É preciso ter um olhar mais abrangente para a saúde – em especial nas empresas. Ela não se resume apenas a oferecer um plano de assistência médica ao funcionário. Trata-se, como explica Ana Elisa Siqueira, sócia-presidente
do Grupo Santa Celina, de um guarda-chuva com vários itens que devem ser correlacionados. E que apresenta
alguns desafios.
Um deles é esse, o de entender que benefício saúde não é só dar acesso a uma rede credenciada de médicos. “O gestor de RH deve fazer com que esse entendimento chegue até o CEO, até o board”, ressalta Ana Elisa, que também é presidente da Aliança para a Saúde Populacional (Asap), entidade sem fins econômicos que tem como meta estimular e promover ações de gestão de saúde populacional. É por meio dessa iniciativa da área de recursos humanos e desse melhor entendimento por parte das principais lideranças da empresa que o profissional da área que cuida da gestão de pessoas terá melhores ferramentas para fazer a gestão da saúde na empresa – além de contar com sponsors muito importantes.
Aliás, fazer a gestão de saúde na empresa é algo muito distante da realidade de muitas organizações. Em muitos casos, o que se faz é a gestão de doenças. Ou melhor, nem isso chega a ser realizado. Como destaca a presidente da Asap, em muitas empresas o que se faz é a gestão de custos…
Outro desafio está relacionado a uma peça fundamental na grande engrenagem chamada empresa: o funcionário. Ele precisa entender que ter um acesso a uma rede fragmentada, mesmo que ela seja ilimitada e da qual possa se valer quantas vezes quiser, não significa ter necessariamente um benefício de saúde. “Esse usuário tem de ter o entendimento de que promoção, prevenção, atenção primária e coordenação de cuidado são o que realmente irá fazer com que haja uma qualidade de vida melhor”, diz Ana Elisa.
É por meio da compreensão de que promoção de saúde e prevenção são importantes para que se tenha uma população mais saudável e um sistema de saúde mais “saudável” que o colaborador pode mudar. E essa mudança significa entender o seu papel em relação à própria saúde – da qual ele é o principal responsável.
Ana Elisa afirma que as empresas também precisam de incentivos maiores para fazer com que seus colaboradores
se adequem a modelos mais salutares, como o modelo de gestão de saúde em que seus funcionários tenham acesso à atenção primária, por exemplo. “De 80% a 86% de toda a complexidade do sistema de saúde acontece na rede de atenção primária”, diz.
Ao colocar esse usuário fidelizado em uma rede de atenção primária, ele tende a deixar de ir ao pronto-socorro, por exemplo. Segundo Ana Elisa, aproximadamente 60% das despesas assistenciais refere-se à internação. “Ao fazer parte de uma rede de atenção primária, ele passa a ser monitorado por profissionais que conhecem o histórico dele. Isso faz com que ele não vá de forma recorrente ao pronto-socorro (PS). Com isso, é possível reduzir em quase
40% ou 50%, num primeiro momento, as internações – e uma boa parte delas é desnecessária”, observa Ana Elisa. E deixando de ir ao PS de forma indiscriminada e reduzindo as internações, a sinistralidade cai. Para o bem de todos.
Ana Elisa Siqueira participa de dois painéis no CONARH. O primeiro é Para onde vai a saúde na sua empresa: dos desafios às soluções, no dia 14. Geração de valor na saúde é o segundo painel, no dia 15.