Liderança

Líderes e colaboradores podem se beneficiar da comunicação não violenta, diz especialista

Um ponto alto da CNV é a empatia, resgatando a conexão entre as partes, explica a psicóloga e consultora Elaine Martins, da Casa Educação

A reunião de diretoria rolava já há algum tempo com o relato dos responsáveis por áreas. Antes do próximo funcionário falar, o diretor alegou que o tempo já ultrapassara o previsto. “Você pode falar em 10 minutos?” Foi o suficiente para embaralhar a cabeça do expositor. Sentiu-se desprestigiado, desvalorizado. Para Elaine Martins, professora da Casa Educação, a intenção do diretor não foi essa, mas a maneira e as palavras foram suficientes para a queixa. “Isso é uma comunicação agressiva, desconcertante, poderia ser dito de outra forma”, diz ela. Formada em psicologia, hoje professora e consultora, é especialista em Comunicação Não Violenta (CNV).

“Isso é tão importante que ministro curso sobre CNV aberto à participação de todos, mas é fundamental para quem dirige pessoas, e as empresas já incluíram em sua grade de treinamento. O papel do líder é essencialmente saber motivar pessoas. Quanto mais ele souber se comunicar, mais vai obter resultado. É necessária uma boa comunicação. Precisa desenvolver gente, dando feedback, orientando. E é claro que isso também se usa na vida pessoal. Mas para liderança é essencial”, diz ela.

Elaine Martins atuou desde 1986 em recursos humanos de grandes companhias, por 15 anos, e sempre em treinamento, e pode perceber que a comunicação assertiva, como muitos líderes gostam de dizer, acabava inibindo pessoas, cerceando crescimento. “Hoje há mais de 50% das pessoas que pensam em mudar de empresa ou sair por causa do líder. Não se sentem reconhecidas, falam de falta de oportunidade, então esse comportamento inibe profundamente. Vamos lembrar que o papel da liderança é justamente descobrir talentos, observar o outro. O líder tem esse papel, e deve possuir habilidade de saber lidar, ter interesse real por pessoas, querer que todos que estão sob sua liderança sejam ainda melhores”. 

Nos treinamentos, Elaine Martins procura sensibilizar as pessoas, mais do que passar uma técnica, uma metodologia. “A maior parte do tempo do programa é sensibilizar, mostrar como fica totalmente diferente se você mudar a forma de olhar as pessoas. A CNV é entendida como um processo que estabelece conexão consciente através da empatia e compaixão entre os interlocutores. “Transformar relações de dominação e imposição em relações de parceria e cooperação”.

Elaine, da Casa Educação: “No mundo corporativo, há uma crise de conexão, uma péssima comunicação entre colaboradores e seus líderes”

Elaine afirma que é conhecido que o ser humano vive em busca da felicidade. Em uma abordagem da psicologia, a psicologia positiva, encontraram a fórmula para a felicidade. O que é mais importante para a nossa felicidade? “A conexão com outros seres humanos”.

Através das pesquisas, percebeu-se que, quando as pessoas possuem uma   conexão de qualidade nos relacionamentos com a família, amigos e rede de apoio, vivem mais, curam-se mais rápido e apresentam um desempenho no trabalho muito melhor. Isso acabou despertando a atenção do mundo corporativo.

O psicólogo americano Marshall B. Rosenberg criou o conceito de Comunicação Não-Violenta (CNV) no início da década de 70. Em 1984 fundou uma ONG chamada Centro para Comunicação Não-Violenta, que se dedicou à promoção desse processo pelo mundo. Ele é conhecido por implementar uma cultura de paz, seja no âmbito pessoal, seja em áreas de grande tensão, criando habilidades na comunicação para formar conexões de compaixão e resolver conflitos através de diálogos pacíficos, sem julgamentos.

Rosenberg dedicou sua vida a investigar as causas da violência na comunicação e como reduzi-las. Desenvolveu esse modelo com o intuito de apoiar a transformação de conflitos entre as pessoas na sociedade, disseminando habilidades necessárias para relacionamentos com menos julgamento e mais empatia.

Desde que começou a ser desenvolvida, a CNV vem influenciando movimentos sociais, apoiando processos de mediação de conflitos e justiça restaurativa, sendo praticada em empresas, escolas, hospitais, famílias, processos terapêuticos e transformação de conflitos. No Brasil há poucos anos, teve maior ênfase na área médica, hospitais e laboratórios farmacêuticos.

Os grandes hospitais têm trabalhado nisso. Às vezes não usam a expressão CNV, comunicação não violenta, falam em diálogos construtivos. Como criar diálogos construtivos, trabalhar diálogos corajosos em momentos de crise?  O tom de voz, entonação, emoção, expressões faciais e corporais. “É lógico que a comunicação não verbal e as qualidades vocais vão influenciar, mas não é só isso que traz resultados”.

“No mundo corporativo, há uma crise de conexão, uma péssima comunicação entre colaboradores e seus líderes, entre clientes e seus prestadores de serviço. O processo da CNV trata de resgatar a conexão entre as partes, que permite enxergar a realidade em vez de julgar; assumir a responsabilidade para nossos sentimentos ao invés de culpar os outros; enxergar o que nos une, expor nossa vulnerabilidade, escutar para compreender, ao invés de escutar para responder”, acrescenta. 

Mas como praticar uma comunicação não violenta? “Primeiro, a gente começa treinando por áudio. É interessante treinar uma empatia silenciosa. Pode-se fazer isso no momento em que não haja conflito.  No primeiro momento nada impede de se gravar uma negociação com alguém e ouvir novamente para perceber como ocorreu. Uma sugestão interessante é gravar seus argumentos, ouvir melhor os outros. Por isso, antes de entrar na parte técnica no curso, a primeira coisa é ensinar a ouvir melhor. Deve-se sempre se perguntar: será que ouço as pessoas, será que realmente estou interagindo no meu dia-a-dia, me preparando mais para responder do que ouvir o que a outra pessoa está trazendo?

Para Elaine Martins, um ponto alto da CNV é a empatia. E aí vem o exemplo de um clássico de Harvard, Daniel Goleman, autor que tratou da inteligência emocional. Ele diz que a empatia tem três tipos diferentes, que se complementam: cognitiva, a habilidade de entender o ponto de vista de outra pessoa; a emocional, que é sentir o que outra pessoa sente, e o interesse empático, que se trata da habilidade de perceber o que outra pessoa quer de você. 

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