Dorival Donadão é consultor em gestão e desenvolvimento humano / Crédito: Divulgação |
Em depoimento recente ao The Wall Street Journal, o reverenciado Jack Welch questionou a utilidade dos MBAs, afirmando que a maioria das escolas esquece o lado humano na formação dos novos líderes empresariais. Boa surpresa esse alerta, principalmente quando vem de uma figura que foi e ainda é referência na história empresarial mundial.
Jack Welch influenciou fortemente o modelo de negócio da General Electric (GE), impulsionando resultados e multiplicando o valor de mercado do grupo no tempo em que esteve à frente da corporação. Foi dele a famosa metodologia de classificar a força de trabalho em um generalismo impressionante de 70, 20 e 10 — 70% dos trabalhadores estariam na média tradicional de performance, 20% seriam talentos e destaques de alta performance e 10% teriam de ser substituídos sob o rótulo de “baixa performance”.
Essa regra ditava uma política de premiar os destaques (20%), manter a média razoável (70%) e afastar os piores (10%). E isso foi chamado e adotado como uma nova teoria de gestão de pessoas: a meritocracia. Embora tenha colocado na agenda um novo critério de avaliação de desempenho, Welch correu, na época, um enorme risco de estabelecer um paradigma discutível, ao classificar de forma taxativa as competências e incompetências da força de trabalho.
Eis que agora surge, no The Wall Street Journal, um novo Jack Welch, criticando a baixa atenção dos MBAs ao lado humano. Vindo dele, mesmo contraditório, é positiva a reflexão sobre o tema. Há um grupo informal que se reúne periodicamente em São Paulo, com o tema-âncora Visão humanista nas organizações e que coloca no debate exatamente essa percepção: as organizações, de uma maneira geral, estão subestimando o lado humano nos seus modelos de liderança e gestão. Prevalecem, com larga folga, os focos financeiros, tecnológicos e de mercado. Obviamente, são esses mesmos os focos prioritários, mas é bom lembrar que é o fator humano que faz acontecer (ou não) boa parte da dinâmica de um negócio e dos seus resultados finais.
Welch vem se juntar a Henry Mintzberg, outro crítico (muito mais severo) do formato atual dos MBAs. Acadêmico canadense e durante mais de 40 anos titular da cadeira de estudos sobre gestão da McGill University, em Montreal, Mintzberg escreveu um livro com o sugestivo título MBA? Não, obrigado!.
Controvertido, mas esgrimindo com maestria seus argumentos, Mintzberg diz que gestão significa influenciar a ação. E que a gestão deve, basicamente, ajudar as organizações a fazer o que tem de ser feito, o que significa ação.
A crítica mais contundente é sobre a suposta incoerência existente entre os conteúdos dos programas de MBA e o mundo real. Mintzberg defendendo o argumento de desconexão dos programas com a realidade (que pede ação) e Welch pela insensibilidade acadêmica com o fator humano (que pede emoção). Uma dicotomia curiosa, mas instigante para nós que podemos assistir de camarote a esse debate de alto nível.