Não deixe para a véspera

de Redação em 31 de dezembro de 2018
Crédito: Shutterstook

Quem nunca deixou para fazer aquele relatório aos 45 minutos do segundo tempo? Quem sempre diz que precisa ler um determinado livro, que mora na cabeceira da cama, mas não o abre, nem para se lembrar do número de
páginas? E quem vai deixando para depois e depois e depois o início daquele curso na web? Quem nunca?

Se você se encaixou em alguma dessas situações, não se preocupe. Quer dizer, preocupe-se em vencer a procrastinação. E para que essa tarefa não
fique apenas em sua mente, como um desejo, vale mostrar algumas dicas de Fagner Borges, autor do livro A jornada da liberdade, para não deixar
mais as tarefas para depois, e assim aumentar seu poder de realização.

“Quem procrastina muito está com o cérebro condicionado a isso, e existe uma forma de enganá-lo para acabar com essa condição”, explica o criador do Movimento Freesider, que busca permitir que as pessoas sufocadas pela rotina conquistem liberdade de tempo, mobilidade e dinheiro.

Mas antes das três dicas, cabe uma pergunta: a falta de um propósito ou sentido no trabalho também contribui para a procrastinação? “A falta de propósito contribui para a desmotivação e, consequentemente, a procrastinação. Se não vemos sentido, para quê fazer, não é mesmo? Um livro muito bom sobre o assunto é Por quê? Como grandes líderes inspiram ação”, diz Borges.

Além do sentido ou propósito, o ambiente de trabalho também é um fator que pesa muito, avalia Borges. Ou seja, se o profissional gosta do que faz, vê um propósito, mas as demais pessoas não colaboram, a liderança não é boa, o clima não é lá essas coisas, é possível existir um campo para a procrastinação. “Dentro da competência interpessoal, explico que somos a média das pessoas com quem mais convivemos, pois aprendemos por meio do exemplo e confiamos a nossa realidade naquilo que condiz com o nosso cotidiano”, explica.

“O medo do julgamento é um dos principais fatores que fazem com que a gente procrastine. O mesmo acontece com a liderança; um líder que incentiva o aprendizado e o crescimento vai ajudar a estimular essas características e, consequentemente, criará um ambiente de apoio e fraternidade. Já um líder que enaltece o talento e a inteligência como fatores fixos, ou você nasce com ou não, incitará um clima de julgamento e risco, no qual a procrastinação é muito mais comum por causa do medo de ser julgado”, diz. Quer “enganar” a procrastinação? Então, confira as dicas de Borges:

Crédito: Shutterstook

Entenda qual o seu tipo de procrastinação
Antes de explicar como “enganar” o cérebro, Borges conta que existem dois tipos de tarefas afetadas pela procrastinação: aquelas tarefas do trabalho (como um relatório que precisa ser entregue na sexta-feira ou uma série de ações para diferentes clientes) e aquelas tarefas que deveríamos fazer gradativamente para realizar algo maior. “A diferença entre eles é que o primeiro tipo você vai acabar fazendo em cima da hora, e o segundo vai ficar para trás e impedir você de avançar nos seus objetivos”, explica.

A procrastinação das atividades que precisam ser feitas de qualquer maneira tem relação com a Lei de Parkinson. “Essa lei foi publicada pelo professor Cyril Parkinson nos anos 1950 e diz que o trabalho se expande de forma a preencher o tempo disponível para sua realização”, explica Borges. Isso significa que as pessoas que precisam entregar um trabalho no final da semana tendem a procrastinar e finalizar o projeto na hora da entrega, em vez de fazer antecipadamente. “Você pode reparar que, quando você tem muito trabalho e pouco tempo, você acaba fazendo tudo o que precisa nos prazos, porque seu cérebro sabe que não vai ter mais do que aquele curto espaço de tempo para realizar o que for necessário”, resume o criador do Movimento Freesider. “Quando você tem pouca coisa para fazer e tempo de sobra, a preguiça aumenta e você tende a procrastinar cada vez mais.”

Acelerar a rotina
Para quem vive procrastinando tarefas relacionadas ao trabalho ou ao estudos, Borges sugere que sejam criadas mais tarefas. “Se eu tenho 40 horas para realizar algumas atividades, eu acabo fazendo minha mente alocar todo o tempo para elas”, explica. “Por isso, é uma boa ideia começar a incluir atividades no meio do dia e compromissos durante a semana para deixar sua agenda mais cheia, assim você engana seu cérebro e dá menos tempo a ele, se forçando a realizar mais coisas em menos tempo”, sugere.

Para isso, Borges ressalta a importância de concentrar-se totalmente na tarefa a ser feita e deixar de lado as distrações, como notificações de e-mails e redes sociais, deixando o celular longe do alcance das mãos por um tempo. “Repare que você consegue fazer o mesmo trabalho que faz em uma semana nos três dias antes de um feriado prolongado, ou que muitas vezes a tarefa adiada por dias é feita em algumas horas”, exemplifica. Desta forma, ao estabelecer uma rotina mais intensa, o cérebro aprende a fazer mais em menos tempo.

É importante atentar para o tipo de atividade que será acrescentada à rotina, já que não é necessário trabalhar ainda mais. “Aproveite para incluir na rotina coisas que te fazem bem, como uma atividade física, mais tempo com seus filhos, cursos ou um check-up médico, por exemplo”, completa.

Mudar o foco
Borges explica que a procrastinação acontece porque somos condicionado a evitar aquilo que causa dor. “O nosso cérebro é preparado para nos proporcionar apenas o que dá prazer, e geralmente é a zona de conforto que causa essa sensação”, conta. No caso de atividades de prazo maior, como se dedicar a um novo negócio ou estudar para algo que será importante no futuro, o segredo é mostrar para o cérebro que não realizar
essas tarefas trará ainda mais dor do que prazer. “Você precisa associar tanta dor ao fato de não estudar e não investir seu tempo em algo que vai te dar liberdade no futuro, que seu cérebro vai perceber que é melhor realizar
essas tarefas”, explica.

Ao associar toda essa dor que virá no futuro se permanecer na mesmice, o cérebro passa a mudar as associações de dor e prazer. “É por isso que eu digo que, quando você faz isso, você ‘enganou’ o seu cérebro em relação ao que ele foi condicionado”, completa. Por fim, Borges destaca o quanto essas duas formas de evitar a procrastinação são fundamentais para quem deseja empreender ou encontrar novos rumos profissionais. “Eu entendo que você não pode se dar ao luxo de largar seu trabalho de repente, mas se você consegue fazer mais atividades em menos tempo, ainda se dedica ao que vai te dar resultado no futuro, você já está no caminho certo”, completa.

*Conteúdo publicado na edição Novembro/2018, da Revista Melhor RH

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