O setor de tecnologia é hoje o campo da maior disputa por talentos dos últimos tempos, com poucos profissionais qualificados e vagas por preencher que já alcançam as centenas de milhares – e subindo, nos próximos 10 anos, com a previsão do surgimento de cada vez mais especialidades na área. Os gaps nas contratações, contudo, chegam a mais de 30% da demanda (e podem chegar a mais de 70%), segundo levantamento recente da Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ – Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit GmbH), em parceria com o Serviço Nacional da Indústria (SENAI). Não há espaço para erros nos processos de recrutamento e seleção e, no entanto, as falhas nesse sentido ainda contribuem para a defasagem observada.
Em um recorte dessa realidade global, há, como exemplo, o descontentamento de engenheiros de software, que engordaram as estatísticas da evasão de processos seletivos do setor, de acordo com outro relatório recente, intitulado State of Remote Engineering, realizado pela empresa de tecnologia Terminal. No estudo, cerca de 97% desses especialistas afirmam ter se incomodado com algum ponto dos processos vivenciados – 59% mencionaram a quantidade excessiva de entrevistas durante a seleção, enquanto 49% reclamaram da forma genérica com que foram conduzidas. Em função desses incômodos, muitos simplesmente perderam a confiança nas companhias que os selecionavam, ou ficaram em dúvida sobre a continuidade na contratação, até mesmo desistindo do posto de trabalho.
Realidade brasileira e mais erros
Problemas como esses, somados à fuga de talentos para o exterior, além da escassez de profissionais qualificados, dificultam as contratações no país, entende a Tech Recruiter na Supero Outsourcing de TI, Carine de Paiva Farias. “As empresas brasileiras passaram a concorrer com organizações estrangeiras, que pagam em dólar ou euro, moedas valorizadas em relação ao real”, destaca a executiva. Corroborando os dados apresentados na pesquisa da Terminal, a especialista frisa quatro problemas observados no Brasil, que atrapalham o recrutamento e a seleção em TI.
Descrição ruim, genérica ou pouco realista da vaga
“O ideal é mencionar o tamanho da equipe e as tarefas que o candidato irá exercer no seu dia a dia, para que o profissional possa avaliar o tipo de trabalho e os projetos que ele terá que realizar na sua rotina”, explica. Descrições incompletas só atrapalham, diz a executiva. Com a escassez de profissionais qualificados na área, os que atendem os requisitos das vagas têm medo de “ciladas” que representem, num futuro próximo, acúmulo de funções para além do cargo preenchido, com remuneração não condizente com as atividades, ou qualquer cenário bem distante das promessas da seleção.
Desconhecimento da área pelo recrutador
Dominar o segmento, no entanto, “não significa dominar as linguagens de programação, por exemplo, mas conhecer as funções e atribuições de cada cargo dentro do setor e o que a organização e o líder de TI espera de cada um dos profissionais” , explica Carine.
Retorno lento
A empresa não deve demorar em se pronunciar sobre o resultado da seleção, nem arrastar em demasiado o tempo dos processos seletivos, o que também atrasa o “sim” esperado pelo potencial colaborador. ”Profissionais de TI com experiência e qualificados recebem ofertas de trabalho o tempo todo”, destaca a executiva. “Fazer muitas entrevistas na hora do recrutamento é um erro que deve ser evitado.”
Candidato perfeito não existe
Para Carine, a procura por um “candidato ideal” é um erro e defende a busca ativa por profissionais observando seu desempenho no mercado e interesse em novas oportunidades. “Mesmo que já estejam empregados, vale uma abordagem para saber o grau de satisfação e se estão à procura de novas oportunidades”.