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Entre o crachá e a vida real: o desafio de integrar propósito à cultura

Como transformar a interseção entre cultura e propósito em algo realmente vivo, pulsante e estratégico dentro das organizações?

de Fabiana Galetol em 17 de abril de 2025
Kuprevitch, via Freepik.com

Já não é de hoje que o tema “propósito” ganhou status de palavra mágica nos corredores corporativos. Mas a verdade é que, na prática, o alinhamento entre o propósito da empresa e o propósito de vida dos colaboradores ainda é um terreno em construção — e, para prosperar, precisa ser mais do que uma estrutura inacabada sufocada por metas trimestrais e processos engessados.

A pergunta que fica é: como transformar essa interseção entre cultura e propósito em algo realmente vivo, pulsante e estratégico dentro das organizações? Como garantir que o ambiente de trabalho favoreça a conexão entre “quem sou eu” e “o que faço todos os dias”?

A resposta não cabe em uma planilha de Excel. Mas começa por algo essencial: escuta genuína.

Construindo conexões autênticas

Cada pessoa é um universo. E cada universo precisa de estímulos diferentes para florescer. Enquanto um colaborador se sente realizado ao conseguir tempo para praticar atividades com os filhos, o outro busca desenvolvimento intelectual, ou até apoio psicológico para atravessar fases difíceis. O ponto em comum entre todos esses mundos particulares é o desejo por pertencimento e coerência: o que faço tem que fazer sentido para quem eu sou.

Nesse contexto, os benefícios podem atuar como facilitadores, criando um ambiente de trabalho mais alinhado às individualidades. Benefícios flexíveis, por exemplo, representam um passo importante na valorização da diversidade de necessidades. Mas, para que sejam eficazes, precisam estar inseridos em uma cultura organizacional que compreenda e respeite essas escolhas, garantindo que não sejam apenas uma oferta pontual, mas parte de uma estratégia mais ampla de engajamento e pertencimento.

Cultura organizacional: discurso x prática

Um estudo recente do Gartner lança luz sobre um ponto crucial dessa conversa: 82% dos profissionais afirmam ser importante que a empresa os enxergue como pessoas — não apenas como colaboradores. No entanto, apenas 45% sentem que isso de fato acontece. Essa discrepância escancara uma lacuna de percepção e cuidado que vai muito além do discurso. É um chamado claro para que as empresas revisitem suas práticas, relações e formas de reconhecimento — promovendo uma cultura que acolha a complexidade humana em todas as suas dimensões de forma autêntica.

Propósito não se traduz em um slogan de parede, mas em atitudes diárias. Benefícios de bem-estar não têm valor se a cultura incentiva jornadas exaustivas. Falar em equilíbrio perde sentido se a liderança valoriza respostas a e-mails de madrugada. O desafio, portanto, está em alinhar discurso e prática, garantindo que os valores organizacionais se reflitam no dia a dia da empresa.

A coerência cultural precisa ser uma pauta executiva, porque é ela quem permite que o propósito vire uma bússola.

Protagonismo é parte do pacote

Mas também é válido destacar que: é injusto — e contraproducente — colocar todo o peso do alinhamento nas costas das empresas. Propósito também é uma construção pessoal. É preciso que os colaboradores reflitam sobre suas próprias direções profissionais e tenham coragem de comunicá-las e de buscar ativamente o encaixe entre o que acreditam e o que constroem profissionalmente. Isso pode significar sugerir novas práticas, novos formatos, ou até realinhar sua atuação com mais intencionalidade.

A cultura do protagonismo não pode ser unilateral. Quando o colaborador também assume o compromisso de alinhar propósito e prática, a conversa sobe de nível. E a empresa ganha um aliado na construção de um ambiente mais autêntico e produtivo.

Talvez o maior desafio das organizações seja justamente parar de tentar “entregar propósito” como se fosse um produto. Propósito é experiência. É relação. É percepção de impacto. As empresas que entenderem isso vão transformar suas iniciativas e benefícios corporativos em estratégias de pertencimento reais e sustentáveis. Nesse processo, vão perceber que propósito compartilhado não é só uma utopia geracional — é uma vantagem competitiva poderosa.

Se o trabalho é o lugar onde passamos grande parte da vida, que ele nos devolva sentido – promovendo conexões genuínas, valores compartilhados e ambientes onde cada profissional possa se reconhecer. Porque, no fim, o melhor RH não é aquele que apenas oferece vantagens ou implementa políticas — mas o que ajuda cada pessoa a encontrar seu lugar no todo.

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Fabiana Galetol

Diretora Executiva de Pessoas e Responsabilidade Social Corporativa da Pluxee no Brasil. A executiva acumula passagens pelas áreas de RH, comunicação interna e externa, gestão de marca/publicidade e canais de distribuição, com vivência internacional nos Estados Unidos e países da América Latina. Possui vasta experiência em negócios, direcionamento estratégico, aconselhamento e planejamento de gestão de pessoas. Antes da Pluxee, atuou como Head de Comunicação na IBM Brasil, empresa onde permaneceu por mais de 29 anos. Formada em Economia pela Universidade Federal Fluminense, Fabiana também é pós-graduada em Comércio Internacional pela Fundação Getúlio Vargas e Marketing pelo IBMEC. É mentora voluntária na Leading.Zone, startup de desenvolvimento humano.