Estamos vivendo o “isolamento” há um certo tempo e acho que é unânime que as pessoas pensavam que iria durar poucos meses, mas já se arrasta por mais de um ano. E, agora que se entendeu que não há um fim definitivo, ou seja, não temos uma linha de chegada planejada e nem visível, em um curto espaço de tempo, isso está causando um fenômeno que a OMS chamou de ‘fadiga pandêmica’. Os sintomas presentes mais comuns são: insônia, cansaço, irritabilidade, ansiedade e medo.
Essa tal ‘fadiga’ refere-se à exaustão que se sente depois de meses gastando tempo e energia extras lidando com um estilo de vida durante a pandemia. Além de lidarmos com a falta de previsibilidade de quando tudo isto pode acabar. A definição da OMS é clara: “sentir-se desmotivado quanto a seguir os comportamentos recomendados para proteger a nós mesmos e aos outros do vírus”.
E o fenômeno com certeza está acontecendo agora em empresas de todos os tamanhos e áreas de atuação – seja trabalhando em home office ou presencialmente.
Consequências
Os colaboradores têm perdido experiências e marcos importantes na vida como formaturas, casamentos, além da presença constante do luto e a impossibilidade de ter rituais de “despedida” como os funerais. Se sentir confinado no isolamento e ainda deixando de fazer hobbies habituais. Cansados dos protocolos de segurança, algumas vezes até relaxando e deixando os cuidados importantes de lado, como o uso correto da máscara.
Pessoas mental e fisicamente se sentem exaustas, tendem a diminuir a resiliência e aumentar os sentimentos de pavor, medo, insegurança e desamparo. E, porque elas estão exaustas e a capacidade de lidar com as situações está diminuída, se sentem menos motivadas para o trabalho e propensas a sentimentos negativos.
Nossa casa, que antes era nosso porto seguro, hoje passa a ser um ambiente de alto estresse. Crianças com atraso no desenvolvimento escolar, privadas do convívio social, a demanda que apenas aumenta e as rotinas cada vez mais intensas.
A oportunidade na crise
O resultado prático é nervosismo, ansiedade e exaustão que acabam contaminando e impactando o ambiente de trabalho e produtividade. Um prato cheio para o desenvolvimento de males como o estresse crônico e Síndrome de Burnout.
Como disse Albert Einstein: “Em meio a cada crise, existe uma grande oportunidade”. As organizações têm a oportunidade de fazer mais do que apenas ‘tentar’ superar, precisando restaurar o desempenho e a vida profissional.
Muitos colaboradores já têm a sensação de que provavelmente não iremos simplesmente recuperar como as coisas eram antes da crise do Covid-19. E, segundo dados da própria Organização Mundial da Saúde, 60% da população é afetada pela fadiga pandêmica.
Mas como então o RH pode reagir a esse fenômeno e impedir que ele se torne algo pior?
Primeiro e mais importante é o próprio RH reconhecer que precisa de ajuda e se preparar para: estar mais perto, seja de gestores, líderes e dos colaboradores de fato. Explicar que o momento é difícil para todos e que a organização se dispõe a entendê-los e ajudá-los.
Outras abordagens incluem:
- Aumentar o número de sessões de aconselhamento gratuitas oferecidas ou dispensar co-pagamentos para terapia;
- Fornecer acesso gratuito a treinamentos que visem o bem-estar, como a meditação;
- Conversas honestas e transparentes com os colaboradores, perguntando sobre seu bem-estar;
- Capacitar e sensibilizar os gestores a falar sobre sentimentos;
- Desenvolver um olhar integrado, biopsicossocial dos seus colaboradores, pensando desde a jornada laboral (atividade física, por exemplo) até a saúde mental e bem-estar;
- Elaborar estratégias de comunicação para lembrar os profissionais dos benefícios, como programas de assistência e incentivar o seu uso.
O tabu ainda está muito presente nas organizações, alguns não serão claros e diretos sobre seus problemas pessoais. Temem que possam parecer fracos, pouco profissionais e serem retaliados. E são essas as pessoas que mais precisam de ajuda. Portanto trazer o assunto às pautas da liderança é importante para proteger a saúde dos colaboradores.
Não há sinal de que o ‘novo normal’ irá acabar tão cedo e a tendência é que a fadiga pandêmica só piore. O que você pode fazer para melhorar a qualidade de vida das pessoas que trabalham na sua empresa?