Por Marianna Greca, publicitária e coordenadora da frente de Formação Complementar do Centro Europeu
Quem não passou a adolescência ouvindo a palavra “vestibular”, talvez ainda esteja imune às várias armadilhas que o tempo revela. Se a carreira é uma delas, esse texto é para você. Afinal, o que considerar ao mudar de carreira? O dilema de muitos é que, aos 17 anos, nos deparamos com algumas decisões que nem mesmo aos 27 estamos tão certos sobre qual caminho tomar. De qualquer maneira, somos ensinados a fazer “o que gostamos”. Mas se você foi ensinado a escolher o que te agrada desde o início, você pode se perguntar: “como vim parar aqui”?
Faço parte da geração Y, um grupo orientado pela satisfação profissional, talvez acima da busca pela própria estabilidade. Quando ingressamos no mercado de trabalho, nosso perfil profissional surpreendeu as gerações anteriores e fomos celebrados pela nossa versatilidade, conectividade e senso de autonomia.
Hoje, minha visão sobre o nosso perfil é menos romântica quanto ao mercado que construímos. Tivemos – e ainda temos – um oceano de escolhas, de cursos, de carreiras, de trabalhos informais como freelancers e até de materiais gratuitos na web capazes de nos ensinar a executar qualquer habilidade que venhamos a precisar, mas isso tem consequências.
Esse mundo de possibilidades nos torna constantemente insatisfeitos e instáveis quanto ao nosso curso profissional e pessoal. Mudamos de ideia o tempo todo, porque nos foi intitulado o direito de fazê-lo sempre que conveniente. E isso nos privou de uma linha norteadora que agregaria a construção, ao invés da dispersão na qual tantas pessoas da minha geração se encontram em tantos aspectos da vida.
Podemos e devemos explorar as possibilidades de trabalho, mas temos que fazer essas experiências serem construtivas, e não ferramentas de procrastinação. Estamos deixando de construir carreiras sólidas e adquirir real consistência para as nossas vidas? Pelo contrário. Permanece o valor do trabalho com propósito, de buscar aquela carreira que realmente dialoga com nossos valores e habilidades que são só nossas. Vamos construir nossa linha norteadora a partir disso, mesmo que isso signifique buscar uma nova área de atuação.
Além do mais, a maneira como a civilização moderna está organizada faz com que estejamos trabalhando o tempo todo. Sem falar no cenário econômico brasileiro, que, para todos os efeitos, criou uma verdadeira cultura de desapego de empresas, equipes e modelos de trabalho. Então, por que não estamos trabalhando naquilo em que realmente acreditamos?
Mas dessa vez, sem pensar em vestibular. Vamos nos apropriar desse universo de informações, dessa cultura colaborativa, das nossas experiências anteriores (mesmo que em uma área distante da desejada) e construir, com autonomia, foco e objetividade, a vida que desejamos. Não porque estamos procurando algo mais legal para fazer, mas porque queremos dar à nossa força de trabalho, acima de tudo, um verdadeiro significado.