Avanços tecnológicos e intensas mudanças comportamentais, especialmente entre as novas gerações, estão no centro do debate sobre os processos de transformação organizacional. Os impactos da Inteligência Artificial (IA) são uma das principais preocupações dos CEOs, segundo a pesquisa CEO Outlook 2024, da Ernest Young. O relatório “Change Management Trends Outlook 2024”, da Prosci, também coloca a tecnologia no topo da lista de interesses das empresas, seguida de compliance, mudanças climáticas e retenção de talentos.
As transformações sociais têm se acelerado nas últimas décadas, e a gestão da mudança tornou-se estratégica para a sustentabilidade corporativa. A alta liderança está se capacitando cada vez mais para assumir uma postura ativa voltada à inovação, ampliando sua visão estratégica para se antecipar às tendências. No entanto, existe uma longa distância entre o planejamento estratégico e a operação, e no meio disso tudo, uma cultura organizacional que, muitas vezes, resiste à mudança.
Como destravar a transformação organizacional? A resposta pode estar dentro de casa, nas mãos da média liderança – um grupo de profissionais dedicados, que desempenha um papel crucial no sucesso da empresa. Esses líderes, em cargos de gerentes, supervisores e coordenadores, são essenciais para a implementação eficaz das estratégias formuladas pela alta direção.
O livro “Power to the Middle”, de Bruce Simpson, sócio da McKinsey, ressalta que a média liderança é a espinha dorsal das empresas, responsável por traduzir a visão estratégica em ações concretas no dia a dia. Gestores e supervisores são diretamente responsáveis pela satisfação e engajamento dos funcionários, influenciando aspectos como produtividade, retenção de talentos e clima organizacional. A qualidade da liderança intermediária pode ser o diferencial entre uma equipe motivada e uma desmotivada, afetando diretamente os resultados operacionais da empresa.
Pesquisas da Gallup indicam que 70% da variação no engajamento dos funcionários é explicada pela qualidade do gestor imediato. Muitos gerentes alcançaram suas posições de forma orgânica, destacando-se como especialistas, mas não estão incluídos em programas de desenvolvimento – o que os deixa despreparados para lidar com as complexidades e polaridades de suas funções. Eles precisam não apenas influenciar e motivar suas equipes, mas também ser seguidores engajados que influenciam seus próprios superiores. Este equilíbrio é desafiador, especialmente quando o contexto é complexo e falta apoio organizacional.
É essencial investir em programas de desenvolvimento para a média liderança, assegurando que eles estejam preparados e possam cumprir suas funções com competência, sendo atores hábeis na transformação e no sucesso organizacional. Reconhecer e valorizar a média liderança deve ser uma prioridade para qualquer organização que aspire a alcançar a excelência. As empresas que entendem e capitalizam sobre o poder da média liderança estão mais bem posicionadas para enfrentar os desafios do mercado e construir um futuro próspero e sustentável.
A transformação da sociedade, e por consequência, do mundo corporativo, é inevitável e está se acelerando. Gerir a mudança com uma abordagem intencional, que conecte o desenvolvimento humano de forma transversal aos objetivos do negócio, será fundamental para gerar mais colaboração, protagonismo e impacto dentro das organizações.
* Emanuela Anselmo é CEO da Makeachange e senior advisor da Hyper Island.