Antes restrita a apenas pequenas equipes de desenvolvimento de produtos, muitas empresas estão adotando uma nova forma de lidar com seus funcionários de modo a deixá-los mais livres, mas, ao mesmo tempo, responsáveis. A chamada cultura ágil tem chamado a atenção, mesmo que ainda de forma tímida, dentro de muitas organizações.
“A cultura ágil dá liberdade para que os colaboradores utilizem sua criatividade para resolver os problemas existentes. Com isso, as pessoas acabam desenvolvendo o senso de propriedade, se dedicando como se fossem o dono da empresa”, conta Raquel Parente, gerente de recursos humanos da Locaweb, empresa de serviços de internet.
A empresa, que já utilizava metodologias ágeis dentro dos seus times de tecnologia, percebeu a importância de ampliar essa forma de gestão para as demais áreas da companhia. O foco sempre foi o aumento da satisfação e, consequentemente, da produtividade dos funcionários. “Por ser um modelo dinâmico de trabalho, a cultura ágil promove mais autonomia para a equipe e proximidade com o cliente, culminando em maior produtividade”, conta Raquel.
Apesar das vantagens desse modelo, essa forma de gestão ágil ainda é pouco explorada pelas companhias. Um estudo divulgado recentemente pela CA Technologies mostra que somente 6% das empresas têm “transformado toda a organização para adotar princípios de agilidade de negócios”.
A Coleman Parkes, que fez a pesquisa para a CA, ouviu 1.770 executivos de tecnologia da informação em 21 países, incluindo 76 brasileiros. De acordo com o levantamento, 12% das empresas não usam metodologias ágeis; 30% têm algumas equipes que adotam as metodologias, mas “as práticas variam e falta visibilidade para seu trabalho”, aponta o estudo.
Especialistas indicam que a maior dificuldade para adotar métodos ágeis de forma mais ampla se dá por razões culturais. Muitas empresas encontram entraves para realizar esse processo dentro do seu corpo de funcionários.
A Locaweb tem realizado esse processo nos últimos anos, mas relata que é uma prática de adoção contínua. “Culturas não são modificadas em um curto espaço de tempo. A cultura é algo intimamente ligado às pessoas e aos seus costumes; então, o engajamento das pessoas é um fator crucial para a aceleração da mudança”, relata Raquel. “A Locaweb tem caminhado e melhorado suas práticas ao longo do tempo.”
Outra empresa que passou a adotar a cultura ágil de forma mais ampla é a Nimbi. Especializada em tecnologia para a gestão da cadeia de suprimento, a companhia remodelou há pouco mais de um ano a forma de gestão para tornar o ambiente mais agradável. Espelhada na cultura ágil e em startups, que visam justamente reinventar o ambiente
corporativo, a empresa reformulou todo o seu ambiente físico para proporcionar essa renovação.
“Nós criamos um escritório novo, que não define local fixo para os colaboradores, além da quebra de hierarquia das equipes. Tudo isso define a cultura organizacional da empresa”, diz Patricia Rechtman, gerente de marketing da Nimbi. “Nós promovemos um ambiente para que as pessoas que estejam trabalhando aqui dentro sejam criativas, inovadoras e que tenham a autoestima alta para poder inovar”, complementa.
A empresa também aposta nessa cultura para atrair novos colaboradores e manter os atuais. Hoje, a Nimbi conta com 250 empregados e espera chegar ao fim do ano com mais de 300. “Na própria entrevista, as pessoas veem o ambiente e já sentem vontade de trabalhar”, afirma Patricia. Para ela, o diferencial da empresa para atrair e manter os atuais funcionários é uma combinação de infraestrutura e clima de trabalho. “Mesmo os recém-chegados já falam que o ambiente é totalmente diferente de outras empresas em que já trabalharam”, diz.
A remodelagem da cultura organizacional permite também outras regalias, com o objetivo de aumentar a percepção de bem-estar de seus colaboradores durante o expediente. “Se, após uma reunião muito tensa com algum cliente ou mesmo interna, o colaborador quiser relaxar, pegar uma cerveja e ir para a varanda, não há problema nenhum”,
afirma Patricia. “Nós damos liberdade para que isso seja feito e cabe ao funcionário ter bom-senso. Até o momento nós não tivemos problema com isso”, complementa.