Quem nunca se irritou com uma enxurrada de notificações que atire a primeira pedra. E se, além da frequência exagerada, o texto não for claro ou o tom soar completamente estranho? Para a maioria, isso seria mais do que suficiente para ignorar a mensagem. Mas, para o colaborador de uma empresa, não há escapatória: ele precisa ler, interpretar e agir a partir dela. O problema é quando essa comunicação, que deveria conectar pessoas e organizações, passa a desgastar ambos, trazendo o estresse para o ambiente de trabalho. Por isso, na comunicação interna, não basta o conteúdo ser relevante – é o equilíbrio entre tom, frequência e clareza que faz dela uma ponte para o engajamento e o bem-estar emocional.
Sem dúvida, o termo infoxicação – citado pela primeira vez em 1995,enquanto a internet apenas engatinhava, nunca fez tanto sentido como agora. Basta olhar para o celular. Quantas mensagens você recebe e envia diariamente? E as notificações, são quantas? Provavelmente, não dá para contar nos dedos a quantidade de informações que trocamos todos os dias, ainda mais se incluirmos as conversas de cunho profissional – daí serão centenas.
Mas, se tudo hoje é tão excessivo, imagine o desafio de se comunicar bem com o colaborador em meio a essa sobrecarga cognitiva. As empresas têm duas opções: garantir o bem-estar emocional deles por meio de uma comunicação interna equilibrada, o que envolve estratégia e coerência, ou bombardeá-los com todo tipo de mensagem. E mensagens desalinhadas confundem as pessoas e são incapazes de transmitir valor. É por isso que empresas como a VLI Logística e a Pernambucanas apostam na combinação certeira entre frequência, tom e clareza para conquistar até os olhares mais distraídos e cansados.
Frequência na medida certa
Imagine receber mais de 100 mensagens em um único mês só da sua empresa. Era o que acontecia na VLI Logística por volta de 2021, antes da implementação de um novo processo para reduzir o volume de mensagens internas. Danny Marchesi, Gerente de Comunicação e Gestão da Mudança da companhia, explica que essa revisão foi essencial para alinhar a frequência à relevância, levando em conta as necessidades de cada público. “Passamos a priorizar aquelas que têm mais conexão com os objetivos estratégicos da companhia”, afirma.
O limite atual é bem claro: quatro divulgações, duas campanhas e dois eventos por mês, focando em conteúdo estratégico e segmentado por público-alvo. “Isso é crucial para garantir que os colaboradores recebam apenas informações relevantes para suas funções e áreas de atuação”, explica Danny. Dessa forma, a comunicação interna não apenas ganha eficiência, mas também reforça o cuidado com o bem-estar emocional das equipes.
Multiverso
Na Pernambucanas, a diversidade de equipes – distribuídas entre escritórios, 485 lojas e o centro de distribuição – torna necessário ajustar a comunicação à rotina de cada colaborador. Para Renata Del Bove, Diretora Executiva de RH, Sustentabilidade, Governança e Comunicação da varejista, a comunicação interna é a peça-chave para garantir o engajamento de todos, independentemente de onde estejam. “Os canais, a frequência e as mensagens precisam ser adaptadas a essas diferentes rotinas”, destaca Renata, reforçando que uma cultura forte e com valores institucionais sólidos só se constrói com pessoas alinhadas aos objetivos da empresa.
Mas, com tantas realidades contidas em uma só empresa, a comunicação interna precisa ser assertiva para dar conta desse desafio. Escolher os melhores canais e o ritmo das mensagens são dois pontos cruciais nessa jornada, como bem aponta Renata. “Nosso time de loja, por exemplo, tem o foco no atendimento ao cliente. O grande desafio é transmitir as informações no canal que seja possível acessar com maior facilidade e em uma frequência que não ‘concorra’ com as prioridades do colaborador em loja”, explica.
Interação é a chave
Desde 2018, a rede social interna tem sido uma ferramenta poderosa na Pernambucanas, reunindo tanto conteúdos oficiais, como estratégias e campanhas, quanto contribuições dos próprios times. Nesse espaço democrático e dinâmico, os colaboradores compartilham suas conquistas, enquanto acompanham as novidades da empresa. Essa dinâmica torna a comunicação interna bem mais orgânica, garantindo o bem-estar emocional de quem interage. E o melhor: nem a alta liderança fica de fora desse movimento. “Nosso vice-presidente de Operações é um dos mais engajados. Apenas no último mês, realizou cerca de 30 posts, além de comentar e curtir em diversas outras publicações”, destaca Renata.
Os números reforçam o impacto positivo dessa estratégia: mais de 88% dos colaboradores são considerados engajados, interagindo ativamente na rede social interna. E o chat corporativo não fica atrás – em apenas 20 dias, foram trocadas mais de dois milhões de mensagens.
O tom que acolhe
Se a frequência determina o nível de sobrecarga, é o tom que dita como a mensagem será recebida pelo colaborador – e isso ganha ainda mais peso em momentos de crise ou transformação. Mas como equilibrar empatia e objetividade? Danny Marchesi, gerente de Comunicação e Gestão da Mudança na VLI Logística, explica que o segredo está em antecipar dúvidas e construir uma narrativa capaz de engajar as pessoas. “É mostrar o que elas ganham, o que muda, o motivo das modificações e as oportunidades que um novo projeto pode gerar para as carreiras. Isso ajuda a entender o caminho a ser percorrido e seguir junto”, afirma.
Para Danny, seja em cenários desafiadores ou momentos de celebração, a comunicação interna precisa ser clara, transparente e empática para assegurar o bem-estar emocional de suas pessoas. Um tom mais didático, aliado a mensagens positivas e encorajadoras, não só facilita a compreensão como também ajuda a reduzir o estresse e a ansiedade.
