O advento da tecnologia proporcionou uma verdadeira revolução nos mais diversos setores da economia. Muito além de alterar modelos de negócios, a transformação digital acelerou importantes mudanças nos valores das companhias. Um dos impactos mais relevantes foi sentido pela área de recursos humanos. Ela, que em muitas organizações passou a ser chamada de “people”, incorporou uma nova visão, passando a considerar que o centro de uma empresa de sucesso são seus colaboradores. Sob o novo prisma, cada um dos indivíduos é único, parte essencial para o desenvolvimento dos negócios, e deve ser tratado com o máximo de respeito e ter seus interesses levados em conta.
De acordo com pesquisa do Instituto Gallup, as organizações têm mais sucesso em aumentar o envolvimento e melhorar os resultados do negócio justamente quando tratam os funcionários como partes interessadas no seu próprio futuro e no da empresa. A visão humanista, de valorização do ser humano e de seus atributos e emoções, tem o poder de mudar o jogo, contribuindo para as organizações conquistarem e reterem melhores talentos, além de reduzir o turnovere ajudar a fidelizar os colaboradores, transformando-os em verdadeiros embaixadores da companhia.
Colocar os ativos pessoais como centro dos negócios já se tornou tão mandatório que, de acordo com a pesquisa Tendências globais de capital humano 2020 – A empresa social em ação: o paradoxo como um caminho a seguir, da Deloitte, as três principais preocupações das companhias brasileiras giravam em torno da “ética e futuro do trabalho” (95%), “promover um sentimento de pertencimento aos funcionários” (93%), e “forças de trabalho multigeracionais” (91%).
Práticas de gerenciamento aberto: empoderando o colaborador
Acompanhando esse novo olhar para os profissionais, ganhou espaço nas companhias a utilização das chamadas open management practices, ou práticas de gerenciamento aberto, em tradução literal. Uma coletânea de características e habilidades que precisam ser observadas para identificar e criar líderes, além de desenvolver os colaboradores desde sua chegada à companhia até sua evolução dentro dos níveis hierárquicos.
O gerenciamento aberto nasceu no universo da tecnologia, sob as premissas do open source, também conhecido como código aberto, e foi sendo incorporado nos processos dos mais variados departamentos das organizações, incentivando principalmente a área de recursos humanos. As open management practices concentram-se em seis pilares que buscam capacitar os colaboradores por meio do exemplo, ouvindo e respondendo as suas ideias, questões, modos de pensar e abordagens.
Nesse conceito, prevalece o modelo de gestão horizontal, no qual a porta do líder ou gestor está sempre aberta aos demais funcionários, independentemente do cargo que ele ocupe. Estamos falando de gerenciamento participativo, no qual cada integrante do time assume um papel central e mais ativo nos negócios. Isso faz com que se crie organicamente uma cultura aberta e poderosa que perpetua em todos os setores e processos da companhia.
A prática empodera os profissionais que, além de se sentirem mais envolvidos com seu próprio trabalho, ampliam a conexão com a empresa e com os negócios.
RH como fomentador das práticas abertas
O guarda-chuva do open nanagement engloba desde as contratações até o treinamento constante das equipes para manter a cultura aberta e colaborativa, desde as pequenas atividades do dia a dia até o trato com clientes e desenvolvimento dos negócios.
O processo de atração de talentos vai muito além da preocupação com os certificados e experiências anteriores do candidato – para que não seja contratado alguém com qualificações muito acima ou abaixo do cargo em questão. O foco está em montar uma equipe com várias perspectivas diferentes, com mentalidades, comportamentos e características que agreguem valor à cultura da empresa, já que construir uma equipe multidisciplinar e multifacetada é a base para o crescimento sólido das companhias.
Nas organizações adeptas às práticas de gerenciamento aberto, o RH usa os processos de recrutamento e entrevistas para contratar os melhores profissionais, reduzir o viés não intencional e criar uma experiência positiva para os candidatos. As mesmas preocupações se repetem nos programas de integração e treinamento de todos os novos colaboradores. É preciso garantir que mais do que ouvir a cultura da companhia, esses profissionais a compreendam, podendo vivenciá-la na prática em cada atividade do dia a dia.
As práticas inserem no método de gerenciamento temas como liderança, reconhecimento e recompensa, conexão, confiança e transparência.
Outros tópicos, como meritocracia, integridade e ética, colaboração, equilíbrio, propósito e processos compartilhados também são abordados, além de eventos culturais, mensagens estratégicas, prioridades conflitantes, respeito e pertencimento, motivação, comportamento profissional e feedback construtivo.
Moldando líderes e desenvolvendo comportamentos
O RH também é o fomentador do surgimento dos chamados open leaders, responsáveis por serem os catalisadores internos das práticas abertas. Parte da gênese dessa gestão está em criar conexão entre associados e gerentes, fazendo com que eles entendam a importância desse modelo e sintam-se à vontade para empregá-lo no dia a dia. Para incentivar essa ligação, a área de recursos humanos não pode simplesmente legislar as regras, fazendo com que sejam utilizadas apenas “porque a equipe de pessoas quis”. É preciso inspirar propriedade, o que pode ser feito por meio de workshops e treinamentos constantes.
Essa troca ajuda a construir uma competência definindo a prática. Ou seja, após conhecer e compreender o modelo e os benefícios que ele oferece, os gestores se sentem capacitados para reproduzi-lo em suas equipes. Isso gera os sentimentos de propriedade e responsabilidade que vêm em seguida e também acabam sendo compartilhados com o time. Os associados sabem o que fazer e o que não fazer nas práticas de gestão, os gerentes têm feedback proveniente da área de recursos humanos e os líderes podem apoiar os planos de desenvolvimento de seus gerentes.
Tudo isso cria um ciclo completo e virtuoso, pois as open management practices abrem um caminho para que os gestores se comprometam com o próprio desenvolvimento.
E mais do que isso: um elemento estimula o outro a seguir propagando as práticas dentro da empresa, construindo e consolidando a cultura aberta e participativa.
Equipe mais coesa e engajada, melhores resultados
No modelo aberto, a soma das partes é comprovadamente maior que o todo. A colaboração forma o elo que une as peças que se complementam e preenchem os espaços falhos ou faltantes. As vulnerabilidades individuais desaparecem quando o motor da colaboração passa a operar a pleno vapor. Quando existe abertura, a vulnerabilidade não é questão de fraqueza, mas sim uma expressão de coragem, liberdade e responsabilidade convivendo em equilíbrio.
Nesse modelo de gestão, quem costura todas as pontas, organizando, parametrizando e impulsionando a colaboração é a área de recursos humanos. Todo o time pensa e trabalha para garantir que, em todos os processos da companhia, prevaleçam as práticas de gerenciamento aberto. O conceito das open management practices está alinhado ao que os próprios colaboradores esperam de um ambiente saudável e inclusivo. Por isso, auxilia o RH a entregar atitudes, ações, programas e benefícios que estejam conectados com aquilo que mais importa para cada associado, ao mesmo tempo em que possibilitam manter o olhar sobre o crescimento saudável do negócio.