Em um momento em que algumas boas discussões começam a tomar vulto sobre a questão ética e moral das formas utilizadas para atração de talentos, cada vez mais difícil, falar sobre o “significado do trabalho” torna-se uma boa alavanca para, quem sabe, esclarecer alguns pontos obscuros. Uma possibilidade é analisarmos a conexão entre o conceito de significado e o de felicidade. O que realmente o faz feliz no trabalho é, muito provavelmente, o grande significado, o grande porquê que, no fundo, interessa e que pode ser o fator de sucesso de um profissional.
Se tomarmos para análise apenas um conceito de felicidade, que diz que “ela é o encontro da razão e da emoção em uma atividade prazerosa”, temos uma boa fonte de analogias e alegorias muito poderosas. Por exemplo, considerando a razão como a detentora de tudo o que é realmente tangível nessa relação, podemos alocar aí alguns temas e processos, inclusive o de remuneração, que passa,
no caso da atração de profissionais, pela dimensão dos famosos hiring bonus.
Agora, se analisarmos o fator emoção como sendo tudo o que está conectado com os sentimentos (seus e os dos que orbitam sua vida – profissional e pessoal), ainda falta colocar tudo isso em prática. Como? “Em uma atividade prazerosa”, no caso de nosso conceito. E é aí que paira o elemento “significado”. O que tenho encontrado nessa área é a conjugação de temas interessantes. Ou seja, quando trabalhamos em alguma dinâmica para reflexão e materialização sobre o “significado” do trabalho para líderes, escutamos deles coisas como justiça, humanidade, coragem, sabedoria, conhecimento, gratidão e temperança – muito presentes. Mas também surgem, nessas discussões, alguns dilemas e até mesmo paradoxos, dos quais os que incluem dinheiro sempre são tratados de forma superficial, talvez por alguma “culpa” social. A pergunta que surge: é algum pecado ser dignamente remunerado pelo que se faz? Alguma proibição divina ou legalista nos impede de ter significado no nosso trabalho e ainda sermos remunerados por isso? Eu, ao menos, não considero assim: quando executivo da área de RH, recebi, sim, hiring bonus para trabalhar em uma das empresas que mais admirava; hoje, como consultor, em que tenho a oportunidade de conhecer muitos processos dessa ordem, também vejo essa prática.
Não há forma certa de fazer a coisa errada. E se uma empresa consegue, por meio de sua história, cultura, modelo de negócios e, claro, uma boa remuneração (incluindo um bônus de contratação), propiciar “significado” para seus atuais e futuros trabalhadores, não há problema. Desde que exista a coerência entre palavras, ações e métodos, tanto do indivíduo quanto da organização, que sejam bem-vindas as formas corretas de atração. Mas cuidado: prover espaço e oportunidade para que o “significado do trabalho” possa emergir ainda será o fator decisório para um profissional técnica, emocional e estruturalmente competente aceitar o desafio de mudar de empresa. Você está preparado para prover essa oportunidade? Deveria!
Marcos Nascimento é partner na Manstrategy Consulting, expert em desenvolvimento e alinhamento de top teams