Em épocas de isolamento e distanciamento social, como manter e ampliar nossa rede de relacionamentos? Para Laís Macedo, sócia do Lide Futuro e da B4Marry, a resposta é simples: sim e existem caminhos para driblar os possíveis obstáculos criados neste momento. “O fato é que a maioria das pessoas está em suas casas e conectada à internet e, embora esse caminho de conexão seja um pouco mais frio, é possível humanizá-lo”, avalia.
Lais acredita que, atualmente, as pessoas tendem a buscar mais sua rede e a ampliá-la. “Estamos muito reflexivos sobre nossa dedicação ao outro, como deixamos contatos, amigos e colegas pelo caminho, por nossa falta de tempo ou prioridade. O isolamento social nos deixa sedentos pela oportunidade do olho no olho, de interagir com quem gostamos, de conhecer novas pessoas, de ouvir, de ser ouvido, de voltar a se sentir parte dessa célula humana e única de vida que pulsa quando nos vemos em movimento dentro da sociedade”, conta. “Então, podemos entender este momento como a oportunidade de nos conectarmos aos outros, de estabelecer uma rede, de nutrir e, no momento certo, de levá-la, já estruturada, para o mundo físico. Quando voltarmos a nos encontrar, será muito valioso conhecermos pessoalmente as pessoas que já estamos tão conectados virtualmente por esses elos que estamos construindo agora.”
“Seja relevante, não há nada mais verdadeiro do que uma conexão genuína, ofereça ajuda antes de pedir, ouça antes de falar”
O gatilho emocional
O primeiro passo que a consultora sugere para ampliar a rede é segmentar a lista de networking. Ou seja, mapear com quem se deseja falar e se atualizar sobre cada uma dessas pessoas com as quais se deseja conectar. E é sempre importante, segundo Lais, ter um primeiro gatilho de contato. “E a melhor alternativa é que ele seja emocional, já que estamos todos no mesmo barco e com sentimentos bastante semelhantes em relação a esse momento”, diz.
Ela conta que o grande desafio ao iniciar ou nutrir uma conexão é ser interessante e não interesseiro. “Ser interessante não é apenas se apresentar de modo relevante ao outro, mas, principalmente, saber ouvir, encontrar pontos comuns, promover conexões e diálogos verdadeiros. Em um momento como este, por exemplo, qualquer contato que inicie com uma pergunta sobre negócios ou abordagem de venda sem dúvida tem um apelo bastante interesseiro”, diz. “Então, por que não se aproximar com uma pergunta verdadeira sobre como vai sua quarentena, como está se adaptando a este momento, como vai a família, as experiências do home office e outros temas que você também está vivendo e que, além de promover empatia, pode também representar aprendizado? O importante é nos lembrarmos de que vamos acessar um ser humano que, neste momento, partilha de sentimentos bastante semelhantes ao nosso”, diz.
De dez para dois
Tendo ideia do gatilho emocional na cabeça, vale olhar novamente para a lista com quem entrar em contato. E como dividir essa relação? “Primeiro, pense em novos contatos, quem são as pessoas que estão em seu radar de meta de relacionamento. Pode ser uma oportunidade de negócio, um líder que admira, alguém da sua empresa ou mesmo o desejo de uma conexão amigável com um amigo de um amigo”, conta Lais.
Ela propõe, então, listar dez pessoas e a ter como meta se conectar a cinco e, ao final da jornada, terminar com acesso a pelo menos duas delas. “Sim, lembre-se que conexão é apenas estar na rede desse contato, que pode ser um perfil no Instagram, LinkedIn ou até via WhatsApp – que talvez não seja respondido. O acesso tem outra configuração porque, independentemente do modo como estão conectados, há troca entre vocês e interesse mútuo. Portanto, busque essas pessoas nas redes ou, no melhor cenário, quem possa vir a atuar como um canal de conexão a esse contato”, conta.
