Securato, da Saint Paul: alinhar o curso ao aluno / Crédito: Divulgação |
Ainda que 2014 tenha sido marcado pelo baixo crescimento da economia e por eventos que causaram comoção nacional, acionando o freio da maior parte das empresas, o investimento em educação corporativa não caiu. A Copa e as eleições tornaram a realização de programas de capacitação menos intensa, mas, ainda assim, as principais instituições de ensino viram suas áreas de cursos customizados para empresas crescer levemente em comparação com 2013.
A razão para isso é simples: em um cenário com pouca mão de obra qualificada, para competir e ganhar mercado, as empresas não podem deixar de apostar no aperfeiçoamento de seus profissionais. Por isso, a perspectiva para 2015 é semelhante. Deve haver crescimento no investimento em educação corporativa, mesmo que os números não sejam expressivos.
“O ano foi bastante comprometido pelos eventos internacionais e com a questão da sucessão presidencial. De uma forma geral, as ações de educação corporativa ou foram antecipadas para o primeiro trimestre [fato raro no Brasil] ou postergadas para o último trimestre do ano”, relata Alfredo Castro, sócio-diretor da MOT — Treinamento e Desenvolvimento Gerencial. Diante desse cenário, Castro estima que houve uma redução de pelo menos um terço dos investimentos e em eventos de educação corporativa.
Apesar de todo esse cenário, segundo Luiz Ernesto Migliora, diretor executivo de cursos corporativos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a área deve fechar 2014 com crescimento de 20%. Para ele, a explicação está no fato de que existe uma enorme necessidade de capacitação das pessoas, que não são adequadamente qualificadas desde a educação básica e chegam ao mercado de trabalho despreparadas. De olho nessa demanda, a FGV oferece uma ampla gama de cursos customizados, que abrangem temas que vão de finanças a sustentabilidade e podem atender à demanda tanto por conhecimentos mais técnicos de início de carreira, como também mais comportamentais e analíticos.
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Vanessa, da Teltec Solutions: investimentoem educação corporativa / Crédito: Divulgação |
Acima da média
Por sua vez, a escola de negócios Saint Paul, que também atende um público amplo, de analistas a executivos, é mais otimista. A instituição espera fechar 2014 com crescimento de 120%. A economia brasileira cresceu pouco mais de 1% nos últimos anos, de onde vem, portanto, tanta confiança? A resposta está nas inovações adotadas nos programas customizados.
“Sempre fomos conhecidos por oferecer treinamentos sofisticados, tratando de temas difíceis, como finanças e contabilidade. Mas nossa abordagem era muito tradicional, baseada em aulas expositivas”, conta José Claudio Securato, presidente da Saint Paul.
O caminho para mudança foi desenvolver um relacionamento mais estreito com o aluno, que tem início antes do treinamento propriamente dito. “Começamos por contar para esse profissional o que ele vai aprender. Enviamos alguns materiais para que possa se preparar e fazemos uma avaliação prévia do conhecimento dos participantes para que todos cheguem à sala com o mesmo conhecimento”, diz Securato. Ele argumenta que muitas pessoas abandonam os treinamentos ou não veem sentido em participar deles porque não sabem ao certo o que será ensinado e se o conteúdo será mais relevante do que continuar suas atividades de rotina.
A prática de usar estudos de caso, incluindo questões reais que as empresas estão enfrentando, comum na estruturação de cursos customizados, passou a ser mais explorada pela Saint Paul. “Outra coisa que fizemos foi incluir jogos de tabuleiro no processo de aprendizagem, principalmente quando lidamos com temas comportamentais. Os jogos lidam com situações lúdicas, o que torna mais fácil para os participantes romper barreiras e preconceitos”, comenta Securato.
Depois de todos os programas, os alunos são levados a indicar o que aprenderam e como podem aplicar esse conhecimento em sua rotina de trabalho. São desafiados também a estabelecer novas práticas, com base no conhecimento adquirido. A aplicação do aprendizado é acompanhada pela escola de negócios. Os profissionais podem reportar dificuldades encontradas entre a teoria e a prática e solicitar ajuda. O feedback que a Saint Paul oferece pode ser individual ou coletivo, dependendo do que foi contratado pela empresa.
Crescimento moderado
Para a Fundação Dom Cabral, que oferece programas customizados voltados apenas para a média e alta gerência das empresas, o ano foi bom. “Mas não excepcional”, afirma Antônio Batista. A instituição deve fechar 2014 com crescimento de 7% nesse segmento. “Já tivemos anos de eleição em que o investimento em educação executiva cresceu mais, contudo a economia do Brasil também estava crescendo”, comenta.
Para ele, é difícil fazer uma aposta de como será 2015, mas acredita que as empresas investirão em capacitação, mesmo que moderadamente, pois faz parte do processo de ganho de produtividade. “A redução desse investimento por parte da indústria de commodities é um fenômeno que deve se repetir. Por outro lado, esperamos uma retomada dos investimentos do setor público”, analisa Batista.
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Castro, da MOT: o momento é de retomar investimentos em pessoas / Crédito: Divulgação |
Castro, da MOT — Treinamento e Desenvolvimento Gerencial, tem uma visão semelhante. “Há segmentos que estão em compasso de espera. As indústrias de base, automotiva de uma forma geral, óleo e gás, são as que mais diminuíram seus investimentos em 2014. Já para outros segmentos, como varejo, bens de consumo, por exemplo, a expectativa é de crescimento”, avalia.
Liderança e atendimento ao cliente
A partir dessa perspectiva, Castro aposta que as temáticas ligadas à liderança, atendimento ao cliente e vendas tendem a ser o foco dos investimentos das empresas em educação corporativa no próximo ano. Isso porque os líderes e os profissionais que têm relacionamento com os clientes são os que mais podem contribuir para melhorar resultados.
“Entendo que vai existir uma forte demanda em 2015, até pela educação ser muito carente no Brasil”, enfatiza Migliora, da FGV. O executivo defende que é preciso investir em um treinamento intenso desde que o profissional ingressa na empresa para que ele possa estar preparado para assumir cargos de maior responsabilidade ao longo do tempo.
Na Saint Paul, a expectativa é a mesma. “O Brasil passa por um processo de profissionalização e alta empregabilidade. As pessoas mais qualificadas estão empregadas. Trazer essas pessoas para a empresa custa mais caro do que preparar o público interno”, destaca Securato. De acordo com ele, a melhor saída é desenvolver as pessoas internamente. “Além de sair mais barato, é um instrumento de retenção e melhora o ambiente de trabalho. Faz o colaborador se sentir prestigiado e o estimula a ser mais produtivo”, completa.