Por que ignorar a saúde mental dos colaboradores pode destruir uma empresa

Ignorar a saúde mental dos colaboradores não é apenas uma falha ética, mas também um erro estratégico com custos significativos

de Charles Betito em 27 de março de 2025
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A saúde mental no ambiente de trabalho se transformou em uma verdadeira emergência. Afinal, quem consegue produzir, inovar ou liderar enquanto carrega o peso invisível da ansiedade ou da depressão? Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esses transtornos já estão entre as maiores causas de incapacidade no trabalho, minando não só a produtividade, mas também a essência do bem-estar humano. E se ainda restavam dúvidas sobre a gravidade do problema, o reconhecimento do burnout como fenômeno ocupacional em 2019, veio como um grito de alerta: o esgotamento profissional não é só um risco; é uma realidade que exige ação imediata. O ambiente corporativo pode ser um palco de conquistas ou um terreno de desgaste – cabe às empresas decidirem.

No Brasil, o panorama da saúde mental nas empresas é alarmante. A pesquisa “Como as empresas cuidam da saúde mental de seus funcionários?”, conduzida pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) em 2023, revela que nos últimos cinco anos, os afastamentos relacionados a transtornos psicológicos, como ansiedade e depressão, dispararam 30%. E, apesar de 46% das empresas afirmarem possuir iniciativas voltadas ao bem-estar mental de seus colaboradores, a realidade pinta um quadro diferente. A maior parte dessas ações parece ser mais marketing do que transformação real, falhando em conter o avanço dessa epidemia silenciosa.

Um estudo da Harvard Business Review, intitulado “The Happiness Dividend”, indica que colaboradores com altos níveis de estresse e esgotamento crônico apresentam queda de até 30% em sua capacidade de produzir e inovar. Além disso, o aumento da rotatividade em busca de ambientes de trabalho mais saudáveis gera despesas com recrutamento, treinamento e integração de novos funcionários, impactando negativamente a cultura organizacional e o orçamento das companhias.

O mundo moderno exige que os profissionais lidem com uma conectividade constante e pressões por desempenho. Esse excesso de responsabilidades, metas elevadas e prazos curtos criam ambientes de trabalho tóxicos. A OMS estima que o custo global com problemas de saúde mental pode atingir US$ 6 trilhões até 2030, evidenciando o impacto financeiro desse problema.

Como as empresas podem construir um ambiente onde a saúde mental seja prioridade? Compartilho estratégias para transformar o ambiente de trabalho em um espaço mais saudável e sustentável:

  1. Conscientização e treinamento: a conscientização sobre saúde mental precisa ser parte integral da cultura da empresa, e não se limitar a eventos esporádicos. Treinamento regulares para gestores e equipes, campanhas internas, murais informativos e canais dedicados em plataformas corporativas ajudam a manter o tema em pauta e criar um ambiente de apoio.
  2. Redesenho do trabalho e autonomia: reduzir a carga de reuniões desnecessárias e promover uma organização flexível das tarefas são medidas que aliviam o estresse dos colaboradores. Oferecer autonomia para que organizem seu próprio horário, além de promover pausas durante o expediente, ajuda a evitar o esgotamento e aumenta a produtividade.
  3. Suporte psicológico estruturado: oferecer acesso a serviços de apoio psicológico, como convênios com clínicas de psicologia ou plataformas de terapia online, é uma necessidade. Grupos de apoio internos para compartilhar experiências, de forma confidencial, contribuem para reduzir o estigma sobre saúde mental.
  4. Programas de longa duração: programas estruturados, que integram diferentes abordagens, são mais eficazes do que iniciativas pontuais. Eles devem incluir conteúdos educativos, redesenho do ambiente de trabalho e incentivo a hábitos saudáveis. Essas ações apresentam uma redução significativa nos casos de afastamento e melhoram a performance das equipes.
  5. Vulnerabilidade na liderança: a liderança exerce papel crucial na promoção de um ambiente saudável. O relatório “State of the Global Workplace 2024” mostra que líderes engajados e empáticos criam equipes mais resilientes e produtivas.

Ignorar a saúde mental dos colaboradores não é apenas uma falha ética, mas também um erro estratégico com custos significativos. Vale lembrar: colaboradores mais engajados, produtivos e criativos impulsionam resultados, fortalecem a cultura organizacional e garantem a sustentabilidade do negócio. Portanto, cabe às lideranças abraçarem essa causa com seriedade e agir de forma consistente, transformando o cuidado com a saúde mental em um pilar essencial para o sucesso corporativo no mundo contemporâneo.

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