Zoomed to death. A expressão, que ganhou força há alguns meses, é uma metáfora para a fadiga associada ao excesso de reuniões online, especialmente com o uso de vídeo. Além do Zoom, plataformas como Teams, Google Meet, Workplace, Hangouts e WhatsApp têm sido usadas à exaustão (literalmente) desde o início da pandemia para conectar funcionários confinados em casa com suas empresas e entre si.
Os números assustam. De acordo com o portal UC Today, ao longo de 2020 houve uma média de 11 milhões de reuniões virtuais por dia somente nos EUA, e cada pessoa participou em média de 62 encontros por mês – metade considerada pouco produtiva.
Nessa estatística estão incluídas as atividades de engajamento de funcionários. Depois de uma primeira onda de entusiasmo com atividades online, desde grupos de apoio psicológico até happy hours, passando por sessões de culinária e alongamento, as empresas perceberam um esvaziamento da audiência. E está cada vez mais difícil despertar o interesse das pessoas, manter viva a cultura e proporcionar interações relevantes, que não caiam na vala comum das lives “que ninguém aguenta mais”.
Não existe solução pronta para essa questão. Mas a resposta pode estar em um terreno conhecido, mas em geral aplicado a outro perfil de público: o marketing de comunidade. Nascido com os primeiros grupos formados organicamente no Facebook para discutir marcas e que passaram, com o tempo, a incluir representantes dessas marcas, o marketing de comunidade promove espaços criativos para a conexão entre consumidores com interesses em comum e permite que a empresa faça parte do diálogo, identificando no processo necessidades e problemas latentes que podem ser endereçados com agilidade.
Transpor o conceito para o engajamento de funcionários, no entanto, pode não ser tão simples. Para começar, é preciso compreender e aceitar uma mudança fundamental de paradigma: nesse modelo, a empresa deixa de ocupar o papel de protagonista da comunicação interna e passa a ser a moderadora de uma rede de diálogos que incluem as mensagens institucionais, mas não se limitam a elas.
Há ganhos que compensam o esforço de adaptação. O sistema de conversas baseadas em interesses comuns que emergem da comunidade de funcionários consegue imitar, até certo ponto, o ambiente fértil de trocas entre colegas que acontece naturalmente no escritório e que se perdeu no isolamento. Ao contrário do que se acredita, a cultura empresarial não se limita aos seus valores e jeitos de fazer definidos desde a origem, mas é fruto da interpretação diária desses elementos pelo conjunto de funcionários. Sem a troca, a cultura se dissolve.
Além disso, ao observar e participar das conversas, a empresa pode detectar expectativas e necessidades do público interno que podem ser trabalhadas e resolvidas com a participação de todos.
Importante frisar que a proposta aqui não é abandonar os formatos tradicionais de comunicação interna. A ideia é somar a esses formatos uma outra camada em rede, com menos curadoria e mais trocas, para melhorar a experiência do funcionário. Nunca é demais lembrar que não estamos em home office. O que estamos vivendo é um isolamento forçado que exige um resgate urgente das nossas conexões com o mundo.