Quando o matemático grego Arquimedes de Siracusa saiu correndo da banheira gritando “Eureka!” — que em grego significa “descobri” —, ele não estava só celebrando um momento de inspiração. Antes do grito, ele precisou organizar as ideias, observar o todo e testar hipóteses, ainda que mentalmente. Em gestão de pessoas, a inovação segue o mesmo princípio. Ferramentas como o Duplo Diamante e a Matriz CSD, somadas a tecnologias inteligentes, mostram que transformar ideias em soluções vai muito além da criatividade. Porque inovação com “i” maiúsculo não é só um lampejo genial, mas o resultado de um RH estratégico, que une planejamento, metodologias ágeis e tecnologia para fazer a diferença.
Uma questão de método
Desafios complexos pedem soluções estruturadas. E o RH, no papel de agente transformador, que instiga e promove mudanças, tem algumas metodologias na manga para descomplicar a concepção e aplicação de ideias – afinal, sem experimentação não há inovação possível. Ferramentas como o Duplo Diamante e a Matriz CSD (Certezas, Suposições e Dúvidas) não só ajudam a organizar o pensamento, mas também criam uma base sólida para enfrentar todos os tipos de desafios – desde engajamento até a modernização de processos. Basicamente, agir com método garante que todos compreendam o que está acontecendo, definam problemas com clareza e pensem coletivamente em soluções.
Já falamos disso em uma matéria anterior sobre Design Thinking, lembram? Lá, destacamos como essas metodologias ampliam e afunilam possibilidades para construir soluções mais assertivas e alinhadas às expectativas — tanto dos colaboradores quanto da organização. E é exatamente isso que o Duplo Diamante e a Matriz CSD fazem. O primeiro, com suas quatro etapas — descobrir, definir, desenvolver e entregar —, funciona como uma bússola que guia o processo criativo. A segunda, como um filtro inteligente, separa o que você já sabe (Certezas), o que ainda precisa validar (Suposições) e o que está no campo das incógnitas (Dúvidas).
Coletividade e empatia
É dessa forma que o processo criativo ganha corpo e deixa de ser uma habilidade atribuída apenas a “pessoas criativas”, tornando-se algo compartilhado e vivido por todos. Segundo Ana Navarro e Mariana Peixoto, gerente sênior e diretora de Consultoria na Accenture Brasil, respectivamente, ferramentas como essas ajudam o RH a adotar uma abordagem mais humanizada, que prioriza a empatia e a cocriação. “As metodologias ágeis podem ajudar o RH a compreender melhor a linguagem e as necessidades reais dos colaboradores, adotando uma perspectiva centrada no colaborador em vez de uma visão técnica ou interna de RH”, explica Ana.
Práticas ágeis e o mapeamento dos momentos que realmente importam para os colaboradores também são, segundo Ana, estratégias poderosas para desenvolver ideias inovadoras. “Práticas ágeis permitem respostas rápidas e flexíveis, enquanto o mapeamento ajuda a entender e melhorar a experiência dos colaboradores em cada etapa de sua jornada na empresa”, reforça. Pense, por exemplo, no onboarding: com essas ferramentas, o RH pode mapear desde a ansiedade do primeiro dia até os momentos mais críticos de integração, criando uma experiência que combina eficiência e acolhimento, ao mesmo tempo em que reflete os valores da organização.
Nesse contexto, Mariana Peixoto destaca que a aplicação dessas metodologias nas empresas traz ao RH benefícios como a personalização e otimização das experiências oferecidas aos colaboradores – isso sem falar na própria inovação. Ainda tomando como exemplo o onboarding, com essas ferramentas em mãos, é possível criar experiências mais alinhadas às expectativas das pessoas, tornando a chegada de novos talentos mais acolhedora. No caso de programas de diversidade, Mariana aponta como as metodologias podem ser usadas para cocriação e priorização de iniciativas inclusivas, garantindo que essas ações sejam construídas de forma colaborativa e estratégica. “Até no desenvolvimento de carreiras, essas metodologias estruturadas podem, por exemplo, ajudar a identificar habilidades críticas ou mesmo fortalezas e áreas de desenvolvimento”, explica.
O RH como facilitador
Em outras palavras, essas metodologias ágeis e estruturadas permitem ao RH ir além da execução de processos, atuando como um verdadeiro facilitador da inovação. As incertezas dão lugar a hipóteses bem embasadas, que permitem compreender de forma assertiva as necessidades da equipe, analisar as possibilidades com precisão e validar as melhores soluções. O impacto é claro: esforços bem direcionados e processos que realmente funcionam. “Essas metodologias tornam o RH mais proativo e estratégico, criando soluções que realmente fazem a diferença tanto para os colaboradores quanto para a empresa”, complementa Ana.
