A combinação de inflação, desemprego, juros e inadimplência pode resultar em um cenário econômico que atinge as empresas de diversas maneitas, até mesmo pelo bolso dos funcionários. Para evitar o endividamento dos profissionais e garantir que esses problemas não interfiram no trabalho, muitas empresas têm apostado na educação financeira.
Segundo Rodrigo Bussab, consultor de finanças e sócio da FS Advisors, a demanda por programas dessa natureza vem crescendo nos últimos tempos. Na entrevista abaixo, ele fala sobre a melhor maneira de abordar o assunto com os colaboradores e como funcionários com problemas financeiros podem ter um desempenho pior nas atividades.
Qual o maior erro que um funcionário comete com suas próprias finanças?
Muitas vezes, ao iniciar o trabalho de organização financeira em empresas nos deparamos com pessoas que fazem orçamento, estabelecem metas, batem objetivos no âmbito da empresa e são incapazes de fazer para si próprias. É o famoso ditado “casa de ferreiro, espeto de pau”. Duas coisas são uma constante nestes erros: falta de tempo para suas coisas particulares e baixo conhecimento em planejamento pessoal. O simples fato de não ter uma das coisas já impacta. Imagina quando faltam as duas. O tema tem se espalhado de forma ampla e exponencial. Hoje tem bastante informação no mercado e na internet. Tem cursos, “webnários” e palestras. Tem coisas boas e não tão boas. A outra forma é buscar ajuda de especialistas, que tem sido a fórmula para quem quer alcançar sucesso financeiro.
Como as empresas podem falar de educação financeira com os funcionários? Qual o melhor caminho e abordagem?
O tema educação financeira deveria ser tratado a partir dos seis anos de idade nas escolas, a exemplo do que faz Singapura. Se você quer um cidadão preparado, precisa ir à origem do problema. O assunto tem feito eco no Brasil mais recentemente. Afinal de contas já temos 22 anos de moeda Real, o que nos dá um cenário de estabilidade econômica como jamais tivemos na história recente do país. Hoje, quem tem menos de 40 anos já teve sua primeira remuneração em Real. Essa turma não passou por corte de zeros, troca de moeda e confisco. É mais fácil estabelecer um orçamento com sobra de caixa se houver o mínimo de cuidados. Então, o melhor caminho é ter contato com estas informações a respeito de saúde financeira. O caso não é de negligência, é de desconhecimento. Ninguém até hoje ensinou, mas tem um público sedento por este tipo de informação. Nas empresas, a metodologia mais usada é iniciar com palestras para o grande público, avançar em workshops com vivencias e exercícios para grupos menores, e, na evolução, o trabalho individual e customizado.
Como uma boa educação financeira por parte dos profissionais influencia o trabalho deles e a empresa?
Estudos recentes comprovam que funcionários com problemas financeiros têm desempenho pior no seu trabalho. Por exemplo, em 2012, 33% dos respondentes admitiram que preocupações com suas finanças pessoais impactaram negativamente sua produtividade. Ainda, 6 em cada 10 brasileiros não se preparam adequadamente para a aposentadoria. São pesquisas que comprovam a lógica: se você tem uma boa organização financeira pessoal, objetivos claros, espaço entre receitas e despesas, certamente sua cabeça poderá navegar livremente pela sua atividade profissional sem ficar vagando pelos seus problemas.
Quais dicas daria para planejar o lado financeiro para 2017, considerando tudo que aconteceu em 2016?
Os anos de 2015 e 2016 foram anos de ajustes. As pessoas tiveram oportunidade de enxugar suas despesas, replanejar seus gastos e reprogramar seus planos. Também foram anos de se reinventar, lidar com mudanças inesperadas e criar alternativas criativas. Um bom exemplo eu vi quando o dono de uma escola de inglês perto da minha casa trouxe psicólogos fluentes na língua e ofereceu terapia em inglês. Então por um só preço o cliente recebia terapia e aprendia inglês. O ano de 2017 ainda será duro, no entanto as pessoas estão mais preparadas. Vai ser mais um ano de cuidar da sua vida financeira e do seu dinheiro com austeridade e sem excessos. Olhe para seu orçamento, para seus planos e objetivos. Se for preciso, redesenhe o projeto financeiro pessoal para 2017. Além disso, será um ano do início de um mandato do partido Republicano nos Estados Unidos. Olham apenas para seu umbigo, são muito preocupados com a segurança, e eu diria mais, são belicosos e podemos enfrentar guerras pelo mundo. Fizeram isso em outros tempos (George W Bush, por exemplo) como uma forma perversa de recuperação da economia norte-americana, que acaba sendo uma locomotiva da economia global. Porque com as guerras geram-sE recursos através das indústrias bélica, farmacêutica e da construção civil. Espero estar errado nesta previsão. Portanto, o recado é manter-se no seu emprego, continuar com o cinto apertado e atravessar mais um ano sem extravagância. Como dizia Winston Churchill, “Se você estiver passando por um inferno, continue caminhando”. Uma hora passa.