de contratação com carteira assinada no país. Bem como alguns especialistas destacam que nossa economia anda aquecida. Não haveria uma contradição em dizer que vivemos às voltas com um processo de desindustrialização? Sim, de acordo com o advogado José Eduardo Pastore, do Escritório Pastore Advogados. “Na verdade, é um paradoxo. O mercado aquecido e o crescimento da economia promovem dois fenômenos: aumento do emprego e da competição. O paradoxo reside nesse aspecto”, conta ele, apresentando, em seguida, um problema: como competir, tendo de baixar custo (que é inerente ao processo de concorrência) com um custo de mão de obra, sem falar nos outros custos, como o tributário, na ordem de 102% sobre a folha de pagamento?”Cada vez mais empresas brasileiras sofrem os efeitos da concorrência, nacional e internacional, sendo que não podem, por exemplo, contratar mão de obra que custe menos que 102% de sua folha de pagamento. Esse é um dos fatores da ´desindustrialização´´, afirma.
Pastore não concorda com a tese de que a questão da desindustrialização não está apenas presa às importações, mas é um fenômeno natural do desenvolvimento dos países. “Temos o sistema tributário mais injusto do planeta. Onera a produção de forma brutal. Junto a isso, faz pesar sobre a folha de pagamento 102% de encargos sociais. O empreendedor brasileiro, ainda assim é um vitorioso. Só esses dois fatores criam uma situação extremamente desigual, em termos de competição, quando as empresas brasileiras têm de enfrentar o mercado globalizado”, observa.
Pergunta patriota
Em alguns casos, algumas empresas acabam, diante desses custos, buscando instalar em outros países sua produção. Nesse ponto, é preciso se perguntar o porquê do fenômeno da desindustrialização, instiga Pastore. “Ele, quase sempre, não decorre de uma opção, mas da falta de opção, ou seja, a migração de empresas para outros países é decorrente de uma crise, dificuldade, e não de uma oportunidade. Você pode perguntar para os empresários que foram para a Índia ou China por que foram para lá. Ou, se desejar fazer uma pergunta um pouco mais patriota, pergunte para esse empresário se o seu custo de contratação ou carga tributária fosse menor, ele não ficaria aqui no Brasil. Eis o problema”, destaca.
Costa Leite também conta que várias empresas brasileiras estão criando operações no exterior, como o fizeram as economias maduras ao longo do tempo, sempre em busca de bons ambientes de investimento e retorno. “Há indústrias brasileiras que já abriram fábricas na China. Mas essa migração também acontece aqui dentro: quando a indústria calçadista fechou fábricas no Rio Grande do Sul para se beneficiar dos incentivos do Nordeste, também desempregou gente; em compensação, abriu mercado de trabalho naquela região, talvez até com um custo menor de pessoal. O chamado Custo Brasil contém, sem dúvidas, efeitos perversos, mas tem o atenuante de os salários serem mais baixos, embora com encargos altos. Foi também isso que atraiu multinacionais. Não se pode julgar simploriamente a perda para o país porque uma empresa transfere operações para o exterior. O jogo da economia é mais complexo”, diz.
E o que o RH pode fazer? Antecipar-se às mudanças e jogar pesado em formação e desenvolvimento profissional é uma das ações possíveis, segundo Costa Leite que acrescenta, na lista, participar de negociações que envolvam conhecimento e utilização de mão de obra. “Os chineses estão financiando obras desde que mandem grandes contingentes de técnicos para montar as indústrias. Seria quase que outra forma de desindustrialização no mercado de trabalho. Nada contra a mão de obra externa, pelo contrário, desde que não se mate o mercado de trabalho local”, diz. Além disso, ele conta que RH também deve acompanhar os movimentos da macroeconomia, como o debate e as ações sobre investimentos em atividades geradoras de emprego, como em infraestrutura. “A migração de mão de obra é fundamental quando a desindustrialização é inevitável”, finaliza.