Pouco adianta oferecer salários altos, prêmios, uma série de benefícios ou até mesmo a participação nos lucros se o funcionário não se sentir envolvido, valorizado e reconhecido. Para manter seu pessoal realmente satisfeito e com perspectivas de carreira na empresa, é preciso muito mais, na opinião da diretora de RH da Pormade, Hermine Schreiner. “As pessoas não querem só cumprir uma rotina de tarefas e deveres. Elas querem fazer parte do negócio”, acredita. E é com esse conceito que a área de RH da companhia desenvolve uma série de práticas para estimular o engajamento dos cerca de 500 profissionais que atuam na fabricante de portas de madeira para a construção civil, instalada na pequena cidade de União da Vitória, no interior do Paraná.
Segundo Hermine, a gestão participativa adotada pela empresa ajuda muito nesse processo. “Basicamente, a essência do nosso trabalho é fazer com que as pessoas estejam envolvidas permanentemente nas decisões da empresa. Nada vem de cima para baixo, pronto e acabado”, afirma. Para se ter ideia, a companhia reúne semanalmente todos os profissionais de campo, além dos gestores internos e externos, por meio de Skype, para discutir, apresentar e debater novas propostas da empresa. Com isso, diz ela, as pessoas passam a compreender melhor todas as ações que são tomadas.
Outra forma de ouvir o seu pessoal é por meio do Programa de Erros, Tesouro, Inovações e Melhorias (Petim), no qual as pessoas preenchem um formulário distribuído em pontos estratégicos e escrevem tudo o que viram de coisas boas durante a semana na empresa, como prêmios, cursos e palestras oferecidos. Na outra, é a vez de os funcionários informarem tudo o que notaram de errado na companhia e indicarem uma possível solução. De acordo com Hermine, o programa contribui no gerenciamento da empresa. “Temos por semana mais de 350 participações. Ou seja, praticamente todo mundo escreve o que foi visto de bom ou de errado no ambiente de trabalho. Com isso, basta entender o que as pessoas estão pensando e aplicar as ações necessárias”, esclarece.
Para envolver e buscar novas ideias de seus profissionais, a Pormade também criou o Programa de Grupos de Melhorias (GMs). Desde 1994, o GMs tem sido um canal para os colaboradores discutirem e procurarem soluções para os problemas gerados no ambiente de trabalho. As reuniões acontecem durante o horário de expediente, uma vez por semana, e têm duração de cerca de 45 minutos. “É uma forma de estimular que as propostas venham do piso da fábrica e não somente da direção ou dos gestores. E isso é fantástico porque as pessoas têm oportunidade de falar aquilo que pensam sobre o seu trabalho e a empresa”, diz a executiva. Além disso, o programa contribui para um dos grandes problemas que as empresas enfrentam nos dias de hoje, que é a formação de sucessor de liderança. “Nós temos hoje 27 grupos de melhorias e cada um deles tem um líder eleito pela própria equipe. Esses profissionais participam de um programa de capacitação de formação de liderança e quando um deles tem destaque na sua habilidade, passa a ser candidato natural a gestor”, explica.
Educação e família
Segundo Hermine, a empresa concentra seus esforços para desenvolver e qualificar seus profissionais, trabalhando suas habilidades e competências. Com essa finalidade, criou desde 1994 a Universidade Corporativa. “No início nós montamos uma escola dentro da empresa para oferecer a formação básica, o ensino fundamental e o médio. Hoje, nós temos também os cursos técnicos operacionais voltados para a nossa área de atuação e, ainda, oferecemos subsídios para os funcionários que tenham interesse em cursar uma graduação nos cursos de gestão”, conta. Mais de 400 profissionais da empresa são qualificados, por ano, e o retorno do investimento para a empresa é extremamente positivo, diz a executiva. “A capacitação reduz o trabalho malfeito e, principalmente o desperdício”, explica. E completa: “Todo mundo quer crescer, melhorar e se aperfeiçoar. As pessoas precisam apenas de oportunidade”.
Portas abertas
Mas não é só isso. Com uma gestão estruturada para cuidar de pessoas e melhorar o desempenho no ambiente de trabalho, a Pormade abre as portas da fábrica também para a família de seus funcionários. Criado em 2002, o Programa Educação para a Empregabilidade oferece oportunidade às esposas dos profissionais da empresa a se qualificarem de maneira sustentável, por meio dos cursos Aprender a fazer e Aprender a empreender. No primeiro, artesãos contratados pela empresa ensinam a transformar resíduos das sobras da fábrica em artesanato. Elas aprendem a trabalhar textura em madeira e a pintar vidro, por exemplo. Passada essa etapa, as turmas avançam para o segundo curso, que ensina as alunas como gerir o seu próprio negócio. “O programa atende de 150 a 200 pessoas por ano. Com isso, estamos colaborando para ampliar a participação das mulheres no mercado de trabalho e aumentar a renda familiar”, afirma Hermine. O próximo passo do programa é montar uma cooperativa. “A gente percebe que cada uma está usando o seu empreendedorismo de forma isolada, quando o ideal é trabalhar em regime de cooperativismo”, diz. De acordo com Hermine, o projeto enfrentou uma certa resistência no início para conseguir envolver as esposas no programa da empresa, já que as pessoas não estavam acostumadas com esse tipo de política de RH. No entanto, indicadores como o turnover mostram que as práticas adotadas estão no caminho certo. “Nossa rotatividade não chega a 1% ao mês. A família tem uma opinião muito forte para o trabalhador sair ou não da empresa”, acredita.
Uma outra saída utilizada pela fabricante para manter seus funcionários satisfeitos e engajados com a empresa é garantindo a qualidade de vida deles. Para isso, a companhia criou o Programa Bem-Estar Pormade, que oferece uma série de atividades para os funcionários e a sua família, entre elas aulas de dança, ginástica, alongamento, pilates e futsal. Além disso, dentro da fábrica, existe um espaço para a prática de tênis de mesa. Nos intervalos da jornada de trabalho, os profissionais fazem campeonatos internos. O resultado de todo esse esforço da empresa não poderia ser diferente. Desde 2007, a Pormade conquista o reconhecimento nas melhores práticas em gestão de pessoas. “A empresa tem de pensar em resultado positivo, em sustentabilidade do negócio, mas ela não pode deixar de cuidar das pessoas”, finaliza a executiva.