Em relação às redes, Lais conta que o LinkedIn é sempre o melhor caminho para qualquer abordagem. “Contudo, o momento pede (e permite) os gatinhos emocionais, que representam um pouco de liberdade e permitem acesso via Instagram, por exemplo – caso a conta seja aberta ou já sejam conectados”, destaca. Se a conta não estiver aberta, o melhor caminho é avaliar se há amigos nas conexões desse contato. “Em caso positivo, eles podem ser esse ponto de acesso, depois de sutilmente consultados. Dê sempre a liberdade e espaço ao outro para dizer ‘não’”, destaca. E se nada disso for possível, ela sugere retornar ao caminho do LinkedIn que, apesar de bastante formal e pouco permissivo à intimidade, é um canal de conexão bastante importante.
Evite a ansiedade
Voltando ao acesso… Lais explica que ele não deve ser algo aceito por um lado, mas sim construído, porque é mutuo. “O acesso depende do outro dar esse espaço e liberdade. É um processo lento de construção e manutenção porque é realizado na base da confiança, em gerar valor sem esperar nada em troca”, observa. Um erro grave, nesse processo, é a ansiedade, quando algumas pessoas tendem a pular etapas da construção do relacionamento, saturando seu contato com pedidos pessoais e profissionais, atitudes que demonstram, por exemplo, que a relação está sendo construída baseada totalmente no interesse.
“Evite essas atitudes de ansiedade, reflita sobre seus pedidos e – uma dica bastante importante, mas algo simples que nos esquecemos – pergunte como pode ajudar a outra pessoa. Seja relevante, não há nada mais verdadeiro do que uma conexão genuína, ofereça ajuda antes de pedir, ouça antes de falar”, aconselha Lais. “Parece simples, mas lembre as suas ultimas conexões e o que pensou ao avaliar o perfil desses contatos, o que eles poderiam te dar… mas existiu alguma reflexão de tudo que você poderia contribuir com eles?”
Aberto a oferecer ajuda, basta entrar em ação. E Lais conta que não há razão para qualquer bloqueio ou timidez nesse acesso, desde que sua mensagem não seja uma “cópia e cola” e nem uma abordagem de venda. “Escreva verdadeiramente a intenção daquela conexão, seja por admiração ao negócio, história pessoal ou profissional ou o carinho por essa pessoa. E, diante de uma declaração genuína, manifeste seu interesse em ter 15 ou 20 minutos para essa troca, sugerindo um facetime ou vídeo de WhatsApp, algo informal, mas que permita que tenham um tempo exclusivo para vocês”, diz.
E por falar em timidez… Muitas pessoas parecem tímidas para se apresentarem para outras no mundo “presencial”. Com o isolamento, essa barreira pode ser quebrada? Ou ela pode se manter mesmo no mundo digital? De acordo com Lais, o mundo digital ajuda muito as pessoas tímidas, porque, de modo geral, a timidez no networking está na conexão inicial, que demanda uma abordagem, contato físico e olho no olho, as atitudes que se tornam incômodos ou até intimidadoras para essas pessoas.
Tímida ou não, vá preparada para essa conversa com a pessoa escolhida. “Faça uma aboragem reforçando a motivação do seu contato e ouça mais do que fale. Busque gatilhos emocionais e se interesse pela vida e história do outro. Conclua, então, propondo irem adiante nesse contato, se comprometa com uma oportunidade de apoio a algum tema que tenham conversado, encontre alguma razão para seguirem nessa conexão. Vá nutrindo esse contato e, quando tudo se normalizar, é hora de propor aquele café que nos permite voltar à essência do networking”, diz.
Passado este período de isolamento, Lais acredita que iremos valorizar muito mais as relações humanas, estaremos mais presentes para os outros. “Serão relações conscientes, de valorização das oportunidades de estarmos juntos, de ouvir, de olhar no olho, de manifestar nossa atitude de acolhimento e interesse no outro com aperto de mão, abraço, alguma manifestação de afeto. Acredito que seremos mais polidos a interagir menos com nossos celulares quando estivermos diante da oportunidade de uma pessoa em nossa frente”, conta.
Para ela, este momento nos faz refletir o quanto estivemos ausentes em tantos momentos de presença com os outros. “Vamos valorizar mais as pessoas, as conexões, os acessos. Vamos ter mais interesse em ouvir, em sermos ouvidos, isso porque sairemos mais verdadeiros e humanos desse processo (consciente ou não) de transformação da sociedade”, finaliza.