Vencer um dos gargalos que emperram a competitividade do país pressupõe a união de esforços de muitos agentes sociais. “O Brasil vive um déficit de mão de obra qualificada, especialmente no nível técnico. A formação profissional precisa ser adequada à demanda da economia. Para isso, há a necessidade de esforços conjuntos entre empresas, governos e as diversas instituições de ensino”, disse Gabriel Rico, CEO da Câmara Americana de Comércio (Amcham) no seminário Competitividade Brasil: custos de transação – mão de obra, realizado no fim do ano passado, na capital paulista.
Na ocasião, foi apresentado e debatido um conjunto de proposições para o país enfrentar esse problema. De acordo com a entidade, são fundamentais os esforços para colocar em prática no país as seguintes medidas:
> Criação de incentivos fiscais às companhias que investem em capacitação;
> Reforço no ensino médio direcionado à profissionalização por meio da atualização de seu conteúdo;
> Desenvolvimento de um programa intensivo de melhoria do ensino médio nas áreas de matemática, ciências, física e química, que funcionaria no contraperíodo dos colégios públicos;
> Aumento dos estímulos à inovação, com melhor articulação das instituições de Pesquisa & Desenvolvimento e buscando ampliação do número de registros de patentes no país.
Criado em 2010 para debater e apontar soluções para os principais gargalos que comprometem uma maior competitividade brasileira, o programa Competitividade Brasil – custos de transação já debateu temas como déficit de mão de obra técnica, deficiências de infraestrutura, excesso de burocracia e baixa eficiência do Estado. aquele ano, uma pesquisa realizada pela Amcham junto a seus associados, com o apoio do Ibope, mostrou que os principais desafios para enfrentar o déficit de mão de obra capacitada no país estavam relacionados à expansão dos centros de formação acompanhando o nível de crescimento econômico, ampliação dos investimentos públicos em capacitação, dispersão territorial do mercado de trabalho (dificuldade para encontrar profissionais especializados em locais distantes dos grandes centros urbanos) e viabilização de modelos de parceria público-privada, sendo os dois primeiros os maiores – para 30% e 28% dos entrevistados, respectivamente.
O levantamento foi refeito em 2011. No processo de sondagem, foram ouvidos, entre os meses de abril e maio, 211 altos executivos de companhias dos mais variados setores e portes localizadas em dez cidades do Brasil. Desse total, 121 falaram especificamente sobre a questão da mão de obra.
A falta de profissionais qualificados é tal que, além de ter dificuldade para preencher vagas em aberto, as empresas precisam investir maciçamente na capacitação daqueles que compõem seus quadros. A pesquisa mostra que 76% das companhias conduzem atualmente programas de treinamento interno, 60% subsidiam cursos externos para seus funcionários e 40% desenvolvem parcerias com instituições acadêmicas.
A capacitação, além de exigir investimentos pesados das companhias, ocupa parte considerável do tempo de trabalho dos profissionais. Na grande maioria das empresas (78%), até 10% da carga horária dos empregados é despendida com programas de formação técnica. O levantamento da Amcham indicou ainda que, na visão do setor privado, há uma importante relação entre os centros de formação de engenheiros e técnicos e a atual realidade da mão de obra especializada e seu enfrentamento. Os empresários reconhecem a qualidade dos profissionais capacitados por essas instituições (52% veem esse aspecto como totalmente adequado), mas as consideram ainda aquém do ideal em termos de custos (totalmente inadequados para 47%), quantidade de graduados em relação às necessidades do mercado (totalmente inadequada para 49%) e distribuição geográfica nas diversas regiões do país (totalmente inadequada para 49%).