BlogaRH

Gestão em ambientes de incerteza

Não há uma receita pronta, nem garantias de sucesso. Mas é possível construir uma trilha segura assumindo práticas que levem do controle ao contexto

Os modelos de gestão já não são mais adequados à era na qual vivemos e, principalmente, ao tipo de organizações e mundo que queremos criar. Vivemos em um contexto de muita incerteza e, considerando que não há fórmulas prontas, há muito a aprender ao compartilhar nossas crenças e práticas.

Em primeiro lugar, é importante contextualizar: a incerteza é inerente ao ato de inovar e, cada vez mais, se torna parte integral das nossas vidas. Vivemos uma realidade complexa e ambígua, com transformações cada vez mais velozes e de impacto amplo e escalável.

Planos perfeitos e infalíveis são verdadeiras obras de ficção contemporânea. No fundo, não sabemos o que não sabemos, e a imensidão das possibilidades acerca do que ainda vai surgir beira o infinito. Este contexto gera desafios gigantescos para a gestão e toda uma escola centenária baseada em previsibilidade e controle.

Mais do que nunca, é necessário superar a ideia de gestão como controle para um entendimento da gestão como influência em um contexto:
>> de que pessoas são seres humanos integrais e complexos, não recursos a serem alocados e gerenciados;
>> volumes gigantescos de dados precisam ser transformados em informação, conhecimento e, mais importante, ações concretas de forma priorizada;
>> longo e curto prazo precisam ser combinados, e nisso, visões transformacionais e a necessidade de sobreviver andam de mãos dadas,
>> e ritos de gestão têm que traduzir o propósito e os valores das pessoas e da organização da qual elas fazem parte.

É pouco ou quer mais?

A má notícia é que não há “bala de prata”. Mas a boa é que há uma série de práticas que podem ajudar na transição de controle para contexto. Algumas das quais estamos testando na Semente e achamos que vale a pena replicar:

  1. Acabar com o microgerenciamento: não se pode esperar que as pessoas expressem o melhor de si e ajam como resolvedores de problemas em um contexto onde não haja autonomia. É preciso que seja possível estabelecer e testar hipóteses, acertar, errar, aprender e melhorar a abordagem com o tempo. Estimular ativamente um ambiente que permita e valorize a autonomia é mais do que necessário, e deve ser acompanhado por uma forte cultura de feedback e do acolhimento das pessoas de forma a quebrar barreiras ilusórias de vida pessoal e profissional.
  2. Buscar diversidade e exercitar inclusão: além de serem as escolhas corretas do ponto de vista ético, diversos exemplos demonstram que também são boas escolhas para os negócios. Empresas diversas e inclusivas performam melhor. E, não adianta só afirmar que é diverso e ter indicadores estampados na parede, é preciso praticar um olhar desconstruído todos os dias.
  3. Tomar decisões com base na análise de dados: isso significa coletar dados, filtrar e analisar para transformá-los em informação que geram conhecimento e viram  ações que geram resultados e sejam capazes de serem replicadas em processo de forma contínua. Por isso, afirmo, olhar para as pessoas na sua integralidade jamais deve significar menosprezar dados – as duas coisas andam juntas.
  4. Nutrir um ambiente mais horizontal e menos hierárquico: praticar horizontalidade, além de nutrir liberdade e responsabilidade, também significa envolver as equipes nos processos de construção, execução, avaliação e decisão de forma genuína. Significa também extinguir o autoritarismo e paternalismo na mesma medida. O melhor está nas pessoas não esconderem a sua identidade, em se reconhecerem como elas mesmas e poderem expressar isso naquela organização e com isso, performar melhor e trazer mais abundância para as organizações.
  5. Centrar nossas organizações ao redor de propósito(s) e valores em comum: uma das heranças positivas da pandemia é o reforço reflexivo sobre a importância de propósitos inspiradores e mobilizadores para pessoas e organizações. Cada vez mais, a prosperidade, perenidade e sobrevivência de organizações depende de propósitos amplos e engajadores, sejam elas empresas, negócios de impacto, governos ou organizações da sociedade civil.

Estas práticas se reforçam umas às outras e reverberam na atração e retenção de clientes, no posicionamento de marca, no desenvolvimento de talentos e na criação de espaços seguros e transformadores.

Por isso, esses pontos podem servir de convite para nos engajarmos juntos na construção de uma verdadeira gestão do futuro, do futuro que queremos gestar.

Compartilhe nas redes sociais!

Enviar por e-mail


Marcio Jappe

Marcio Jappe, CEO da Semente Negócios.