Eugenio Mussak é professor da FIA, consultor e autor / Crédito: Divulgação |
O jornalista investigativo Charles Duhigg explora o tema da repetição de padrões de comportamento em seu livro The power of habit: why we do what we do in life and business (O poder dos hábitos: por que fazemos o que fazemos na vida e nos negócios), e alerta para o fato de que estamos sendo observados permanentemente por tecnologias que se valem de várias ciências, como a psicologia social, a antropologia e até a neurociência, com a finalidade de nos tornarmos clientes fiéis de produtos e marcas. Ou seja, a continuarmos sendo o que sempre fomos. A sermos no futuro o que temos sido até agora. O comportamento define a tendência, a tendência reforça o comportamento.
Sim, repetimos padrões. Cerca da metade do que fazemos no dia a dia deriva de nossos hábitos e não de intenções deliberadas. Até aqui tudo bem, pois os hábitos economizam energia e nos liberam para outras tarefas. O.k., mas, por que, afinal, repetimos comportamentos destrutivos, que prejudicam nossa saúde e nossas relações? Essa é a grande pergunta.
Nietzsche foi um homem de saúde frágil, por isso procurava morar em regiões de clima ameno, onde podia passear, pensar e escrever. E foi, provavelmente, em uma caminhada na região de Sils Maria, perto de St. Moritz, na Suíça, observando as camadas repetitivas em uma formação rochosa que ele teve a inspiração para elaborar o conceito do Eterno Retorno, uma de suas ideias mais complexas e mal compreendidas até hoje. O alemão pergunta, com sua costumeira acidez, o que você sentiria se de repente fosse visitado por um demônio que lhe dissesse que tudo o que você fez nesta vida, todas as conquistas e derrotas, sofrimentos e prazeres, comportamentos cotidianos e atos esporádicos, absolutamente tudo, seria repetido indefinidamente. E você estaria condenado a viver para sempre a vida que escolheu viver. Qual seria seu sentimento diante desse destino?
O que ele queria dizer era que você tem de assumir a responsabilidade por sua vida como se ela fosse se repetir indefinidamente. Ele não concordava com o conceito platônico de que existe um mundo ideal chamado mundo das ideias, onde podemos nos refugiar, e sim só o mundo real, em que vivemos. Nem aceitava o dogma da vida eterna defendida pela Igreja, que coloca esta vida apenas como uma passagem rápida. “Só temos esta vida para viver” – dizia – “e não temos tempo para o arrependimento.”
A ideia de viver a vida como se ela fosse ser repetida indefinidamente aumenta nossa responsabilidade por aquilo que aqui fazemos. Não podemos nos arrepender, não temos esse direito, e, para tanto, temos de cuidar do que fazemos. Só há um jeito de termos amor por nosso destino – amor fati nietzschiano – e esse jeito é viver nossa vida com intensidade e responsabilidade. Se me der conta de que o que faço hoje é exatamente o que farei amanhã tratarei de cuidar mais de minhas atitudes. Nossa forte tendência para repetir modelos deveria ser uma força suficiente para nos levar a uma reflexão lúcida sobre o que fazemos, pois um ato repetido vira um hábito, e o hábito vira destino. E quem pretende amar seu destino não pode não cuidar dele.