Trabalhar fora do escritório, seja em tempo parcial ou integral, tem se tornado uma tendência cada vez mais forte no mercado profissional. Segundo um levantamento da Gallup, o número de funcionários que trabalham algum período de tempo fora do escritório cresceu de 39% (2012) para 43% (2016).
“É uma tendência bastante considerável e que merece muita atenção de empregadores e colaboradores. Temos grande parte da equipe hoje remotamente e isso foi diferencial para uma das colaboradoras, que queria trabalhar de qualquer lugar do mundo. Não é apenas um detalhe, é uma premissa da sua carreira. É uma demanda que tem crescido por parte dos funcionários e é fundamental que os gestores e líderes estejam preparados para liderar equipes que trabalham a distância”, explica Fernando Pacheco, diretor-executivo da consultoria Penser e autor do livro O caminho dos líderes.
A liderança remota não apenas faz parte da rotina de trabalho de Pacheco, como também se tornou tema da sua dissertação de mestrado. Segundo ele, um dos maiores desafios é se adaptar adequadamente à modelagem remota. “Não adianta replicar os métodos do modelo de trabalho tradicional. É preciso dar uma atenção especial e pensar sobre as especificidades do trabalho remoto. Por exemplo: é preciso ter cuidado para não segregar os colaboradores remotos dos presenciais. Uma boa iniciativa é adaptar as reuniões para que todos possam participar. Além disso, é importante pensar em mecanismos que continuem validando o vinculo emociona entre as pessoas”, analisa.
Outra dica, segundo ele, é definir com clareza as metas e prazos que o time de funcionários deve cumprir. “Assim, o foco estará na entrega das metas dentro do prazo combinado e não no número de horas trabalhadas por dia. Essa estratégia ajuda a avaliar objetivamente os colaboradores com base nos resultados alcançados”, diz.
Outro desafio é evitar a microgestão (obsessão em controlar todas as atividades realizadas por seus colaboradores). “Muitos gestores estão acostumados a vigiar os hábitos de seus funcionários e, quando têm de lidar com trabalhadores remotos, criam outras formas de exercer este controle – o que pode comprometer a produtividade da empresa. Para ter um time remoto é preciso criar uma relação de confiança e ter empatia com os subordinados”, declara.
Por fim, Pacheco também orienta a utilização de algumas ferramentas tecnológicas para tornar a rotina de trabalho mais prática e produtiva. “Existem diversas ferramentas para auxiliar na gestão de projetos, organização, compartilhamento de arquivos e comunicação interna. O Slack, por exemplo, é uma plataforma de online workspace, comunicação e centralização de informação, podendo ajudar bastante”, aconselha.
“Ganho de tempo e aumento de foco”
Para Guilherme Valgas, que há 8 meses atua como executivo da EmCasa, a experiência de trabalho remoto trouxe ganho de tempo, aumento de foco e simplicidade na tomada de decisões. “Esse modelo traz mais autonomia, gestão das próprias atividades e redução do stress – já que não existem deslocamentos diários. Além disso, a restrição geográfica nos possibilita buscar os melhores profissionais em qualquer lugar do mundo”, resume Valgas.
Valgas explica que a equipe é híbrida, com duas bases físicas (Rio de Janeiro e São Paulo) e colaboradores remotos espalhados por todo o Brasil. “Buscamos fazer alinhamentos de 1 a 2 vezes por semana, para definir tarefas e os principais objetivos da semana”, diz.
Mesmo com o bom funcionamento a distância, Valgas não dispensa o contato físico com o negócio. Ele conta que viaja pelo menos uma vez por mês para um dos escritórios para validar e executar algumas ações de marketing. “O contato presencial é uma forma de colher feedbacks mais detalhados e realimentar a estratégia de marketing para as próximas semanas. É importante viver o dia a dia, os desafios dos times de vendas e operações, com os quais possuo grande integração”, acredita. Além disso, toda a empresa se reúne a cada 6 meses, em média, durante três dias para realizar atividades de integração e discutir os próximos passos do negócio.
Para ele, o principal desafio de liderar um time remoto é o acompanhamento de tarefas e dificuldades que a equipe vive no dia a dia. “Outro desafio é conseguir integrar um time em crescimento acelerado. Porém, como a EmCasa já nasceu remota, já temos a cultura de encontrar soluções e criar estratégias para que a distância não atrapalhe a performance do time. A ideia é aproveitar todos os benefícios do trabalho remoto, para que as pessoas tenham mais qualidade de vida e resultados superiores”, define.
Por fim, quando falamos em trabalho remoto, uma das maiores dúvidas entre os gestores é como motivar e valorizar uma equipe que trabalha a distância. Para Valgas a resposta é transparência e alinhamento de expectativas e objetivos.
“Não vejo muita diferença nos dois modelos (remoto e presencial). Mesmo num ambiente presencial, nem sempre o líder consegue trabalhar esses pontos. Geralmente, procuramos profissionais que já valorizam o trabalho remoto e, a partir daí, definimos os canais de comunicação para cada momento. Assim, conseguimos uma relação mais transparente entre líderes e liderados”, arremata.