Gestão

Como encarar a ambição

de Eugenio Mussak em 22 de março de 2016
Eugenio Mussak é professor da FIA, consultor e autor / Crédito: Divulgação ambiçao

ARTIGO | Edição 340

Para o educador e colunista de MELHOR Eugenio Mussak, a ambição pode ser boa ou ruim. Depende de você

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Eugenio Mussak é professor da FIA, consultor e autor / Crédito: Divulgação

Quando foi inventado, o dinheiro tinha a finalidade de facilitar as trocas. É que antes de seu surgimento a única alternativa era o famoso escambo, a prática de trocar um produto ou um serviço por outro. Se um criador de galinhas, por exemplo, precisasse de leite, teria de oferecer ovos ao criador das vacas. A ideia não era má, mas o problema era andar pelo mercado carregando ovos no bolso. Ou, pior, litros de leite.

Então alguém teve a ideia de criar uma espécie de “medida padrão” para todas as coisas, algo que fosse relativamente raro, mas que pudesse ser rapidamente reconhecido e mensurado, como o sal, por exemplo. Durante muito tempo, pedras de sal foram dinheiro; assim, se cinco litros de leite custavam tanto de sal, o cidadão não precisava levar os ovos, e sim um saquinho cheio de pedrinhas brancas. E essas mesmas pedrinhas poderiam ser trocadas depois por ovos, galinhas, pão ou serviços gerais.

Os empregados, por exemplo, recebiam de seu patrão uma quantidade de sal que lhes permitia atender às necessidades de sobrevivência, daí a expressão salário, que usamos até hoje. E quando alguma coisa está muito cara, dizemos que seu preço está “muito salgado”.

Com o tempo, o sal foi sendo substituído por algo mais prático, como pedrinhas marcadas ou conchas coloridas; só que isso trouxe, claro, a possibilidade da produção indiscriminada dessas unidades de troca. Então alguém teve a ideia de cunhar pedaços de metal, chamados moedas, sob controle das autoridades do Estado – qualquer que ele fosse –, para organizar o valor das coisas e do trabalho de cada um. Da moeda para o papel-moeda, para a conta bancária e para o cartão de crédito foi apenas uma questão de aprimoramento da ideia.

Assim, o mundo ficou mais prático, só que o homem ganhou algo meio difícil de lidar, pois o valor do dinheiro não é só absoluto, é também relativo, o que gera algum desconforto, pois tudo o que é relativo terá grandes variações entre as pessoas. Por exemplo, para alguns, o dinheiro vale por seu poder de troca; para outros, ele é signo de poder. E é aí que reside a confusão, pois, como o valor que as pessoas dão ao dinheiro é tão diferente, não é de estranhar que tenham surgido conflitos entre elas.

Trocando em miúdos, o dinheiro não é uma coisa boa nem má. O bom e o mau são relativos ao que é feito com ele, e não dele mesmo. Até os textos sagrados raciocinam assim. “O amor ao dinheiro é a raiz de toda a espécie de males”, lemos na Bíblia (1 Timóteo 6:10), que, assim, coloca ordem na casa e desloca o mal do dinheiro em si para o que se faz para obtê-lo e para o que se faz com ele.

Dessa visão vem o conceito da ambição que, por sua vez, não é boa nem ruim. Não é moral nem imoral. É amoral. A filosofia, por exemplo, compara a ambição com a água que cai das nuvens: “A chuva não é nem boazinha nem malvada: ela está submetida a leis, a causas, a uma racionalidade imanente que não tem a ver com nossos juízos de valor”, escreveu Comte-Sponville. Em outras palavras, a ambição é tão natural quanto um fenômeno meteorológico; pode ser boa ou ruim, a depender da circunstância, da intensidade e do que fazemos com ela.

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