Fala-se muito sobre inovação em gestão de pessoas e, quase sempre, o ponto de partida é a tecnologia. Mas, no meu ponto de vista, o futuro da gestão está além dos algoritmos. Está na escuta. Ouvir é uma prática antiga que ganhou novo valor em tempos de mudança acelerada. É o que nos permite entender o que realmente importa, o que as pessoas esperam da organização e de si mesmas. Mais do que um gesto, ouvir é uma atitude de liderança – uma forma de dizer: “eu me importo com o que você pensa”.
O relatório Global Human Capital Trends 2025: Work. Reimagined *, da Deloitte, reforça essa ideia ao afirmar que as empresas precisam repensar como acessam, desenvolvem e motivam suas forças de trabalho, o que pressupõe compreender a percepção das pessoas. Essa reflexão me parece central: antes de buscar novas tecnologias, é preciso fazer as perguntas certas e, sobretudo, estar disposto a ouvir as respostas.
Quando a vulnerabilidade se torna força
A escuta verdadeira nasce quando há espaço para vulnerabilidade. Quando líderes deixam de se posicionar como quem tem todas as respostas e passam a perguntar com curiosidade genuína. Esse movimento, por mais simples que pareça, muda tudo: cria segurança psicológica, amplia o diálogo e faz com que as pessoas se sintam parte real das decisões.
Hoje, faço parte de uma rede de hospitais e buscamos viver isso de maneira concreta. A cultura “Paixão por Cuidar” é o nosso propósito e nosso jeito de estar presente. Nos encontros realizados em 27 hospitais e clínicas, mais de 12 mil colaboradores se reuniram para conversar sobre o que nos conecta: o cuidado. Ali, o protagonismo muda de lugar: o microfone passa de mão em mão, e cada voz se torna parte da construção coletiva.
Inovar também é desenvolver líderes humanos
Essa, a meu ver, é uma das formas mais puras de inovação, aquela que nasce do diálogo edo acolhimento. Inovar também é desenvolver líderes com escuta ativa, capazes de fazer as perguntas certas e criar um ambiente onde as pessoas se sintam seguras para contribuir, aprender e até errar.
Foi com essa visão que estruturamos programas que combinam autoconhecimento, troca de experiências e prática cotidiana. O Assessment MEP, por exemplo, permite que nossos executivos – vice-presidentes, diretores e gerentes – compreendam suas melhores contribuições, alinhadas aos valores da organização e outros a serem priorizados, com devolutivas individuais e planos personalizados.
Aprendizado, propósito e liderança autêntica
O Plano 100 acompanha líderes nos seus primeiros cem dias de atuação, fortalecendo a integração e a clareza de propósito desde o início. E a Academia Américas, lançada recentemente, organiza trilhas de aprendizado voltadas à carreira e à liderança, com foco em preparar profissionais para os ritos e práticas de gestão que sustentam nossa cultura.
Mais do que formar gestores técnicos, essas iniciativas nos ajudam a desenvolver líderes humanos, capazes de reconhecer vulnerabilidades, inspirar pela autenticidade e liderar com propósito. Talvez esse seja o grande desafio do nosso tempo: equilibrar tecnologia e humanidade. Usar dados e inteligência artificial sem perder o olhar sensível para quem está do outro lado. A IA pode nos ajudar a compreender padrões e a personalizar jornadas, mas só a escuta nos permite compreender as pessoas.
O poder das conversas sinceras
No fim, inovar em gestão de pessoas é isso: redescobrir o poder das conversas sinceras. É entender que não existe cultura forte sem diálogo aberto, nem propósito vivo sem acolhimento. E que as organizações mais inovadoras do futuro serão, acima de tudo, aquelas que souberem ouvir com atenção, respeito e humanidade.
*DELL OI TTE CONSULTING LLP. 2025 Global Human Capital Trends: Turning Tensions into Triumphs. Work. Reimagined. Nova Iorque: Deloitte Insights, 2025.

 
																							
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