Agenda de bem-estar
Além disso, quando a comunicação é bem-feita, ela também faz bem à saúde do colaborador na prática, dando visibilidade a programas e campanhas voltados para o bem-estar. Na Pernambucanas, por exemplo, esse tipo de abordagem é recorrente, segundo Renata Del Bove. “Acreditamos que é fundamental abordar o tema durante todo o ano, de forma didática e informativa, buscando contribuir com a prevenção das principais doenças”, reflete.
Um exemplo disso é o “Trimestre da Saúde”, que reforça a importância do autocuidado por meio de uma comunicação empática e alinhada às necessidades dos colaboradores. “Este ano, o tema foi autocuidado e bem-estar, com palestras, lives e orientações sobre saúde mental”, destaca Renata. Para ela, incorporar ações como essas à agenda interna é tão essencial quanto ajustar o tom e a abordagem das mensagens à realidade de cada time.
Sem estresse
Mas engajar sem estressar o colaborador, especialmente em relação a temas mais sensíveis, exige atenção. Embora cada empresa tenha sua fórmula, muitas vezes, uma conversa simples e sincera no corredor com o gestor já faz toda a diferença. Para Danny Marchesi, lideranças bem treinadas são indispensáveis para uma comunicação que não apenas transmite informações com clareza, mas também respeita as particularidades de cada pessoa. “Fazemos a comunicação com o diálogo que o público interno espera e, sendo assim, a estratégia é ter sempre o envolvimento do líder”, destaca a porta-voz da VLI Logística, reforçando que a relevância do conteúdo é igualmente importante para que a mensagem realmente engaje.
A fórmula pode variar de empresa para empresa, mas uma coisa é certa: quando a comunicação interna caminha junto com a cultura organizacional, sendo ela positiva, engajadora e psicologicamente segura, o impacto no bem-estar emocional é inegável. Segundo Renata Del Bove, essa conexão é o que dá sentido às mensagens, cria identificação e ajuda a melhorar o clima no ambiente de trabalho. “Acreditamos que a comunicação interna precisa estar conectada à cultura. Quando realizada de forma transparente, com mensagens e frequências adequadas, pode contribuir para a melhora do clima organizacional”, explica.
Canais diversos
Na Pernambucanas, essa sinergia entre comunicação e cultura se traduz em estratégias que aproximam as pessoas, estimulam o diálogo e simplificam a rotina. Um exemplo disso é o “Conexão Acontece”, programa quinzenal transmitido pela rede social interna, onde os próprios colaboradores assumem o protagonismo para apresentar as principais novidades da empresa. “Isso garante um tom leve e acessível”, explica Renata Del Bove.
Outro ponto alto é o Suporte Chat RH, um canal dedicado ao esclarecimento de dúvidas sobre pagamento, benefícios e outros temas. É o tipo de iniciativa que descomplica a vida do colaborador e reforça a proximidade com a empresa. E, claro, tem o “Café com o CEO”, um espaço pensado para estimular trocas transparentes entre os times e as lideranças. Renata explica: “por meio de uma conversa franca, os colaboradores esclarecem dúvidas abertamente e têm espaço para sugerirem ideias e melhorias para a empresa”.
No fim das contas, pouco importa se o canal escolhido é uma mensagem no chat, um programa na rede social ou um bate-papo presencial. O que vale mesmo é abrir caminhos que conectem as pessoas. Diferentes canais representam diferentes formas de se comunicar, e isso realmente ajuda a alcançar mais gente, mas sem liberdade de expressão essas vias se tornam ineficazes. Daí surge a pergunta: é possível criar um ambiente em que todos se sintam à vontade para falar? Embora não exista mais, formalmente, nenhum tipo de censura, dentro das empresas ainda há fatores que podem silenciar os colaboradores – desde um chefe mal-humorado até uma cultura tóxica que ignora o que eles têm a dizer.
Voz aos colaboradores
Não por acaso, valores como respeito e inclusão devem fazer parte de toda e qualquer abordagem da empresa, do processo seletivo ao desligamento. Como bem destaca Danny Marchesi, da VLI, mesmo com tom e frequência bem ajustados, é a cultura organizacional que realmente dá voz aos colaboradores. “A missão é criar um ambiente de respeito, no qual todos podem ser quem são, sem melindres e com confiança”, explica. Quando essa base está bem construída, o público interno se sente seguro para expressar preocupações e compartilhar ideias, sem medo de represálias.
É justamente aqui que a comunicação interna ganha destaque: ao traduzir a cultura da empresa em mensagens que realmente façam sentido e levem em conta o bem-estar emocional, ela evidencia o que a organização tem de melhor e fortalece sua identidade. “Em nossas divulgações, destacamos os aspectos da cultura da VLI, com mensagens claras, honestas e respeitosas, que fortalecem a segurança psicológica no ambiente de trabalho”, explica Danny.
Além do discurso
Na prática, uma mensagem institucional não é apenas um texto, mas o reflexo dos valores que a organização defende. Portanto, se o objetivo é dialogar, não basta apenas transmitir informações esperando que o público se engaje nesse monólogo. Para Renata Del Bove, diretora executiva de RH, Sustentabilidade, Governança e Comunicação da Pernambucanas, as empresas evoluem quando passam a ouvir as pessoas, incluindo críticas e sugestões. “Dar voz aos colaboradores sempre fez parte do nosso jeito de ser”, reforça Renata, destacando que lideranças empáticas também abrem espaço para trocas mais significativas.
No final do dia, uma comunicação interna eficiente e genuína alimenta um ciclo virtuoso: colaboradores mais engajados, bem-estar emocional fortalecido e uma cultura organizacional cada vez mais sólida.
por Priscila Perez
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