DROPS GERENCIAIS | Edição 342
Michel Godet, economista e professor francês, é um personagem diferente e polêmico
Dorival Donadão é consultor em gestão e desenvolvimento humano / Crédito: Divulgação |
Recentemente em visita ao Rio de Janeiro para uma palestra na Fundação Getulio Vargas, Michel Godet, integrante da Academia Francesa de Tecnologia, fez declarações no mínimo dissonantes em relação ao entendimento comum dos analistas de cenários e tendências globais.
Vejam, a seguir, alguns exemplos sobre as questões críticas da humanidade (sistemas políticos, imigrações, guerra e paz, níveis educacionais) que são exploradas pelo professor Godet. Percebam que são declarações no mínimo polêmicas…
► Vivemos no maior momento de paz desde a queda do Império Romano;
► Jamais houve tantos países democráticos como existem hoje;
► O percentual de crianças na escola é inédito (para melhor!);
► Nossa culpa nas mudanças climáticas é pequena. A gente superestima nossa relevância. A própria natureza erra e conserta seus erros, na maioria dos fenômenos climáticos;
► Temos cada vez mais acesso à informação, e cada vez menos pessoas preparadas para debater sobre essas informações. Esse aspecto foi reforçado por Umberto Eco quando afirmou que a internet dá voz aos imbecis;
► Informação e tecnologia nem sempre significam progresso. Às vezes prenunciam riscos ou dificuldades ainda maiores;
► A crise de imigração (e seus efeitos) foi protelada porque os políticos europeus não queriam discutir o problema (eles agem pensando unicamente na próxima eleição);
► A grande questão da humanidade, hoje, é como limitar o número de pessoas na Terra.
De todas essas afirmações, a mais lúcida: “O maior impacto sobre o futuro vem das ações do presente. É preciso dar sentido aos nossos atos do presente”. Por coincidência, o maravilhoso Museu do Amanhã, na região carioca do Porto Maravilha, tem essa mesma pegada: “O amanhã é hoje e hoje é o lugar da ação”. Em síntese, há um chamamento de todos nós para que façamos um exame crítico das circunstâncias do presente, para viabilizar um futuro mais equilibrado e menos imponderável.
O incômodo positivo suscitado pelo professor Godet relembra, aliás, uma crônica do maravilhoso Fernando Pessoa, sobre a crise moral e o nosso viver. Essa inquieta transição entre os códigos culturais e a reconstrução da moralidade humana:
Há em tudo o que fazemos
Uma razão singular:
É que não é o que queremos.
Faz-se porque nós vivemos,
E viver é não pensar
Se alguém pensasse na vida,
Morria de pensamento.
Por isso a vida vivida
É essa coisa esquecida
Entre um momento e um momento.
Mas nada importa que o seja
Ou que até deixe de o ser:
Mal é que a moral nos reja,
Bom é que ninguém nos veja;
Entre isso fica viver…
Obs.: Parte desta matéria foi obtida em reportagem sobre o professor Godet no jornal O Globo, 20/02/2016.