Dentro da Accenture, essas metodologias são usadas para organizar o pensamento, experimentar e evoluir. Segundo Mariana elas são essenciais em projetos de transformação de RH, onde priorizar iniciativas é decisivo para a construção de um plano anual ou para identificar ineficiências e oportunidades em cada processo. Além disso, são amplamente aplicadas na definição da jornada do colaborador, permitindo que o RH analise “os momentos que importam e reflita sobre como entregar a melhor experiência”.
Alinhamento de expectativas
Mas, afinal, o que torna uma ideia ou projeto bem-sucedido em gestão de pessoas? Para Tavane Gurdos, diretora geral da Alura para Empresas, a resposta está na estrutura e no alinhamento com os objetivos organizacionais. “Quanto mais estruturado for o processo e mais conectado com o negócio e com as expectativas dos talentos, melhor será a experiência e o desenvolvimento das pessoas”, resume a executiva. Isso, segundo ela, é ainda mais crucial no contexto atual, onde as transformações ocorrem em um piscar de olhos, pressionando as empresas a inovarem continuamente. E, como ela bem diz, “a inovação passa não apenas pela tecnologia, mas por uma mudança cultural e pela necessidade de novas competências”.
Dessa forma, fica evidente que metodologias claras e bem aplicadas são capazes de potencializar o impacto do RH não apenas no campo da inovação, mas em relação ao próprio desenvolvimento humano. Tavane ressalta que aprender na prática, com exemplos reais, faz toda a diferença nesse cenário, por exemplo. “A modernização de processos também proporciona mais celeridade, redução de custos, maior abrangência e melhor acessibilidade.”
Meio ou fim?
No entanto, a especialista faz um alerta importante: tecnologias inteligentes e metodologias ágeis são apenas ferramentas, não o objetivo final. “Cabe ao RH entender onde elas podem ser aplicadas para tornar os times mais conectados e estratégicos”, explica Tavane, reforçando que o uso intencional dessas ferramentas é o que garante resultados realmente transformadores. O segredo está em utilizá-las com propósito, ainda mais se tratando das digitais. Dados, por si só, não resolvem problemas, mas um RH estratégico sabe exatamente como conectá-los para criar soluções de valor. “Insights e dados devem ser grandes aliados do RH na gestão de pessoas em diversas frentes. E a inteligência artificial pode ser uma grande aliada para reunir esses dados”, aponta a diretora geral da Alura para Empresas.
Na prática, isso significa, por exemplo, personalizar programas de aprendizado e desenvolvimento com base nas reais necessidades dos times. “Recursos de IA podem tirar dúvidas, interagir com a pessoa colaboradora e impactar de maneira positiva a experiência, refletindo diretamente no engajamento dos times”, explica. Além disso, a IA ajuda a estruturar dados, priorizar ações e automatizar processos, tornando o RH mais eficiente e estratégico. “Toda a parte de insights é importante para focar nos principais conteúdos, ajudando o RH a ser mais preciso nas suas escolhas e mais alinhado aos seus objetivos estratégicos”, reforça.
Munidas de dados e metodologias para organizar o processo de inovação, as organizações e seus RH conseguem estruturar estratégias de desenvolvimento de pessoas de forma muito mais eficiente. Para Tavane Gurdos, o uso dessas ferramentas no dia a dia impacta não apenas a produtividade, mas também a experiência do profissional. “Com a tecnologia é possível escalar processos, mas, acima de tudo, tornar a área mais estratégica. Um RH cada vez mais tech e data driven passa pelas inovações trazidas pela IA”, ressalta.
Inovação que conecta
No fim das contas, quando o RH atua de forma estratégica na gestão do capital humano, os benefícios são mútuos: os talentos têm suas necessidades atendidas e reconhecidas, enquanto as empresas colhem o retorno de investimentos bem direcionados. Mas, afinal, o que realmente impulsiona a inovação dentro das organizações? A resposta é simples: um pouco de tudo, como explica Tavane Gurdos. “A inovação acontece de diversas maneiras, estimulada por novas tecnologias, novos modelos de negócio e até pela criação de novas experiências”, destaca.
Para ela, o segredo está em adotar uma mentalidade de crescimento, que mantém o olhar atento às oportunidades e incentiva a experimentação. Isso passa por construir uma cultura de aprendizado contínuo e criar um ambiente que favoreça o teste de novas ideias. “É importante guiar a empresa toda na mesma direção. Cada área terá seu ritmo, mas é preciso que todos avancem. E, certamente, contar com o RH como incentivador pode trazer resultados ainda melhores”, conclui a porta-voz da Alura para Empresas.
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