Marcos Nasimento é partner na Manstrategy Consulting / Crédito: Divulgação |
“A fé e a razão (fides et ratio) constituem como que as duas asas pelas quais o espírito humano se eleva para a contemplação da verdade.” Esta frase compõe a Carta Encíclica do Papa João Paulo II, escrita na década de 1990 e nos remete a uma reflexão sobre duas questões de quase dependência absoluta e, ao mesmo tempo, de um antagonismo devastador: a necessidade e o desejo! É possível equilibrá-los? Qual e quando priorizar? Há diferentes perspectivas dependendo do seu estágio de carreira?
São inúmeras as perguntas e poucas são as respostas. Mas vamos focar apenas uma das dimensões: a idade. Alguns estudos podem nos ajudar a refletir sobre essa questão. Um deles, chamado de Jovens e o sentido do trabalho, conduzido no início deste ano, nos traz algumas informações interessantes. Entre outras coisas, mostra, por exemplo, que 41% dos jovens pesquisados sentem vontade de trabalhar em uma empresa flexível e inovadora. Os dados estão por aí e não podemos desprezá-los. Mas a questão aqui é o quanto realmente algumas dessas constatações terão peso quando a necessidade se sobrepuser ao desejo.
Todas essas questões trazem uma análise do modelo ideal e do que se valoriza no ambiente de trabalho, mas, normalmente, não trazem o que de fato está presente. Se esse é realmente o contexto, a pergunta e a provocação de nossa matéria de capa continuam: o que jovens gostam em uma empresa? Não sou um expert no tema das “gerações” e meu conhecimento sobre os embates e os conflitos entre juventude e experiência vem muito mais do dia a dia que presencio nos programas de transformação que tenho apoiado a estruturar e implementar, mas flexibilidade e inovação me parecem bem coerentes com o que tenho presenciado.
Ou seja, que de fato são duas dimensões com as quais muitos dos jovens com quem tenho convivido no mundão corporativo têm se deparado. Aliás, não têm se deparado, pois, apesar de desejarem por isso, a necessidade os impele a conviver com a ausência do que julgam ser mais relevante. De fato, quando testemunho um processo de transformação organizacional que não funciona, isso ocorre pela ausência de muitas coisas, incluindo flexibilidade e inovação. Contudo, três outros aspectos sobressaem: o alinhamento de expectativas, a transparência e a coerência. A não existência dessas três atitudes tem sido o calcanhar de aquiles para os processos de gestão da estratégia e de pessoas. Ter as pessoas certas, fazendo o que é certo, da forma certa, no momento certo, com o budget correto fica longe de acontecer e o impacto é diretamente no bottom-line. O que os jovens, de todas as idades, gostam em uma empresa é mais simples do que se imagina: é combinar as regras do jogo, deixar claro o que se espera deles, dar espaço para que eles deixem claro o que esperam da empresa, comunicar o que pode ser comunicado deixando claro que nem tudo pode e, por último, coerência! Ou seja, faça o que você disse que iria fazer! Creiam, isso fará com que eles gostem, fiquem, cresçam e frutifiquem! E é um baita de um ganha-ganha!