O mercado para o segmento de recrutamento e seleção parece destoar das análises pessimistas, ou apenas realistas, de outros setores. Há um clima de otimismo no ar como é possível perceber a partir dos especialistas ouvidos por MELHOR. “As empresas estão contratando de maneira regular e estão aproveitando, sobretudo, o primeiro semestre para garantir o seu planejamento, tendo em vista os eventos futuros, como Copa do Mundo e eleições, que podem gerar indefinições em certos setores da economia”, diz Fernando Marucci, sócio e diretor da Asap Recruiters para a indústria. “Apesar de janeiro e fevereiro terem sido meses menos dinâmicos, desde o retorno do carnaval percebemos uma demanda aquecida”, afirma Fernando Mantovani, diretor de operações da Robert Half no Brasil.
Uma das explicações para essa avaliação positiva está na movimentação natural de muitas empresas, no início do ano, substituir profissionais que não desempenharam de acordo com o esperado. “Isso acontece principalmente com empresas multinacionais americanas de capital aberto, que são mais rigorosas ao medir resultados de seus executivos”, diz Ana Claudia Reis, sócia da CTPartners. Ela conta que 2014 começou melhor do que era previsto. Setores como varejo, life sciences, seguros, internet e serviços continuam aquecidos e contratando. “As firmas de private equity também seguem adquirindo empresas no Brasil e, nesse sentido, admitindo profissionais para as empresas de seus portfólios de investimentos”, acrescenta.
#L# Ao mesmo tempo que o mercado está aquecido, e, em muitos casos, muitas vagas estarem abertas, um estudo recente realizado pelo LinkedIn em parceria com a PwC constata que, por conta das mudanças econômicas, novas demandas estão surgindo no mercado, mas os profissionais e as empresas não estão preparados para esse novo contexto, o que gera uma lacuna entre as competências existentes e as necessárias. “Esse desencontro custa 150 bilhões de dólares à economia global, além de comprometer a competitividade das empresas com a perda de produtividade”, diz Bernardo Brandão, diretor de marketing das soluções de talentos do LinkedIn. Confira, a seguir, o que há de tendência em recrutamento e seleção:
Ana Claudia Reis, sócia da CTPartners Seletividade e rigor |
Processos mais estruturados
As empresas têm estruturado melhor suas áreas de R&S para garantir processos mais elaborados e atender melhor às demandas por novos profissionais. As multinacionais têm selecionado seus parceiros externos de recrutamento e seleção de forma centralizada, global ou regional, assegurando, desse modo, um atendimento mais rápido e personalizado de suas necessidades por parceiros alinhados aos seus desafios e à sua cultura da organização. Temos observado que as contratações estão mais rápidas nesse início de ano, ao contrario do último ciclo. Em 2013, os processos de recrutamento e seleção mostraram-se mais lentos, com a definição do candidato finalista muitas vezes postergada por longos períodos. Verificamos que, em alguns casos, esta aceleração está relacionada especificamente com os eventos previstos para 2014, a exemplo da Copa do Mundo e das eleições presidenciais, uma vez que, de alguma forma, as empresas querem garantir suas contratações e seus resultados antecipadamente.
Ana Claudia Reis, sócia da CTPartners
Seletividade e rigor
Acredito que uma forte tendência seria a de maior seletividade e rigor nos processos de recrutamento. Com a perspectiva de um crescimento econômico menor, as empresas querem se prevenir de cometer erros de contratação, e por isso tendem a ser mais rigorosas nos processos. Acredito que as redes sociais são uma ferramenta extra, que tem relevância, até por ser um elemento novo nos processos. Em uma cultura como a brasileira, em que o contato pessoal é importante, nada substitui as entrevistas presenciais e a necessidade de filtragem de um volume grande de possibilidades. Na nossa visão, são insuperáveis as indicações vindas de bons profissionais do mercado e a checagem aprofundada de competências e referências, algo que uma rede social não é capaz de fazer.
Fernando Mantovani, diretor de operações da Robert Half no Brasil
Bernardo Brandão, diretor de marketing das soluções de talentos do LinkedIn |
Pelas redes
Cada vez mais as redes sociais profissionais têm exercido um papel fundamental no auxílio aos profissionais de recursos humanos em processos de recrutamento e seleção. Elas auxiliam na busca pelo talento ideal, com as competências específicas necessárias para uma vaga, e que não necessariamente estaria de forma espontânea à procura de uma nova oportunidade. No Brasil, de acordo com informações pesquisadas pelo LinkedIn, apenas 20% dos candidatos na rede estão ativamente buscando por emprego – desempregados ou pessoas que gostariam de mudar para um novo trabalho. Por outro lado, 65% dos usuários do LinkedIn são candidatos passivos – estão empregados e, apesar de não estarem ativamente em busca de novos desafios, estão abertos para receberem novas propostas de trabalho. Isso representa uma enorme oportunidade para que recrutadores encontrem os melhores talentos em meio a 300 milhões de usuários, sendo 17 milhões no Brasil.
Bernardo Brandão, diretor de marketing das soluções de talentos do LinkedIn
Mapeamento de mercado
O foco constante é a qualidade, pois os clientes estão cada vez mais exigentes. Uma tendência importante é o mapeamento de mercado, pois ele é feito para dar mais embasamento ao processo de recrutamento e seleção, se tornando uma grande ferramenta na tomada de decisão entre consultoria e cliente na busca pelo melhor profissional do mercado para a posição demandada. Acredito que as redes sociais ainda não se firmaram como grande ferramenta. Elas, por enquanto, têm sido apenas uma ferramenta de busca, não de seleção. Apesar do advento de muitas plataformas, como o LinkedIn, nada substitui a competência de uma consultoria na avaliação técnica de um profissional.
Fernando Marucci, sócio e diretor da Asap Recruiters para a indústria
Mário Kaphan, fundador da Vagas Tecnologia |
Alinhamento à cultura
Percebo um movimento de qualificação dos processos seletivos. As empresas investem cada vez mais tempo e recursos para identificar as competências comportamentais e alinhamento à cultura organizacional. Recrutar pelo técnico e desligar pelo comportamental me parece não ser mais aceitável. Em relação às redes sociais, acredito que elas funcionam como uma ferramenta de banco de dados. Encontrar as pessoas atualmente é muito simples. A complexidade do processo seletivo está em verificar a aderência à cultura e aos valores da companhia. Este alinhamento é fundamental para que a relação empregado e empregador seja duradoura.
Ricardo Haag, gerente executivo da Page Personnel
Refinar as ferramentas
Uma tendência é refinar as ferramentas para que as empresas encontrem os talentos certos para sua empresa, não só por competência técnica, mas também por afinidade com seus valores, sua postura comportamental. Tudo isso com mais agilidade e eficiência. Nesse sentido, acredito que as redes sociais podem contribuir muito, pois são canais fundamentais para exposição da marca das empresas como empregadoras (employer branding).
Mário Kaphan, fundador da Vagas Tecnologia