Os modelos de gestão já não são mais adequados à era na qual vivemos e, principalmente, ao tipo de organizações e mundo que queremos criar. Vivemos em um contexto de muita incerteza e, considerando que não há fórmulas prontas, há muito a aprender ao compartilhar nossas crenças e práticas.
Em primeiro lugar, é importante contextualizar: a incerteza é inerente ao ato de inovar e, cada vez mais, se torna parte integral das nossas vidas. Vivemos uma realidade complexa e ambígua, com transformações cada vez mais velozes e de impacto amplo e escalável.
Planos perfeitos e infalíveis são verdadeiras obras de ficção contemporânea. No fundo, não sabemos o que não sabemos, e a imensidão das possibilidades acerca do que ainda vai surgir beira o infinito. Este contexto gera desafios gigantescos para a gestão e toda uma escola centenária baseada em previsibilidade e controle.
Mais do que nunca, é necessário superar a ideia de gestão como controle para um entendimento da gestão como influência em um contexto:
>> de que pessoas são seres humanos integrais e complexos, não recursos a serem alocados e gerenciados;
>> volumes gigantescos de dados precisam ser transformados em informação, conhecimento e, mais importante, ações concretas de forma priorizada;
>> longo e curto prazo precisam ser combinados, e nisso, visões transformacionais e a necessidade de sobreviver andam de mãos dadas,
>> e ritos de gestão têm que traduzir o propósito e os valores das pessoas e da organização da qual elas fazem parte.
É pouco ou quer mais?
A má notícia é que não há “bala de prata”. Mas a boa é que há uma série de práticas que podem ajudar na transição de controle para contexto. Algumas das quais estamos testando na Semente e achamos que vale a pena replicar:
- Acabar com o microgerenciamento: não se pode esperar que as pessoas expressem o melhor de si e ajam como resolvedores de problemas em um contexto onde não haja autonomia. É preciso que seja possível estabelecer e testar hipóteses, acertar, errar, aprender e melhorar a abordagem com o tempo. Estimular ativamente um ambiente que permita e valorize a autonomia é mais do que necessário, e deve ser acompanhado por uma forte cultura de feedback e do acolhimento das pessoas de forma a quebrar barreiras ilusórias de vida pessoal e profissional.
- Buscar diversidade e exercitar inclusão: além de serem as escolhas corretas do ponto de vista ético, diversos exemplos demonstram que também são boas escolhas para os negócios. Empresas diversas e inclusivas performam melhor. E, não adianta só afirmar que é diverso e ter indicadores estampados na parede, é preciso praticar um olhar desconstruído todos os dias.
- Tomar decisões com base na análise de dados: isso significa coletar dados, filtrar e analisar para transformá-los em informação que geram conhecimento e viram ações que geram resultados e sejam capazes de serem replicadas em processo de forma contínua. Por isso, afirmo, olhar para as pessoas na sua integralidade jamais deve significar menosprezar dados – as duas coisas andam juntas.
- Nutrir um ambiente mais horizontal e menos hierárquico: praticar horizontalidade, além de nutrir liberdade e responsabilidade, também significa envolver as equipes nos processos de construção, execução, avaliação e decisão de forma genuína. Significa também extinguir o autoritarismo e paternalismo na mesma medida. O melhor está nas pessoas não esconderem a sua identidade, em se reconhecerem como elas mesmas e poderem expressar isso naquela organização e com isso, performar melhor e trazer mais abundância para as organizações.
- Centrar nossas organizações ao redor de propósito(s) e valores em comum: uma das heranças positivas da pandemia é o reforço reflexivo sobre a importância de propósitos inspiradores e mobilizadores para pessoas e organizações. Cada vez mais, a prosperidade, perenidade e sobrevivência de organizações depende de propósitos amplos e engajadores, sejam elas empresas, negócios de impacto, governos ou organizações da sociedade civil.
Estas práticas se reforçam umas às outras e reverberam na atração e retenção de clientes, no posicionamento de marca, no desenvolvimento de talentos e na criação de espaços seguros e transformadores.
Por isso, esses pontos podem servir de convite para nos engajarmos juntos na construção de uma verdadeira gestão do futuro, do futuro que queremos gestar.