Se você sente uma permanente autocobrança de aparentar agitação ou estar em atividade o dia todo e se incomoda com a falta de tempo para qualquer coisa que não seja a imersão no trabalho, é melhor ligar um sinal amarelo: a “mosca” da compulsão tarefeira já inoculou o vírus na sua corrente sanguínea.
A agitação permanente parece um código moral de conduta não oficialmente assumido, mas que predomina no ambiente de trabalho de muitas organizações. Na raiz dessa questão há um falso sentido de dedicação plena e absoluta, a busca – às vezes inconsciente – de incorporar um “herói corporativo”, sempre disponível para a ação! Um super-homem do cotidiano!
A má notícia é que esses tempos heroicos já passaram. O espaço, agora, é para um novo perfil de competências em que a força da contribuição não se mede pela carga horária da dedicação, mas sim pela capacidade agregadora e diferenciada dessa mesma contribuição. Em outras palavras, a compulsão pela tarefa deve ser substituída por atitudes que promovam um propósito comum de engajamento das pessoas e das equipes aos desafios estratégicos do negócio e no alcance de um patamar de performance que a atual literatura de negócios denomina de “excelência operacional”.
Parece simples, mas todos nós sabemos das dificuldades de mudança de um modelo organizacional marcadamente produtivo-operativo para outro estágio, o da excelência operacional.
Mesmo com esse rótulo pomposo, a excelência operacional nada mais é do que manter o foco em questões relevantes que tenham conexão com a sinergia dos processos e, ainda mais relevante, com a cadeia de valor do negócio.
A mudança, a princípio, é de um polo a outro, de um extremado e contínuo movimento tarefeiro para uma escala de atividades que resulte em ganhos de produtividade e que, ao final do dia, tragam um sentido de contribuição estratégica.
Será inevitável, nesse caminho, empreender movimentos de um verdadeiro choque cultural. Afinal, como já disse um dos dirigentes da Ford nos EUA, “a cultura devora a estratégia no café da manhã”… Belíssimos books de estratégia, construídos por consultorias de grifes internacionais, acabam, infelizmente, derrotados pelas práticas, hábitos e crenças arraigadas na realidade do trabalho em que o cachimbo tático e tarefeiro já fez as suas “bocas tortas”.
O primeiro antídoto para essa mudança, no entanto, não é tão abrangente. É, na verdade, a autocrítica, o olhar no espelho de cada executivo para a revisão das suas práticas pessoais, da sua capacidade de autojulgamento como líder. A partir daí, iniciar a transição cultural necessária para eliminar o vírus da compulsão tarefeira… Ainda é tempo para essa virada do jogo. E a bola está com você.