Muito se tem falado sobre economia de custos. E não é para menos, afinal de contas, organizações do mundo inteiro, independentemente de seu porte ou nicho de atuação, ainda vêm sofrendo os impactos da crise financeira mundial. Além do corte de pessoal ou da adoção de períodos prolongados de recesso, algumas têm enxugado seus parques fabris e/ou tecnológicos, investido na contratação de terceiros, diminuído as verbas das áreas de marketing e comunicação. Outras trataram de cortar o capuccino, trocar as lâmpadas naturais por fluorescentes e impor limites para a impressão de folhas. Enfim, não cabe aqui julgar o mérito dessas iniciativas, mas cabe uma reflexão: gerenciar melhor o tempo de trabalho de cada colaborador também não seria uma alternativa interessante?
Na época de bonança, é muito comum ouvir que "tempo é dinheiro". Ora, por que o mesmo não se aplicaria a épocas de crise? Acontece que muitas pessoas interpretam gerenciamento de tempo apenas como um instrumento para ganhar mais dinheiro e esquecem que é uma maneira inteligente de poupar dinheiro. Não sou um especialista no assunto, mas tenho procurado, na condição de presidente de uma organização internacional, fazer melhor uso do tempo e servir de exemplo.
Independentemente do nível hierárquico, reuniões, palestras e afins ocupam as agendas de milhares de pessoas.Acredito que uma reunião de mais de 45 minutos é improdutiva e que 7 minutos são mais do que necessários para apresentar um projeto. Em seu evento global de intercâmbio de melhores práticas, por exemplo, a Ambev leva o princípio da efetividade Í risca, dando 7 minutos para um executivo convencer a diretoria de que sua ideia é a melhor entre todas as apresentadas pelas várias unidades do grupo. A cada ano, mais de 300 práticas são pré-selecionadas. Comitês julgadores de cada categoria (industrial, logística e distribuição, gente, comercial e marketing, custos e responsabilidade social) elegem três ideias para concorrer no evento. Assim, 18 práticas são apresentadas Í s lideranças.
Ainda nesse contexto, um modelo inspirador é o projeto Technology, Entertainment and Design (TED), cujo lema é Ideas worth spreading. O TED começou como uma conferência nos idos de 1984, reunindo grandes pensadores com a premissa de disseminar conhecimento e expor ideias para mudar atitudes, comunidades e o mundo. Desde então, foi crescendo em escala exponencial. Ocorre anualmente na cidade de Long Beach, na Califórnia, durante quatro dias. São cerca de 50 palestrantes de diversos países, compartilhando avanços em áreas como ciência, economia e artes. Detalhe: todos têm o desafio de apresentar suas ideias e descobertas em apenas 18 minutos. Bill Clinton, Bono Vox,Jeff Bezos (fundador da Amazon), Al Gore, Stephen Hawking e Peter Gabriel são alguns dos colaboradores.
Enfim, as empresas têm se esmerado em buscar estratégias para cortar custos. Mas será mesmo que é preciso fazer algo totalmente novo em termos de gestão? Os exemplos que citei neste artigo são simples, mas têm se mostrado eficazes. A questão fundamental é saber mensurar quanto seu tempo de trabalho vale para a empresa e, a partir daí, se perguntar: você tem tempo para quê?
Marcelo Lacerda
é presidente da Lanxess