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Questões para estes tempos de covid-19. E para depois também

Será que após esta pandemia a humanidade vai aprender que somos todos iguais, humanos, e dependentes uns dos outros?

O trabalho diário, de casa, que nos consome quase todo o tempo, faz-nos devotos dos pensamentos mais pragmáticos, dirigidos e mais focados na superação dos nossos afazeres, o que, por um lado, é muito bom, pois nossa mente não se dispersa, não se perde, nem desvirtua nossos compromissos fundamentais.

O desafio está nas noites e nos fins de semana, quando filmes passam nas nossas cabeças, lembranças nossas, da família, dos amigos e de tudo o que fizemos, desde a vida escolar, acadêmica e profissional; bem assim o que efetivamente fomos para nossos filhos, irmãos, pais e amigos…

Que pessoas fomos até aqui? Fizemos valer nossas vidas? Quais valores acreditamos e exercitamos, que nos trouxeram até aqui? O foram com felicidade, com verdade, justiça, ética, com plenitude?

O que fizemos até o dia de hoje foi o suficiente para seguirmos a viagem daqui para frente?

Se nós não tivéssemos existido, o mundo em que vivemos, as pessoas às quais orbitamos, teriam sentido alguma falta? Melhor, se nós não tivéssemos existido, teriam essas pessoas estado melhores? Ou seja, a nossa inexistência teria feito alguma falta?

Para Aristóteles, somente poderia ser considerado um verdadeiro líder quem soubesse equilibrar coragem e misericórdia

O propósito desta reflexão não é o de querer transformar ninguém em mártir, herói, ou vilão! Proponho apenas que nos voltemos para nós mesmos e nos perguntemos: para quê estamos na vida? Quando defendemos uma ideia, uma posição ou quando escolhemos um posicionamento ideológico e político, o fazemos com qual intenção? Quando lutamos, por quem e por qual razão estamos lutando? Faz sentido essa luta?

Quantas vezes a discussão sobre classes e níveis sociais, raças, religiões, sexo, gênero, posições políticas nos aproximaram ou nos distanciaram das pessoas que nos são tão caras? Será que nossas defesas são justas, dignas, éticas? Será que, ao falarmos tanto em empatia, estamos sendo honestos conosco e/ou com aqueles que estamos inserindo nessas discussões e nesses relacionamentos?

Quanto tempo nos dedicamos a coisas que realmente fizeram e fazem sentido? Ao contrário, quantas vezes lutamos por questões e coisas que não tinham (e não têm) nenhum valor real?

A vida é uma relação de causa e consequência. Nossas decisões, inexoravelmente, resultam em ônus ou bônus. Agir sem pensar, portanto, é de uma leviandade desmensurada, concordam? Se isso é fato, é verdade, porque agimos tantas e tantas vezes por impulso, meramente por instinto, sabendo que poderemos magoar, ferir alguém, preconceituando pessoas e circunstâncias.

A vida só vale a pena se for para edificar e propagar o bem, se for para construir pontes, e não muros!

Distribuindo felicidade

Uma certa vez, ainda muito jovem, aprendi essa lição ao voltar do trabalho. Naquela ocasião, já tinha três filhos, ainda pequenos. Retornando do meu trabalho, tomado por um sentimento negativo forte, por razões corriqueiras do dia a dia, parei para fazer as compras de casa em um supermercado de bairro. Na fila, vi uma senhora de bastante idade, visivelmente muito humilde, pacientemente distribuindo felicidade na fila do caixa. Diante daquela cena, dei-me conta da minha soberba, do meu egoísmo! Fui até ela e agradeci, pois acreditava ter tudo.

Filhos lindos, saudáveis, tinha meu trabalho e, mesmo assim estava infeliz! Ela me deu um abraço e disse: “Filho, todos os dias recebemos pedras de todos os lados e de muitas pessoas.

Somos nós que optamos em construir pontes ou muros. Eu optei sempre pelas pontes”, afirmou.

Vi que aquela senhora queria me falar de um sentimento comum a todos nós, que podemos usar mais, menos ou negar tê-lo, portanto, nunca o utilizarmos. Falo do amor!

Santa Dulce dos Pobres (Irmã Dulce da Bahia), certa vez disse que “as pessoas que espalham amor não têm tempo, nem disposição, para jogar pedras”. Pois bem, há séculos que vimos construindo mais muros do que pontes! Guerras e discórdias marcam nossas vidas. Preparamo-nos na vida para sempre ganharmos! O mundo penaliza o fraco! A vida pune o perdedor! A sociedade massacra o diferente, as minorias! Nós nos afastamos quase que instintivamente do esteticamente feio, do fraco, do pobre, do enfermo, do pequeno…

A vida só vale a pena se for para edificar e propagar o bem, se for para construir pontes, e não muros

Aristóteles (384a.C. – 322a.C.), filósofo grego, pregava que um verdadeiro líder somente poderia assim ser considerado se soubesse equilibrar a coragem com a misericórdia. Coragem significa agir com a força do coração, e a misericórdia é usar o coração em favor dos desvalidos, dos menos favorecidos. Notem que, independentemente da situação, o coração, sendo fonte de amor, sempre prevalece!

Termino questionando se, após a pandemia que parou o mundo, pondo brancos, índios, negros, asiáticos, ricos e pobres, héteros e homossexuais, gordos e magros, jovens e velhos de joelhos perante o inimigo invisível, terá a humanidade a humildade de aprender que somos todos iguais, somos todos humanos, e dependemos tanto uns dos outros.

Se o amor não mudar o mundo, nada mais o fará, e não teremos aprendido nada!

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Cesar Meireles

Cesar Meireles é diretor-presidente da Associação Brasileira de Operadores Logísticos (Abol), vice -presidente da Associação Latinoamericana de Logística (Alalog) e diretor do Departamento de Infraestrutura da Fiesp