Todo mundo quer ser feliz e há milhares de anos o estudo da felicidade vem sendo questão chave do ser humano. Mas afinal, o que é essa tal felicidade e como estudar algo tão subjetivo e emocional?
Aristóteles em seu livro ‘Ética a Nicômano’, fala que “a felicidade é o sentido e o propósito da vida, o único objetivo e a finalidade da existência humana”. Ou seja, quando buscamos uma relação, sucesso, prosperidade, conforto, poder, na verdade estamos sempre buscando a felicidade como fim.
Para filósofos como Aristóteles e Epicuro é preciso procurar prazer, mas também razão. A felicidade vem então de uma vida hedônica, mas principalmente da eudaimonia, uma vida virtuosa e com significado. Epicuro pregava uma ética da moderação: a prudência e equilíbrio são importantes para uma vida feliz. Viver somente de prazeres não é suficiente.
Sêneca falava da felicidade atrelada a escolhas. É preciso diariamente escolher hábitos e atitudes que nos tragam bem-estar e também sentido à vida. Viktor Frankl, neuropsiquiatra austríaco sobrevivente de campos de concentrações, reforça a importância da busca por uma vida com sentido para uma vida feliz.
Foco em florescer
Nas últimas décadas, com evolução da neurociência e da psicologia, o estudo da felicidade se tornou mais científico. Pesquisadores começaram a sair da subjetividade do tema para entender o que de fato fazia uma pessoa mais feliz do que outra. Seria uma determinação genética? Ou por causa das circunstâncias externas da nossa vida? Assim surge, nas últimas décadas, a psicologia positiva, que vem estudando aspectos de uma vida saudável, tirando o foco tradicional da psicologia de somente estudar as doenças.
Se todo mundo quer ser feliz, por que só falamos de doenças e não estudamos o que faz o ser humano florescer? A partir desses questionamentos surgem grandes pesquisadores como Martin Seligman, Mihaly Csikszentmihalyi, Tal Ben-Shahar, Sonja Lyubomirsky, Ed Diener, entre outros.
Uma das grandes pesquisadoras do tema, a Dra. Sonja Lyubomirsky junto com outros pesquisadores, depois de décadas de estudos e pesquisas, conseguiu avaliar aspectos que determinam a nossa felicidade. Em seus estudos ela concluiu que grande parte da nossa felicidade vem de uma predisposição genética, um set point – ponto de partida da felicidade que todos nós temos. Um segundo aspecto, que determina uma parte pequena da nossa felicidade, são as circunstâncias externas da nossa vida.
Atividades intencionais
O terceiro aspecto e a notícia mais importante para nós é que os pesquisadores descobriram que uma parte significativa vem das nossas atividades intencionais. Ou seja, se nos dedicarmos e nos esforçarmos com escolhas e hábitos diários podemos sim ter uma vida mais feliz, mesmo com os desafios do mundo atual e das circunstâncias externas.
Claro que essa análise traz uma visão privilegiada, pois de fato, pessoas que não têm as necessidades básicas atendidas têm mais chances de passarem por desafios que tragam mais infelicidade para suas vidas. Mas a análise principal, é que para a maioria das pessoas que têm as necessidades básicas atendidas é preciso entender que para ser feliz é necessário autoconhecimento, autorresponsabilidade e disciplina.
Martin Seligman e o PERMA: os cinco pilares da Psicologia Positiva
E que atividades podem, então, nos trazer mais felicidade? Martin Seligman, pai da psicologia positiva criou um modelo de cinco pilares chamado PERMA, que mensuram nosso bem-estar subjetivo e nos apresentam um caminho de quais são as atividades intencionais que nos trazem uma vida mais plena e realizada.
O primeiro pilar do PERMA são as emoções positivas, que é sobre termos uma vida agradável. Realmente, uma parte da nossa felicidade vem dessa vida de busca pelos prazeres, afinal diversos estudos científicos comprovam que as experiências que nos trazem prazer, como passear, namorar, estar com amigos, meditar, rir, produzem um efeito positivo em nosso cérebro, o que aumenta, então, nosso bom humor e nosso estado de bem-estar.
O segundo pilar é o estado de flow. Quando realizamos ações que nos sentimos engajados e não percebemos o tempo passar. O estado de flow vem quando buscamos atividades que nos desafiem, mas que estejam dentro de nossas capacidades. Se são muito simples, sem desafios, nos entediamos. E são muito difíceis nos trazem ansiedade. Precisamos então de autoconhecimento para saber o que de fato amamos fazer e em que somos bons.
O terceiro pilar são as relações positivas. Ter pessoas com as quais nos preocupamos e que se preocupam conosco e com as quais compartilhamos a vida. Vai além de uma simples amizade. É uma forma de nos sentirmos seguros neste mundo inseguro.
O quarto pilar fala de significado. Todos precisamos de um chamado, uma missão na vida, um porquê.
Por fim, o quinto pilar são as realizações. De nada adianta sonhar e idealizar novas atividades e não realizá-las.
Simplicidade
A verdade é que felicidade é simples. Tem a ver com dia a dia, com sermos verdadeiros conosco mesmos e nos conhecermos. Tem a ver com termos o que sonhar, fazermos atos de bondade constantes, sermos mais positivos, cuidarmos do nosso emocional, espiritual, intelectual, físico e das nossas relações.
O mundo não será perfeito nunca. É um mundo ansioso, frágil, inseguro. A vida trará desafios. As relações não são fáceis. E nós, como seres humanos, temos desafios emocionais. Temos um viés negativo, uma mente divagante, temos medos e ansiedades. Mas podemos buscar autoconhecimento para olharmos tudo isso e escolhermos sermos felizes. Vivermos o aqui agora, com conexões profundas, emoções positivas e claro, uma jornada com significado. Depende de nós.